Estórias da T-68

domingo, 16 de agosto de 2009

Aos colegas da T68 e Internautas

Ocorreu um problema com o Blog.

Já recuperamos todos os textos.


Agora, estamos inserindo a galeria de fotos.

Solicitamos a compreensão de todos.

A comissão


ESTÓRIAS DA T68

BLOG OFICIAL

TURMA DE ENGENHARIA (CIVIL E MECÂNICA)

DA ESCOLA DE ENGENHARIA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

ANO DE FORMATURA: 1968

O ANO QUE NÃO ACABOU




AGRADECIMENTO

Agradecemos aos colegas que enviaram fotos, textos, sugestões e críticas para a viabilização do Blog e, consequentemente, do texto distribuído no nosso encontro dos 40 anos, juntamente com uma apresentação das fotos em Power Point.

AOS QUE NÃO ESPERARAM A FESTA

Nossas homenagens aos nossos queridos amigos que se apressaram e nos deixaram antes que pudéssemos, todos juntos, comemorar nossos 40 anos de formatura.


Agamenon Nogueira Nobre
Antônio Oliveira Paiva
Bartolomeu Pessoa Cabral
Cláudio Antônio Lôbo Ponte
Gilberto Muniz de Holanda
José Wanderley Pontes
Samir José Néhme Hiluy


I – INTRODUÇÃO

Sem dúvida alguma, a turma de Engenharia da Universidade Federal do Ceará, que concluiu o curso em 1968, marcou época. Não só pelo ano em si, que ficou para a história da humanidade pelo que de revolucionário e contestador, mas por uma série de outros fatores.
Foi a primeira turma que preencheu todas as vagas disponibilizadas pela Escola – noventa – como também, aprovou um número maior. Por determinação do Governo, todos os aprovados foram matriculados.
Até então, a Escola de Engenharia do Ceará caracterizava-se pelo elitismo. Eram turmas pequenas, pois o vestibular reprovava em massa. No ano de 1963, por exemplo, apenas 24 vestibulandos foram aprovados. Houve uma segunda chamada e todos foram reprovados também.
Então, essa característica de sempre aprovar um número reduzido de alunos, criou um “quê” de elitismo na Escola. Somente alguns “escolhidos” podiam ser alunos da Escola de Engenharia.
Como eram turmas reduzidas, nas quais alunos e professores se conheciam, instituíram um Código de Honra. Estabelecia que os trabalhos escolares fossem feitos sem o uso da tradicional “cola” ou “pesca”. Este fato serviu para criar, no seio da Universidade, a tradição da Escola. Seus alunos se consideravam acima de tudo e de todos.
O Governo Federal buscou indagar as razões pelas quais as vagas na Universidade não estavam sendo preenchidas. Concluiu, facilmente, que era o despreparo propiciado pelo Curso Secundário. Então, o Governo determinou que as escolas técnicas (Engenharia e Agronomia) instituíssem cursos preparatórios. Seriam ministrados nas próprias Escolas e por seus professores. Haveria um exame de seleção e aos aprovados seriam propiciadas bolsas (com recursos da Sudene), possibilitando a dedicação integral.
Constituiu-se numa verdadeira revolução, não só pelo método de ensino empregado, como a democratização da possibilidade de acesso à Universidade. Na seleção dava-se prioridade àqueles de média e baixa renda, pois as classes mais abastadas conseguiam outros meios de se capacitar ao vestibular.
É fácil imaginar a preocupação que grassou entre aqueles que faziam a escola, em 1964, com a enxurrada de novos alunos. Principalmente pelo fato de que o número de aprovados deveria ser igual ou superior ao de antigos alunos.
Qual seria a principal preocupação? Diziam:
“Vão acabar com o Código de Honra e o nível dos formandos vai cair bruscamente. A Escola vai perder o prestigio tão arduamente conquistado.”
Nenhum desses temores prevaleceu. Era uma turma muito bem preparada, tanto pelo Cursinho da Sudene, como de outros cursos preparatórios existentes. Assim, como uma das primeiras atividades escolares, foi feito o solene juramento, de cada um, do Código de Honra. Aliás, essa tradição foi preservada, orgulhosamente, por todos nós, durante os cinco anos da vida escolar.
O que marcou profundamente a nossa turma foram dois fatos históricos. Um, na nossa chegada, e o outro na nossa saída da Escola. Fomos recepcionados pelo golpe militar de 1º de abril e, a nossa despedida foi com a decretação do AI-5, em dezembro de 1968.
Mas, já são passados 40 anos da nossa formatura – como o tempo passa rápido! É lamentável que sete dos nossos colegas já estão em outro plano: Samir, Muniz, Agamenon, Wanderley, Tom, Paiva e Bartolomeu.
Como uma forma de preservar essa amizade, consolidada nos bancos escolares, resolvemos rememorar nossos velhos tempos, através de “causos” e imagens fotográficas. Tudo está registrado neste Blog, que vai nos acompanhar de agora em diante.
Aqueles jovens que ingressaram na Escola de Engenharia no ano de 1964, vivenciaram um período negro e histórico do nosso país. Seus cabelos pratearam, porém preservaram o muito da capacidade de sonhar e a mesma jovialidade e o espírito irreverente, como pode ser lido e visto adiante.
Finalizando, dejamos expressar um sentimento geral de reconhecimento e de gratidão ao nosso colega Cleto Prata Crisóstomo, que desde 1964 nos “adotou” e cuida da nossa turma. Graças a ele foi possível, em 1998, colarmos grau, solenemente, o que nos foi negado pela ditadura. E, a cada ano, organiza os tradicionais jantares de confraternização de fim de ano.



Este desenho, do convite de formatura da Civil, foi elaborado pelo, então, estudante de Arquitetura, hoje renomado Arquiteto e mais famoso ainda compositor de MPB, Fausto Nilo.
Fausto, ladeado do Cleto e Benedito, recebendo uma réplica do desenho, 40 anos depois.

Acima, o desenho do convite de formatura da Mecânica.

II - O CURSINHO DA SUDENE

POR QUE FOI CRIADO E COMO FUNCIONAVA O CURSINHO DA SUDENE


Benedito F. Oliveira



Para muitos de nós que comemoramos esses 40 anos de formatura há o inevitável e saudoso sentimento que tudo começou no Cursinho da Sudene. A experiência de convivência fraterna, de ensino avançado e de aprendizado de cidadania nos parece hoje, passado todo esse tempo, algo extremamente moderno e atual. Poucas iniciativas nesse pais conseguiram igualar aquela da Sudene, mesmo hoje, quando se discute a toda hora a qualidade do ensino público, a necessidade de sua universalização e a adoção, nem sempre bem aceita, de medidas afirmativas, como as cotas por etnia ou por classe social. Arrisco-me a dizer que nunca se repetiu essa experiência, principalmente por conta do arrojo dos seus critérios de admissão e permanência no curso.
Tenho comigo guardado algum material do Cursinho da Sudene e, dentre ele, descobri um artigo do Dr. Alexandre Diógenes, para circulação interna, onde ele consegue fazer um feliz resumo das idéias que deram origem ao Curso e que justificavam os métodos de seu funcionamento.
Segue adiante esse artigo. Deliciem-se relembrando como éramos bem tratados e como era luminoso o caminho que se abria para todos nós.

INSTRUÇÃO NÚMERO 1 PARA O CORPO DISCENTE


Prof. Alexandre D. V. Diógenes
Diretor de Estudos



1. O IDEAL DA SUDENE

O Programa de Ensino Técnico de Nível Superior da Sudene acentua a existência de um desequilíbrio entre a oferta insuficiente de pessoal técnico de nível superior e a sua demanda, caracterizando-se com um dos obstáculos à execução de programas de desenvolvimento para a região

Ademais, esta oferta insuficiente é agravada em alguns casos pela falta de aproveitamento das vagas existentes, causada pelo baixo índice de aprovação nos exames vestibulares, ocorrendo estes casos sobretudo em setores em que mais se faz sentir a carência de técnicos. Por outro lado, uma larga faixa da população escolar que concluiu o curso médio se vê impossibilitada, por insuficiência de recursos financeiros, de freqüentar a Universidade ou se vê obrigada a trabalhar para custear seus próprios estudos.

A compreensão destes problemas levou a Sudene a elaborar um Programa de Preparação de candidatos para determinadas Unidades Universitárias coordenado com um Programa de Bolsas.



Os Cursos Pré-Vestibulares

A urgência em iniciar o programa de melhoria de qualificação dos candidatos às Escolas Superiores de Agronomia, Veterinária e Engenharia levou a Sudene a considerar, como medida de caráter transitório, a instalação de cursos pré-vestibulares.

Estes cursos deverão ter basicamente a seguinte estrutura:

Um Diretor, encarregado da supervisão geral e da coordenação executiva que será automaticamente o Diretor da Faculdade onde se realize o Curso ou professor da mesma por ele indicado (Prof. Humberto Santana, indicação do Diretor da EEUFC.

Diretor de Estudos, que será um professor encarregado do acompanhamento dos alunos, e inclusive da análise do rendimento escolar. (Prof. Alexandre D. V. Diógenes)

Professores, que deverão ser recrutados dentre profissionais de qua1ificação comprovada, exigindo-se título universitário e alguma experiência no magistério de nível médio.

Escolas Participantes

Participarão do Programa as seguintes unidades universitárias:

· Escola de Engenharia da Universidade do Ceará (60 bolsas)
· Escola de Agronomia da Universidade do Ceará (60 bolsas)
· Escola de Agronomia do Nordeste (20 bolsas).
· Escola de Engenharia da Universidade do Recife (80 bolsas).
· Escolas Superiores de Agronomia e Veterinária da Universidade Rural de Pernambuco (120 bolsas)
· Escola de Medicina Veterinária da Bahia (40 bolsas).
· Escola Politécnica da Universidade da Bahia (60 bolsas.
· Escola Agronômica da Bahia (60 bolsas).


2. O NOSSO CURSO E SUA IMPORTÂNCIA

2.1 - A urgente necessidade de formar técnicos para o país, particularmente para o Nordeste, é que motivou a Sudene promover convênios com as Universidades do Nordeste, dentre as quais, a do Ceará. Particularmente no setor de Engenharia, onde a escassez de técnicos é alarmante, este convenio foi recebido com grande simpatia pela EEUFC, não só pelo aspecto educacional como também pelo aspecto sócio-econômico.

2.2 - O convênio vai operar no sentido de reduzir um dos maiores obstáculos que vem encontrando as escolas superiores, à saber, o desnível existente entre o aprendizado oferecido pelo ensino secundário e o que é exigido para o ingresso naquelas escolas. Esse obstáculo vem sendo um ponto de estrangulamento à formação de técnicos que por sua vez implica em um outro estrangulamento de ordem e econômica inerente ao desenvolvimento regional e nacional. A execução desse convênio tem, portanto, um significado muito mais amplo, porque econômico, do que a primeira vista possa parecer. Por outro lado, com a distribuição de bolsas de estudo feita a elementos selecionados segundo a condição econômica, os conhecimentos gerais e a aptidão, esse convênio traz consigo um outro aspecto de relevante importância, a saber, o social. Constitui desta forma, um primeiro passo, pequeno, mas significativo, em favor da solução do triste problema dos que sendo capazes, não podem, entretanto estudar. A oportunidade de aprender, como se sabe, está penosamente vinculada à condição econômica, isto é, ao poder de pagar aulas, de comprar livros, de alimentar-se etc.

2.3 Aspectos como os acima descritos, dentre muitos outros que se pode enumerar, condicionaram uma atitude acolhedora por parte da EEUFC ao referido programa mormente porque, esta Escola, pouco tempo antes, havia experimentado um desanimador resultado no Vestibular de 1963.

2.4 Procedida a seleção nos estados do Maranhão, Ceará e Piauí, a Sudene designou os aprovados com bolsa (73 bolsistas) dos quais 8 (oito) do Maranhão e 6 (seis) do Piauí, e mais outros 47 não bolsistas, num total de 120 alunos. Esta cifra havia sido elevada até esse ponto pela própria EEUFC mesmo desafiando os poucos recursos existentes para esse fim. Em aditamento a essa medida os próprios professores que compuseram o atual corpo docente, acharam de dilatar mais ainda aquele número, homologando o aproveitamento de mais 13 estudantes que haviam sido aprovados e não classificados. Essa atitude dos professores, acarretando para si esse trabalho adicional, bem mostra como o ideal ao lado de uma fundamentada compreensão pode suplantar a conveniência pessoal.

2.5 A formação desse corpo docente esteve baseada em consultas feitas aos departamentos da EEUFC mais vinculados ao ensino das matérias exigidas. No caso das línguas (Português e Inglês) essas consultas foram dirigidas a órgãos competentes para esse fim. Conseguiu-se dessa forma um corpo de professores de elevado gabarito que deram a primeira amostra do desejo de ajudar, na própria ocasião em que aceitaram o pesado encargo, visto que todos são profissionais bastante solicitados.
· Álgebra - Edilson Queiroz (Hidráulica,EEUFC) e Joaquim Bento Filho (Inst. Matemática)
· Geometria - Américo Peixoto (Astronomia,EEUFC)
· Física – Rdo. Alberto Normando (Instituto de Física)
· Química - Milton Ferreira (Física 11, EEUFC)
· Português - Antônio Pessoa Pereira e Carlos D'Alge
· Inglês - Abelardo F. Bezerra.

Todos os professores do Cursinho da Sudene com o Representante da Reitoria, o Diretor da Escola de Engenharia e os Coordenadores. A foto foi colhida na solenidade do encerramento do Curso, pouco antes do Vestibular.
3. NOSSOS CRITÉRIOS PRELIMINARES

Deixando inicialmente de lado o que se refere a tarefa administrativa propriamente dita, passamos a nos situar nos critérios que orientam a tarefa de maior volume e significado: o trabalho dos professores e o trabalho dos alunos. Nesse particular e no espírito de como obter o maior proveito do trabalho dentro de nossas possibilidades julgamos necessário:

1) Estabelecer uma distribuição de tempo, ficando esclarecido, desta forma, o grau de utilização ou de importância que pesaria sobre cada matéria com vistas, é claro, a consultas feitas aos órgãos competentes da EEUFC.

2) Adoção de medidas para a fase inicial do curso, a fim de reduzir ao máximo as causas de desajustamento dos alunos, a exemplo das mudanças de hábitos, de estado, de heterogeneidade, incompreensões diversas etc. Para esse mister foram adotadas:

a) fase de uniformização ou fase de adaptação Essa medida foi lembrada tendo em vista o possível desajustamento por parte de estudantes (principalmente os que não residem em Fortaleza) e também para permitir, tanto quanto possível, uma homogeneização inicial de conhecimentos.

b) aproveitamento dessa fase inicial de adaptação para: primeiro, permitir maior conhecimento do professor, de seus alunos, de suas possibilidades etc; segundo, desenvolver o maior grau de motivação dos estudantes para o trabalho que terão durante o curso.

c) desenvolver no aluno a rapidez mental, a técnica de estudo, e a organização educacional (inclusive com vistas à realização de provas).

3) Adoção de medidas para as fases subseqüentes à inicial, com o objetivo de experimentar normas definidoras do funcionamento escolar.

a) aulas de recapitulação, ao fim de cada unidade didática, para que o aluno possa melhor sedimentar a visão de conjunto do assunto estudado.

b) elevado grau de exigência, a fim de eliminar qualquer capacidade ociosa do aprendizado. Prevê-se, nesse item, elevado número de provas e trabalhos, como também o desenvolvimento dos cursos buscando o rendimento máximo dos alunos. Ficam igualmente previstos, primeiro, o maior número de notas representativas de cada unidade didática, segundo, reunião dos professores com a finalidade de proceder periodicamente a avaliação dos resultados. Os critérios adotados de como exigir, constituem um capítulo à parte, adiante descrito neste documento.

c) desenvolvimento de programas sobre a Realidade Brasileira, a fim de procurar sanar essa enorme deficiência de nossos cursos secundários que fornecem um ensino que, por ser desvinculado aos aspectos gerais da realidade nacional, é incapaz de condicionar o estudante a uma cultura mínima necessária a todo cidadão brasileiro. A fim de atender a essa necessidade proceder-se-á a uma programação mediante reuniões futuras.

4) Adoção de um sistema de Controle do Aprendizado, de cunho estatístico para fornecer subsídios orientadores quanto o rendimento global do aprendizado, quanto o rendimento individual de cada aluno, como também permitir uma maior lógica para o tratamento dos ajustes que se fizerem necessários no decorrer do curso.


4. CONCLUSÕES

Com o prosseguimento paulatino das nossas atividades, somos levados a crer que o nosso curso desenvolver-se-á dia a dia de forma mais promissora. O esboço estrutural já exposto nos capítulos anteriores não pode e não deve assumir qualquer caráter estático.

Teremos sempre de estar atentos aos reajustes e inovações que se fizerem necessários durante o curso. Nesse sentido é que trabalhou e continua trabalhando o Conselho de Professores, agora ajudado pelo Conselho de Representantes que valiosa cooperação tem prestado em múltiplos aspectos.

Pelo que já se fez, temos razões para adotarmos uma atitude otimista quanto aos resultados finais, mercê do perfeito entendimento e da vontade de trabalhar que vem demonstrando o corpo docente e o corpo discente deste curso.

Curso da Sudene, Diretoria de Estudos, Agosto de 1963

GALERIA DE FOTOS DO CURSINHO DA SUDENE











III – A PALAVRA DOS MESTRES

Por ocasião das festividades dos nossos 40 anos de formados, tivemos quatro pronunciamentos de professores.

O Dr. Alexandre Diógenes enviou uma mensagem, entusiasmado com a leitura do Blog.

Os professores Neudon Braga e Hugo Alcântara nos enviaram o texto dos seus pronunciamentos, feitos na solenidade da Reitoria.

Infelizmente, não temos o registro do pronunciamento do Dr. Milton Ferreira de Sousa, o Miltoff. Foi, na verdade uma verdadeira aula. Falou-nos dos trabalhos científicos que está executando e da sua aplicação prática para beneficio do país. O entusiasmo era o mesmo de mais de quarenta atrás.



Dr. Milton proferindo a sua verdadeira aula.


a) Mensagem do Dr. Alexandre Diógenes



Dr. Alexandre, recebendo do Hypérides a placa do nosso reconhecimento.



A placa do Dr. Alexandre

Estimados formandos de 1968

Estou encantado com a leitura do blog. Isso sim, é um registro sincero, sem formalidades, autêntico e ... muito engraçado!

Vou tentar transformar em opúsculo de tamanho A-5, os "causos" e outros registros ali contidos, a fim de facilitar a leitura de velhos, como eu, pouco habituado aos monitores. Assim, sempre estará disponível, no porta-luvas do carro, durante as viagens que pretendo fazer a partir do próximo ano.
A Cerimônia na Escola foi um dia muito gratificante para mim. E também surpreendente. Em toda minha vida de professor de planejamento jamais me deparei com uma programação tão sui generis como a que o Cleto aprontou para o nosso encontro: começou com ato ecumênico e terminou em pica. Fantástico!

A cerimônia ecumênica com as palavras do Padre e da Pastora.Luciano declamando o poema do “pinto”, a que se refere o Dr. Alexandre.
Quisera eu ser um orador, para ter agradecido ao microfone não só as amáveis palavras inscritas na bela placa que recebi, mas também o inesquecível presente de 45 anos atrás, dos ex-alunos do cursinho da Sudene: a maior taxa de aprovação no vestibular!

Foi um fato marcante, talvez o maior em minha vida, sentir-me recompensado pelos esforços inovadores planejados e também pelo pedido da Sudene, que chegou logo a seguir, para apressar o planejamento do sistema de ensino à distância no Nordeste, que eu havia sugerido anteriormente.

O citado sistema de ensino seria semelhante ao do nosso cursinho, porém adaptado para funcionar à distância, visando alcançar, no Nordeste, resultados similares aos dos cursos técnicos à distância na Ucrânia. Tratava-se de uma experiência, com apoio do correio postal e de uma rede de TV que abrangia as áreas de maior densidade demográfica da região. Estávamos no início de 1964.

Hoje, meus caros formandos de 1968, com a Internet, eu projetaria até aula particular para o aluno que dela precisasse. (Desculpem. Estou desabafando o que ficou entravado há mais de 40 anos).

Com meu abraço,
Alexandre Diógenes

b) Pronunciamento do Dr. Hugo Alcântara Mota

Cerimônia de Homenagens aos professores dos formandos da Escola de Engenharia do ano de 1968.
Local: Reitoria da UFC

Data: 3 de dezembro de 2008


Foi com alegria que recebi o honroso convite para estar presente a esta reunião comemorativa dos 40 anos de formatura dos engenheiros civis e mecânicos da Universidade Federal do Ceará.

O ano de 1968 foi marcado por acontecimentos de grande repercussão no mundo inteiro, os protestos estudantis em Paris, o movimento feminista, entre outros, e particularmente no nosso país, a asfixia do AI-5.

Graças a Deus, a coragem e a determinação do Povo Brasileiro, estamos vivendo o período mais longo de Democracia Plena.

2008, também está sendo um ano com algumas turbulências como a crise financeira que está em curso, cujos resultados ainda não conseguimos vislumbrar.

Mas, por outro lado é um ano que nos trouxe alguma esperança com a eleição de Barak Obama.

Nestes quarenta anos, a prática da Engenharia se transformou e dispõe, hoje, de novos conceitos, novos procedimentos e novos meios.

Assim, os profissionais da Engenharia neste inicio de século XXI terão necessariamente de ser novos, também.

Tivemos, portanto que nos atualizar, eu e vocês, para continuar exercendo a profissão que abraçamos, com relativo êxito, devoção e ética, esta última tão escassa nos dias atuais.

Demos graça então, a Ventura de viver, de estarmos juntos e de termos uma história de 40 anos para contar.

Vou concluir com a saudação que São Francisco de Assis fazia ao encontrar os irmãos, ricos ou pobres: Paz e Bem para todos.

Muito Obrigado.


b) Pronunciamento do Dr. José Neudson Bandeira Braga

Cerimônia de Homenagens aos professores dos formandos da Escola de Engenharia do ano de 1968.
Local: Reitoria da UFC

Data: 3 de dezembro de 2008



Este é um momento de fortes recordações que despertam toda a nossa sensibilidade, enchendo-nos de profundas e incontidas emoções. O correto seria deixar o improviso dominar a nossa imaginação, retratando mais fielmente as sensações contidas e vividas. Mas, reconhecendo os meus limites e desejando não perder a oportunidade de registrar, com ordem e equilíbrio, os fatos lembrados, peço permissão para utilizar a palavra escrita, embora, possa garantir, dotadas dos mesmos sentimentos e veracidade. Assim, creio, que podemos mergulhar, juntos, no túnel do tempo, revivendo instantes expressivos de nossas vidas e assegurando-nos o prazer de construir uma história.

O cenário é sombrio e incerto. Estamos em 1968, em pleno período de repressões e desconfianças, geradas, principalmente, pelo regime de exceção vigente, causador de tantos e irreparáveis equívocos. No meio do fogo cruzado e das injustiças persistentes e inesperadas, eu realizava na Capital Federal, um dos trabalhos mais inquietantes e complexos de minha vida. Coordenava um grupo de ilustres professores que lutava, contra tudo e contra todos, na dolorosa tentativa de reabertura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília, fechados pelos estudantes daquelas unidades, num dos processos mais audaciosos e corajosos que se possa imaginar. Após meses de pacientes e diplomáticas gestões, envolvendo os mais diversos setores e órgãos da esfera federal, estávamos vivendo os momentos finais da grande batalha, repleta de lutas e desafios. Encontros e desencontros, contando com a colaboração prestimosa dos bravos e competentes companheiros da Comissão de Reestruturação (Liberal de Castro, Miguel Pereira, Paulo Mendes da Rocha, Paulo Bastos e Paulo Magalhães) e, principalmente, pela participação heróica do corpo discente, conduzindo os altos comandos a uma rendição inevitável, vencidos pela força da persistência, pelo brilho do idealismo e pelo sacrifício de muitos.

Estava viajando com destino a São Paulo, providenciando os acertos finais na viabilização dos contratos de alguns novos professores convidados para compor e renovar o corpo docente das unidades já apaziguadas, e em inicio de funcionamento, sob minha direção. Descobri, a bordo do avião que me transportava, que a sua procedência anterior era a cidade de Fortaleza e logo procurei saber se havia disponível algum jornal da terra, uma vez que estava ausente por quase dois meses. Desejava matar a saudade e me atualizar com as últimas notícias. Fiquei lendo com avidez, procurando absorver cada página. De repente, uma pequena nota me chamou a atenção, surpreendendo-me de forma impactante, tal o seu conteúdo. Tratava-se da comunicação da conclusão dos alunos de Engenharia Civil da Escola de Engenharia da UFC, relacionando os homenageados escolhidos pelos formandos:

Patrono: Celso Furtado

Paraninfo: Milton Ferreira de Sousa


Professores Homenageados: Hugo Alcântara Mota, Sílvio Moreira Duque e José Neudson Bandeira Braga.

Ao ver o meu nome ladeando tão ilustres e estrelados mestres, entre surpreso e incrédulo, senti o meu coração parar de tanta emoção. Reli a noticia para acreditar no que via. Era isso mesmo, eu, professor de uma disciplina considerada auxiliar, ministrada no primeiro ano, ainda mais oriundo de uma outra área profissional, como poderia receber tal destaque? Confesso que me senti esmagado pela enorme responsabilidade transferida por vocês para a minha iniciante carreira universitária. Entanto, naquele momento, vocês definiram o meu destino: serei realmente um professor e jamais irei decepcionar esses jovens que me legaram tal homenagem. De lá para cá, tenho procurado cumprir essa decisão de honra, tomada em circunstâncias tão adversas e em momento tão solitário. Tive ímpetos de correr pelo avião mostrando o jornal, dizendo que eu estava ali, graças à grandeza de pessoas especiais, destemidas e prontas para construir a esperança. Como não podia extravasar minha alegria com mais ninguém, decidi me recolher em profunda reflexão durante o trajeto do vôo e, em estado de graças, passei a rememorar o começo do ano de 1964, o inicio de tudo.

Atendendo a um honroso convite do prof. Luiz Carvalho Aragão, catedrático da matéria “Desenho à Mão Livre”, tive meu nome encaminhado, pelo Prof. Luciano Pamplona – Diretor da Escola de Engenharia, para análise e aprovação do Conselho Universitário, a fim de exercer as funções de Instrutor de Ensino, degrau que marcava o início da carreira docente naquela época.

Foi assim que, contando com a participação do Professor Liberal de Castro, como Professor Assistente, entrei na sala de aula de um curso superior pela primeira vez, encontrando pela frente, uma turma de jovens, recém aprovados no exame vestibular que, pelas dificuldades de concorrência, já identificada a qualidade dos mesmos. Vinha de uma experiência bastante positiva trazida da Escola Técnica Federal, atual Cefete, quando por três anos organizei e ministrei a disciplina de Desenho e Projeto Arquitetônico, para o Curso Técnico de Edificações. Porém, assumir qualquer encargo docente na famosa Escola de Engenharia, apresentou-se, para mim, como um grande e complexo desafio.

Mesmo com tarefas reduzidas e pouca participação no conjunto de atividades da disciplina, procurei cumprir minhas missões com responsabilidade redobrada, consciente do que poderia representar para cada um daqueles alunos, ávidos de conhecimentos e portadores de um enorme potencial para o saber, refletido nas inquietações e nos questionamentos apresentados em sala de aula.

Vocês, meus caros formandos de 1968, mesmo com as brincadeiras que me provocavam e estimulavam o desejo de aprimorar sempre, despertaram em mim um novo e desconhecido sentimento que crescia a cada dia, levando-me, de forma indomável, a penetrar nos mistérios e encantos do magistério, desejando me afirmar como professor. Essa pretensão, nascida no meio de vocês, entre as pranchetas e os exercícios aplicados, levou-me a trilhar caminhos que eu jamais poderia imaginar, seqüenciado pelas atividades junto a Escola de Arquitetura, criada em 1965, caminhando pelos órgãos superiores da Universidade e de várias missões universitárias, ligadas ao ensino e ao exercício profissional. Entrar, com receios e dúvidas, na sala de aula pela primeira vez diante de vocês e receber, também de vocês, o primeiro reconhecimento com uma expressiva e marcante homenagem, constituem-se os momentos simbólicos de minha vida universitária.

Portanto, meus caros jovens de ontem que hoje aqui representam, para meu orgulho e alegria, vitoriosos e destacados profissionais, competentes construtores da sociedade que participam. Sintam-se envolvidos pela minha mais calorosa emoção, como preito de gratidão eterna ao que me proporcionaram e estimularam, fazendo-me sempre prosseguir adiante, sem temer os dissabores e as incertezas.

A história de vocês, associada à resistência e a busca da justiça e da liberdade, perpetuada em nossos corações, agora, finalmente, vai ser materializada com a fixação da placa de formatura no seu devido lugar, negado 40 anos atrás, revelando o quanto é importante e necessário lutar pelos ideais puros e verdadeiros.

Pena é que nem todos estejam aqui para presenciar a confirmação da vitória, da persistência e da união. Mas, mesmo transformados em saudades, tenho certeza que aqui, estamos todos juntos e unidos, de mãos dadas, reafirmando os nossos compromissos de profissionais e cidadãos éticos e responsáveis, formados à sombra de nossa Universidade.

Da tolerância e da bondade de vocês, fez-me nascer um coração maior dentro do meu peito, abrigando cada um com o carinho e o reconhecimento de quem agora, pode confessar publicamente, o quão importante e significativo é a presença de vocês na construção de minha vida.

Obrigado e que Deus abençoe cada um.

José Neudson Bandeira Braga.



IV - PATINHAS É CIDADÃO FORTALEZENSE

Apresentamos, a seguir, o texto completo da matéria publicada pela Assessoria de Imprensa da Vereadora Eliana Gomes, autora do Projeto que concedeu o título de cidadão fortalezense ao nosso colega Carlos Augusto Diógenes Pinheiro.

A solenidade foi emocionante e a fala do Patinhas impressionou pelo conteúdo e como conseguiu dar ênfase – falando pausadamente - às partes mais densas do seu discurso. A emoção quase o trai quando recordou os companheiros que tombaram no meio do caminho.

Como todos sabem, o nosso colega foi obrigado a entrar na clandestinidade no período mais negro da nossa história. Representou uma usurpação de uma grande fase da sua vida – onze anos. Um “exílio” na própria terra. Uma vida de renúncias: de cidadania, de trabalho, da profissão, da família, dos amigos, do lazer, da terra natal.

Mas, apesar de tudo isso, em nenhum momento demonstrou qualquer sentimento de revolta, de mágoa, de ressentimento. Ao contrário. Mostrou uma beleza de caráter com palavras de agradecimento a todos aqueles que o ajudaram a forjar a sua personalidade: familiares, colegas de estudo, companheiros de lutas. Ressaltou, inclusive, que o Exército – no tempo em que estudou para a Escola de Cadetes das Agulhas Negras – ajudou-o na formação do seu caráter, afirmando: “Época de muito aprendizado, disciplina, sistematização do estudo e amadurecimento de características que viriam a fazer parte da minha personalidade.”

Por isso que, o seu pronunciamento se destaca pelo amor: a um ideal, ao país, à justiça social e, principalmente, à família. Conseguiu com a sua companheira – Noélia – de toda uma vida, constituir uma bela família que – orgulhosamente, participou do momento da entrega do Diploma de Cidadão de Fortaleza.

Parabéns, Patinhas! A T-68 – no seio da qual recebeu esse segundo nome – continua fazendo história.

Segue o texto elaborado pela assessoria de imprensa da Vereadora Eliana Gomes:

“Minha história de vida não teria sido a mesma se não fosse nossa querida Fortaleza”, disse emocionado o engenheiro Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), presidente do Comitê Regional do PCdoB. Em uma noite de muito prestígio Patinhas recebeu o título de cidadão fortalezense da vereadora Eliana Gomes (PCdoB) em sessão solene, na Câmara Municipal de Fortaleza, realizada no dia 02 de abril de 2009.

Em seu discurso, Patinhas traçou um histórico de sua vida e de suas lutas quando começou a fazer parte dos movimentos sociais, fez relatos dos tempos de faculdade, ressaltou a participação de familiares e amigos em todos os momentos de sua vida e falou, com muita emoção, da tristeza que sentia nos 11 anos em que teve que passar longe da capital cearense, quando foi obrigado a se distanciar fisicamente de Fortaleza para sobreviver, não ser preso e nem torturado pelo regime militar, fazendo sua atuação política clandestinamente. Nestes anos Patinhas passou por vários estados: Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e, por fim, Rondônia. Até poder voltar para Fortaleza no fim da ditadura militar. Ao final de seu discurso, Patinhas fez agradecimentos pela homenagem e finalizou: “Eu apenas posso dizer. Fortaleza, mais uma vez, muito obrigado por tudo”.

A vereadora Eliana Gomes se mostrou honrada de ser a autora do Decreto Legislativo n° 311/2008, que concede o título de cidadão fortalezense a Patinhas. “Nesta noite é dada a mim a oportunidade e a honra de tornar realidade a proposição aprovada pelos meus pares e homenagear o jaguaribano que veio encontrar Fortaleza nos últimos anos da década de 50 do século passado”, disse. “Nada mais justo do que a Câmara, em nome do povo da cidade, conferir a este homem o título que sua vida, história e luta já conquistaram: o de cidadão de Fortaleza”, acrescentou.

A solenidade foi presidida pelo presidente da CMF, Salmito Filho. Fizeram parte da mesa, além do presidente Salmito, a vereadora Eliana Gomes, o vice-governador Francisco Pinheiro, o prefeito em exercício Tim Gomes, o senador Inácio Arruda, o deputado federal Chico Lopes, o deputado estadual Lula Morais, o reitor da Universidade Federal do Ceará Jesualdo Farias e o presidente da OAB-CE Hélio Leitão. A cerimônia também foi prestigiada por 11 vereadores da Casa.

Leia a seguir a íntegra do pronunciamento de Patinhas:

Sr./Sra. Presidente,
Srs vereadores / Sras. Vereadoras,
Autoridades e amigos aqui presentes,

Muito boa noite a todos!

Entre tantos momentos, em todos esses anos de militância política, esta é uma ocasião única para mim. Única e especial. Porque hoje tenho o prazer de receber, dos representantes do povo da cidade que adotei como minha, a confirmação de que também ela me adotou para ser, oficialmente, parte de sua vida, de sua realidade, de sua história. Graças à iniciativa de minha colega de partido, vereadora Eliana Gomes, endossada de forma unânime pelos nobres parlamentares que compõem esta Casa, hoje posso dizer que tenho a alegria de me tornar cidadão de Fortaleza.

Nestas breves palavras, quero principalmente agradecer aos srs. Vereadores e às sras. Vereadoras, e através de Vossas Excelências a toda a população, por essa homenagem, da qual, se não estou bem certo de ser merecedor, posso com toda certeza dizer que me traz muita, muita satisfação. Porque a minha história de vida - pessoal, profissional, afetiva, política - jamais seria a mesma, caso não se tivesse cruzado com os caminhos ensolarados e os braços sedutores de nossa amada Fortaleza.

Uma história que se inicia de forma comum a tantos meninos vindos do Interior do Estado, montados no sonho e no sacrifício de seus pais, para buscar na capital uma vida melhor, um passo mais largo, um horizonte mais amplo, através do estudo. Pois há exatos 50 anos eu começava a escrever a minha história, cumprindo esse caminho. E é por isso que estou aqui esta noite, agradecendo essa homenagem e compartilhando-a com vocês, refletindo acima de tudo sobre minha relação com essa cidade. Dedicando esse título de cidadão, desde já, aos familiares, aos amigos e a cada companheiro nessas tantas lutas travadas em nome de bandeiras, sonhos e convicções que o tempo não fez arrefecer.


Fortaleza me recebeu rapazote de 14 anos de idade, menino matuto chegando do Jaguaribe, vindo com todo o esforço de uma família sem muitas posses, pela teimosia e pelo entusiasmo de meu pai e minha mãe, Carlos Pinheiro e Raimunda Diógenes, a quem rendo minhas homenagens e a quem devo muito da minha maneira de ser. Vim para cursar o 4º. Ginasial no Colégio 7 de Setembro, na Avenida Imperador. Já tinha visto meu irmão mais velho, Raimundo, hoje falecido, seguir esse mesmo caminho, entrando pro Exército, tomando o rumo do Rio de Janeiro. Já tinha carregado sua mala de viagem até a parada do ônibus. Também já tinha assistido à partida de um segundo irmão, Zezinho , para a capital. Chegara então a vez de fazer minha própria viagem.

Imaginem os senhores e as senhoras o que era, para um jovem adolescente, chegar a Fortaleza naquelas condições. Com uma grande responsabilidade sobre os ombros e, ao mesmo tempo, com olhos bem abertos para todas as possibilidades que vinham com a cidade grande.

Foi assim que investi firme nos estudos, morando na pensão de seu Elizeu Timóteo, na Major Facundo, No 54, na companhia de outros estudantes jaguaribanos, passando, pelo 7 de Setembro, pelo Cursinho do Coronel Carvalhedo. Tempo de colegas como Luciano Frota, Benedito Oliveira, Raimundo Rego, Cleire, Arides, Medina, entre tantos outros...

Da pensão para a casa do tio Afrodísio Diógenes, capitão do Exército, na rua Carlos Vasconcelos. Do colégio e do cursinho, para a Escola de Cadetes, na qual ingressei em 1960, para cumprir três anos de preparação, rumo à Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN. Época de muito aprendizado, disciplina, sistematização do estudo e amadurecimento de características que viriam a fazer parte da minha personalidade.

Ali veio também o primeiro grande choque político, quando, em 15 de agosto de 61, durante o hasteamento da bandeira, os cadetes foram comunicados que estariam de prontidão, em função da renúncia do presidente Jânio Quadros. Um momento de impacto, para quem até então associava a farda muito mais à elegância dos desfiles e aos assovios das meninas no Imaculada Conceição, nas tertúlias nos clubes Maguary e Comercial, na Praça do Ferreira. Onde já havia inclusive manifestações contrárias aos militares, com direito a deboche por parte de quem nos chamava "galinhas verdes".

Mas a vida me guardou outro caminho. Em uma difícil decisão, minha trajetória se afastou da caserna para a universidade, onde segui o sonho de fazer Engenharia. Em 63, fiz parte do cursinho da SUDENE, que funcionava no anexo da Engenharia da UFC, onde hoje se localiza o Shopping Benfica. Em 64, o vestibular e o ingresso na universidade, na primeira grande turma que entrou no curso, em grande parte devido a esse cursinho. Quando a maioria das turmas tinha 20 alunos em média, a nossa teve nada menos de 106 alunos. E eu tive a felicidade de tirar a maior nota em matemática em todo o vestibular da UFC

Mas vieram os dias 31 de março e 1º. de abril de 64, e as contas passaram a não fechar de modo tão exato. Se os estudantes já desenvolviam todo um contexto de discussão sobre os profundos problemas sociais do Brasil e os caminhos que poderiam levar a mudanças em nosso País, a partir do novo regime os fatos se aceleram e o cenário assume novas e desafiadoras cores. O movimento estudantil sofre e luta para se manter vivo. Nessa conjuntura, fui eleito presidente do Diretório Acadêmico Walter Bezerra Sá, em 66, mesmo ano em que passei a fazer parte do Partido Comunista do Brasil, o único em que militei, com todo o orgulho e toda a dedicação, ao longo desses mais de 42 anos , e que forjou em mim a consciência de luta por uma sociedade justa e solidária .(PAUSA/APLAUSOS).

Entre assembléias e passeatas, nossa consciência política se forjou na marra e enfrentou duras provas. A falta de liberdade motivou protestos por parte dos estudantes. Com o endurecimento do regime militar, a roda viva dessa história passa a girar ainda mais rapidamente. Eu, que já integrava o Conselho Universitário representando o Diretório Central dos Estudantes, passei para a linha de frente do Movimento Estudantil, como militante do PCdoB. Assim discutíamos o contexto político e social com a estudantada nas salas de aula. Assim levantamos a bandeira da luta dos estudantes ditos "excedentes", em 68. Assim enfrentamos a suspensão de seis meses imposta pela Reitoria da UFC ao DCE, diante de um protesto contra uma aula inaugural proferida por um alto representante militar.

Enquanto isso, a resistência ao regime se articulava. E do Movimento Estudantil passamos a abraçar essa luta maior, de fundo, pela redemocratização do País. Assim concluí em 68 meu curso na Federal e segui para a Bahia, tanto na perspectiva de um emprego quanto da continuidade desse engajamento político, do qual não havia volta.

Em 69 assumi na cidade de Barreiras, na Bahia, o cargo de engenheiro na SUVALE, hoje CODEVASF, trabalhando em uma grande obra de irrigação, que viria a ser muito importante para o Estado. As perseguições políticas, no entanto, não tardariam a inviabilizar minha presença na empresa e a me colocar na concreta condição de clandestinidade, me forçando a uma mudança para Salvador, enquanto no Ceará vários processos já corriam em meu nome.

Foi assim, nessa ausência forçada da minha terra natal, que cresceu ainda mais a convicção do meu amor por Fortaleza e da falta que essa cidade me fazia. Foram nada menos do que 11 anos tendo de viver longe do Ceará, num difícil desligamento total dos pais, irmãos, dos parentes, dos amigos, dos companheiros, da profissão de engenheiro, que eu tanto amava. Tempos de resistência, incerteza, perigo e invenção de outras formas para sobreviver e seguir na luta, mudando de cidade ,de profissão e de identidade. E tudo isso com não mais que 25 anos.

Em 1971, minha situação em Salvador torna-se insustentável. E aí, eu e minha companheira, Noélia, na época com apenas 20 anos, no mesmo dia do nosso casamento, tivemos de pegar a estrada e ir viver como camponeses no Sul da Bahia. Para a família, dissemos que iríamos procurar emprego em São Paulo. Sabíamos, porém, que o que nos aguardava eram os desafios da mais rigorosa vida na clandestinidade. Vivíamos o período mais difícil dos anos de chumbo. (PAUSA)

Quando, em 75 , condenado em Salvador à revelia a 4 anos de prisão pela Justiça Militar , já tinha morado no interior de Minas, em São Paulo , no interior de Mato Grosso e já estava trabalhando como topógrafo nas selvas de Rondônia , onde nos fixamos, compartilhando da vida dos camponeses, conhecendo de perto os dramas de um povo desbravador cujo sofrimento escapava aos olhares da imprensa e destoava totalmente do discurso grandiloqüente do País "que ia pra frente".

Ali posso dizer que aprofundamos ainda mais nossa consciência política e social e absorvemos os mais nobres valores de nossa gente simples. Enquanto o Araguaia atraía ainda mais as atenções da repressão para o PCdoB, fazíamos nossa parte, continuando a luta de tantos companheiros heróicos e inesquecíveis. Sonhávamos com a transposição desses tempos tão difíceis. E sempre alimentávamos o desejo de retornar a Fortaleza.

Mas só depois desses 11 anos de "exílio", característica que também parece personificar o cearense, pudemos ter a felicidade de voltar. Estava ainda vivendo literalmente no meio da mata quando veio a Anistia. Éramos de tal modo arraigados naquela realidade dos colonos de Rondônia que ainda levamos alguns meses para nos desligar daquela terra e tomar o caminho de casa .

Voltei a Fortaleza às vésperas do Natal de 79. E quando tive como primeira atitude ir matar as saudades da brisa na Praça do Ferreira, eu já não era o mesmo que daqui partira, mais de uma década antes. Mesmo entre dúvidas e inseguranças sobre que futuro a anistia nos reservava, iniciamos ali uma nova etapa, de desenvolvimento da nossa militância, de luta pela redemocratização do Brasil, pela legalidade do nosso partido, por dias melhores para nossa gente.

Posso dizer que ali chegava à fase mais madura de minha vida, com a luta pelas Diretas, a vitória de Tancredo no Colégio Eleitoral, a reconstrução do PCdoB no âmbito da legalidade, as históricas eleições estaduais de 86 e nacionais de 89. Momentos em que nosso partido iniciou sua atual etapa de caminhada rumo ao que é hoje, sendo reconhecido pela sociedade, fazendo política de forma ampla, dialogando com todas as alas ideológicas mas nunca perdendo de vista seu próprio norte.

Assim ganhamos espaços que dificilmente imaginaríamos, nos momentos mais acirrados de clandestinidade e perseguição. Hoje, posso me orgulhar de, no Ceará, ter integrado a luta que deu ao PCdoB seu primeiro senador, depois de Luís Carlos Prestes. O nosso senador do povo, da gente simples do Dias Macedo, de todo o Ceará, Inácio Arruda (PAUSA-APLAUSOS).

Hoje, posso celebrar o fato de termos uma liderança que se identifica como poucas com a nossa gente, com a espontaneidade e o carisma do deputado federal Chico Lopes (PAUSA). Hoje, posso compartilhar com todos vocês o fato de estarmos devidamente representados tanto na Assembléia Legislativa quanto aqui nesta Casa, com João Ananias, Lula Morais e Eliana Gomes (PAUSA).

Hoje nos consolidamos fazendo política de forma ampla, com prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e outras lideranças, da juventude ao movimento comunitário, dos sindicatos ao movimento estudantil, espalhados por todo o Ceará. Nosso partido palmilha novas veredas, contempla possibilidades de ir mais longe, em sua missão de unir o povo para a construção, cada vez mais palpável no nosso Brasil, de uma nova sociedade, desenvolvida, justa e fraterna.

Enquanto isso, eu dirijo, desta tribuna, meu humilde agradecimento a todos vocês. Entendo a homenagem desta noite não somente como uma honraria pessoal, mas também como uma distinção coletiva a um representante do partido político mais antigo do Brasil, que com seus 87 anos de luta e resistência vem procurando dar sua contribuição prática pelo melhor do País e de nossa Fortaleza. Compreendo esta noite como uma ocasião para prestarmos tributo a cada militante de hoje e a todos os que, no calor da luta, tiveram suas histórias pessoais abreviadas, mas deram inestimáveis contribuições para que atualmente vivenciemos uma fase tão promissora.

Dirijo em especial ,o meu tributo aos jovens cearenses , Bérgson Gurjão ,Custodio Saraiva , Jana Barroso, Teodoro de Castro, que tombaram nas selvas do Araguaia e não puderam voltar a sentir a brisa da nossa Praça do Ferreira (PAUSA/APLAUSOS).

Recebo esse título como um sinal de reconhecimento aos profissionais da engenharia, que empregam seu talento na construção dessa cidade. Aos colegas da Escola de Cadetes, que para minha satisfação também se fazem presentes aqui esta noite. Aos tantos senhores feitos de hoje que, assim como eu, um dia já chegaram a essa cidade carregando nos olhos o brilho de meninos vindos do Interior.

Em todo esse tempo, esta cidade, porto para mais de três milhões de pessoas, me deu muito mais do que eu poderia pedir. Entre os maiores presentes que alguém poderia receber, estão os grandes ensinamentos: firmeza de propósitos, amadurecimento, desenvolvimento pessoal, político e profissional. Como se fosse pouco, hoje essa mesma cidade ainda me envaidece com mais esta alegria. Agora, oficialmente, como seu concidadão, agradecendo a presença de cada um de vocês e desejando uma ótima noite a todos, eu apenas posso dizer:

"Fortaleza, mais uma vez, muito obrigado por tudo".

Carlos Augusto Diógenes, PatinhasNovo cidadão de Fortaleza.

V - REALIDADE DA ÉPOCA

Como fizemos parte de um momento histórico do país, reproduzimos, a seguir, manchetes e trechos de editorais de jornais da época. Foram conseguidos no blogdahistoria e apresentados sem comentários. Servem de ajuda à nossa memória.Um pesquisador se deu ao trabalho de coletar e divulgar na internet uma lista das manchetes e editoriais dos principais jornais brasileiros a partir de 1º de abril de 1964.


Confira: De Norte a Sul vivas à Contra-Revolução


“Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade ... Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 1º de Abril de 1964)
“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade.Ovacionados o governador do estado e chefes militares.O ponto culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (...), formando uma das maiores massas humanas já vistas na cidade”(O Estado de Minas - Belo Horizonte - 2 de abril de 1964)
Os bravos militares
“Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os protegeram de seus inimigos”“Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”(O Globo - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)
Carnaval nas ruas
“A população de Copacabana saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento”(O Dia - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)
Escorraçado
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas.Um dos maiores gatunos que a história brasileira já registrou., o Sr João Goulart passa outra vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu”(Tribuna da Imprensa - Rio de Janeiro - 2 de Abril de 1964)
“A paz alcançadaA vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”(Editorial de O Povo - Fortaleza - 3 de Abril de 1964)
“Ressurge a Democracia !Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem.Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições”“Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada ...”(O Globo - Rio de Janeiro - 4 de Abril de 1964)
“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da República ...O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve”(Correio Braziliense - Brasília - 16 de Abril de 1964)
“Vibrante manifestação sem precedentes na história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas”“Cinquenta mil pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento”(A Razão - Santa Maria - RS - 17 de Abril de 1964)
“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se.Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela não moveu o País, com o apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidades”.(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 31 de Março de 1973)
“Sabíamos, todos que estávamos na lista negra dos apátridas - que se eles consumassem os seus planos, seríamos mortos. Sobre os democratas brasileiros não pairava a mais leve esperança, se vencidos. Uma razzia de sangue vermelha como eles, atravessaria o Brasil de ponta a ponta, liquidando os últimos soldados da democracia, os últimos paisanos da liberdade”O Cruzeiro Extra - 10 de Abril de 1964 - Edição Histórica da Revolução - “Saber ganhar” - David Nasser
“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada”. (Jornal do Brasil, edição de 01 de abril de 1964.)
"Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada". Editorial do jornalista Roberto Marinho, publicado no jornal " (O Globo", edição de 07 de outubro de 1984, sob o título: "Julgamento da Revolução". )
As manchetes do Golpe

31/03/64– FOLHA DA TARDE – (Do editorial, A GRANDE AMEAÇA)"... cuja subversão além de bloquear os dispositivos de segurança de todo o hemisfério , lançaria nas garras do totalitarismo vermelho, a maior população latina do mundo ..."
"31/03/64 – CORREIO DA MANHÃ – (Do editorial, BASTA!): "O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta!"
31/03/64 – JORNAL DO BRASIL – "Quem quisesse preparar um Brasil nitidamente comunista não agiria de maneira tão fulminante quanto a do Sr. João Goulart a partir do comício de 13 de março..."
1o/04/64 – CORREIO DA MANHÃ – (Do editorial, FORA!): "Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!"
1o/04/64 – ESTADO DE SÃO PAULO – (SÃO PAULO REPETE 32) "Minas desta vez está conosco"... "dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições."
"02/04/64 – O GLOBO – "Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada"... "atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso... as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal".
02/04/64 – CORREIO
DA MANHÃ – "Lacerda anuncia volta do país à democracia."
05/04/64 – O GLOBO – "A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista".
05/04/64 – O ESTADO DE MINAS – "Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos". "Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria."
06/04/64 – JORNAL DO BRASIL – "PONTES DE MIRANDA diz que Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!"
09/04/64 – JORNAL DO BRASIL – "Congresso concorda em aprovar Ato Institucional".
10/04/64 – JORNAL DO BRASIL – "Partidos asseguram a eleição do General Castelo Branco".
16/04/64 – JORNAL DO BRASIL – "Rio festeja a posse de Castelo".
18/04/64 – JORNAL DO BRASIL – "Castelo garante o funcionamento da Justiça".
21/04/64 – JORNAL DO BRASIL – "Castelo diminui nível de aumento aos militares". Corte propõe aumento aos militares com 50% menos do que tabela anterior".
07/10/1984 – O GLOBO – (Do editorial, JULGAMENTO DA REVOLUÇÃO)"...Sem o povo não haveria revolução, mas apenas um "pronunciamento" ou "golpe" com o qual não estaríamos solidários". "... nos meses dramáticos de 1968 em que a intensificação dos atos de terrorismo provocou a implantação do AI-5." "...na expansão econômica de 1969 a 1972, quando o produto nacional bruto cresceu à taxa média anual de 10%..." "...naquele primeiro decênio revolucionário, a inflação decrescerá de 96% para 12% ao ano, elevando-se as exportações anuais de 1 bilhão e 300 mil dólares para mais de 12 bilhões de dólares". "... elevando a produção de petróleo de 175 mil para 500 mil barris diários e a de álcool de 680 milhões para 8 bilhões de litros, e simultaneamente aumentar a fabricação industrial em 85%, expandir a área plantada para produção de alimentos com 90 milhões de hectares a mais, criar 13 milhões de novos empregos, assegurar a presença de mais de 10 milhões de estudantes nos bancos escolares, ampliar a população economicamente ativa de 25 milhões para 45 milhões elevando as exportações anuais de 12 bilhões para 22 bilhões de dólares". "... há que se reconhecer um avanço impressionante: em 1964 éramos a quadragésima nona economia mundial, com uma população de 80 milhões de pessoas e renda per capita de 900 dólares; somos hoje a oitava, com uma população de 130 milhões de pessoas, e uma renda média per capita de 2500 dólares". "...Não há memória de que haja ocorrido aqui, ou em qualquer outro país, que um regime de força consolidado há mais de dez anos, se tenha utilizado do seu próprio arbítrio para se auto limitar, extingüindo-se os poderes de exceção, anistiando adversários, ensejando novos quadros partidários, em plena liberdade de imprensa. É esse, indubitavelmente, o maior feito da Revolução de 1964".

VI - A T-68 E A DITADURA

Este sentimento de salvação, que se depreende das manchetes da época, logo se desvaneceu. Vimos a face crua de uma ditadura em que tudo via risco à segurança nacional. Em nome dessa paranóia os maiores absurdos foram cometidos. Logo fomos apresentados à ditadura, com a prisão de alguns de nossos professores. Todas as prisões injustificáveis.
Integrantes da nossa turma tiveram participação ativa no movimento estudantil. Por isso, alguns deles foram excluídos da nossa última prova, no quinto ano. Este fato é relatado pelo Benedito, logo adiante.
O Lauro, por sua participação no Congresso da UNE, em Ibiúna, chegou a ser preso. Este fato prejudicou-o na sua vida profissional. Foi aprovado no exame de seleção para integrar os quadros da Petrobrás. Quando ia iniciar o treinamento, foi excluído. O motivo alegado: sua participação em Ibiúna.
O Patinhas, após a formatura, engajou no movimento político clandestino. Durante muitos anos ficou desaparecido. Chegamos até a pensar que ele tinha sido morto no Chile. Só reapareceu após a anistia e como integrante ativo do PCdoB, do qual, ainda hoje, é o seu Presidente, no Ceará.
O dramático relato, a seguir, feito pelo nosso colega Marcos Antônio Pinheiro Silva mostra, em toda a sua crueza, o terror da arbitrariedade. Foi injustamente preso e, por muita sorte, não passou a fazer parte das estatísticas dos desaparecidos. Ele pode afirmar que entrou e saiu do inferno.


QUEM PAGA O PATO?

Assustado, ainda aturdido pela noite em claro e pela possibilidade de tê-la terminado em pior situação, o auxiliar de serviços gerais contava num misto de alegria e temor, compartilhando um fato inusitado com os condôminos do Edifício Rio Minho, no bairro da Barra, em Salvador:

- Dr Marcos está preso; a Policia Federal esteve aqui e o levou ontem à noite...

Enquanto isto, se despedindo de Vânia, o Vianney e a esposa, Zuleide, deixavam o meu apartamento ainda sem compreender a situação

- Quem diria, o Marcos conseguiu disfarçar este tempo todo; o Marcos é comunista!!!

Pela vigésima vez soltava ele esta imprecação, passadas quase doze horas em que não pudera deixar o meu apartamento a que chegara por volta das 20:00 h da noite anterior.

Formados na turma da Mecânica da T68, fomos Jair, Vianney e eu para o Rio de Janeiro para participarmos do curso de Engenharia de Equipamentos, da Petrobras.Simultaneamente, formados no curso da Civil, foram o Alcimar, o Miguel, o Róseo, o Toni para Salvador para fazerem o curso de Engenharia de Petróleo da mesma Petrobras.

Concluidos o Curso de Equipamentos, voltado para refinarias e petroquímicas, em fins de outubro de 1969 fomos os três cearenses designados para trabalharmos em unidades da Petrobras na Bahia.Ficamos em Departamentos diferentes: o Jair no Detran (Departamento de Transportes: navios e terminais marítimos), o Vianney no Depin (Departamento Industrial: refinarias e similares) e eu no Dexpro (Departamento de Exploração e Produção: geologia, perfuração e produção de óleo e gás natural).

Em que se encaixava o curso que acabara de concluir com o Departamento para o qual fora designado?Em quase nada e, pensando só na Unidade em que fui lotado, em quase tudo.Com o todo das atividades do Departamento havia pouca sinergia, porém com o particular da Unidade de Gasolina Natural, no Distrito Sul da RPBa, Região de Produção da Bahia, se enquadrava perfeitamente.Esta Unidade era para a RPBa um simples ponto de passagem do gás natural “rico” que de lá saía como gás “pobre”. Passava a ter esta denominação pobre após o processamento em torres de absorção e fracionamento, deixar as frações pesadas de hidrocarbonetos como LGN (Liquido de Gasolina Natural para ser enviado por duto à Refinaria Landulfo Alves, em Mataripe, onde seria acrescentado à gasolina ali produzida) e retornar em alta pressão aos poços de petróleo e gás (para ajudar na produção: seja aumentando a pressão neles, seja diminuindo a densidade do óleo a fim de possibilitar o “gas-lift”).

Do ponto de vista de equipamentos a Unidade era quase que totalmente diversa do que utilizavam os outros setores do Dexpro (havia uma outra Unidade no Distrito Norte que era muito antiga e defasada tecnicamente...), sendo mais próprio que estivesse no Depin. Daí surgiam dificuldades de obter mão de obra e materiais específicos num Departamento que estava voltado para outro tipo de ação. Acresce ao problema a falta de visão estratégica das chefias mais distantes das necessidades de campo e distorções administrativas locais que dificultavam e até impediam o socorro através do Depin.Eclodiram, então, desavenças por filosofia de manutenção e administrativas com as chefias próximas e distantes...
Na Petrobras, como em toda estatal ou entidade subordinada ao governo, havia um órgão de informações que monitorava os funcionários quanto a atividades ditas de subversão, insubordinação, maus procedimentos que viessem a por em risco a “gloriosa” etc.

Eram ridículos os chamados para dar justificativa por besteiras que devem haver ficado anotadas nas fichas individuais dos empregados.Chamaram-me, por exemplo, para, por fim, comprovar que um homônimo era quem havia deixado uma dívida na Casa Stela, uma sapataria famosa de Salvador na época. Sequer procuraram saber a filiação do homônimo, sua idade, local de nascimento, dados que levantei na própria Casa Stela...
Em 1973, com as principais organizações que defendiam a luta armada desarticuladas a ditadura militar inicia a Operação Radar para acabar com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Com o governo do general Geisel há uma tomada de fôlego nesta operação.Em 04 de julho de 1975 ela chega à Bahia. Cerca de 80 dirigentes, militantes e simpatizantes do PCB são presos.O tristemente famoso coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, um dos mais notórios torturadores da Operação Bandeirantes em São Paulo, era o comandante.
Acabara de chegar do trabalho, era sexta-feira, quando apareceram em nosso apartamento três rapazes que, ao lhes abrir a porta, perguntaram-me se me chamava Marcos Antonio. Com resposta afirmativa apresentaram-me rapidamente uma carteira da Polícia Federal e disseram que eu deveria acompanhar-lhes para esclarecer batida de carro com um veículo daquela polícia. Disse-lhes que passara o dia inteiro fora e que não podiam haver conseguido meu endereço no Detran, pois o carro estava no nome de minha esposa. Mostrei-lhes a carteira do CREAA e a identidade funcional da Petrobras para que tirassem as dúvidas; ficaram dois comigo e o outro foi fazer consultas.

Retornou, cerca de meia hora depois, e, quando a empregada abriu a porta ao toque da cigarra, invadiram o apartamento, além do que fora fazer as consultas, mais três. Disseram-me que era eu mesmo e que deveria acompanhar-lhes.
Debaixo dos protestos de Vânia e dos filhos pequenos retrucaram que eu voltaria logo.Antes que o carro saísse mandaram-me por as mãos no encosto do banco dianteiro, algemaram-me, puseram-me um capuz preto e me empurraram para deitar no colo do que ficara ao meu lado.Perguntei se fazia parte do protocolo e disseram que ainda viria o pior.

Andou-se cerca de quinze minutos. Fizeram-me descer do Fusca e levaram-me para um local que me pareceu ser azulejado; posteriormente vim a saber que era no quartel de Amaralina.

Deixaram-me só e, ao retornarem, despiram-me, puseram-me um macacão, me fizeram sentar e colocaram as algemas passando os braços por debaixo das pernas.Levantaram-me o capuz o suficiente para assinar um lista com meus pertences, sem que pudesse colocar a data.Deixaram-me outra vez sozinho.

Passado algum tempo alguém me perguntou se sabia o porquê de estar ali; disse-lhe que fora informado ser por causa de uma batida de carro. Este alguém me contesta que não e sim porque eu era da direção do PCB na Bahia; acrescentou que não adiantaria mentir, pois já haviam prendido outros membros do comitê, estes confirmavam minha participação no PCB e que, dentro em breve, estaria sendo levado para ser identificado pelos companheiros que me denunciaram.

De fato, fizeram-me deitar na traseira de um veículo que me pareceu ser uma “Veraneio” e onde já estavam mais duas outras pessoas, também deitadas.Não deixavam que falassem os seqüestrados.Os seqüestradores pouco falavam e quando o faziam era em cochicho.

Andamos neste carro por aproximadamente duas horas.Pararam em um local onde havia um pássaro que cantava, apesar de ser noite. Vim a saber, muito depois, que estávamos no Quartel do Exército em Alagoinhas, longe 150 km de Salvador.

Separaram os três, deixando-me no meio de um pátio, ao que supus.Percebia, muito distante e entrecortado, o diálogo seqüestrado x seqüestrador; de vez em quando um grito de dor, um amontoado de palavrões e os mesmos chavões de que “não adianta, sabemos tudo, é melhor confessar...”

Chegou a minha vez e me levaram para sentar numa calçada. Alguém que devia ser o chefe, era chamado de Doutor, me falou cortesmente para colaborar e contar tudo o que sabia. Disse-lhe que de nada sabia do que me acusavam e estava ali por engano deles.O Doutor mudou de cortesia para desaforos e xingamentos e outro que estava junto dele me levantou rapidamente o capuz e deu-me umas tapas.

Insistiram por mais um pouco e levaram-me para o que me pareceu o centro do pátio. Levantaram-me o capuz com uma luz forte de lampião direcionada para meus olhos. Descido o capuz o chefe disse-me não ser eu a quem procuravam. Levou-me a sentar na calçada, pediu-me desculpas pelo equívoco, salientando porem que eu não deveria contar o acontecido para ninguém, nem mesmo a esposa, e que dentro em breve me levariam de volta para casa. Ao meu protesto retrucou-me que ficasse bonzinho senão ficaria lá com os outros.

Retirou-me as algemas, deixando-me com o capuz, uma venda elástica por debaixo deste, sob um vento frio e muriçocas que me picaram como o mais sublime supridor de sangue que jamais encontraram.

O retorno para Salvador foi uma viagem bem mais rápida. Ao chegar puseram-me, de novo, no local azulejado a espera do Doutor, com os braços algemados por baixo das pernas. Deram-me de comer biscoitos com queijo e café e adormeci em cima de um colchonete posto no chão. O Doutor chegou e repetiu as desculpas e recomendações para ficar de bico calado, pois as conseqüências poderiam ser piores etc... Estavam concluindo as investigações e só depois me soltariam.

Vieram os três que me levaram repetindo as desculpas e que infelizmente quem paga o pato as vezes não tem nada a ver e tal e coisa...Que eles próprios haviam preso o Marco Antonio que era o procurado, que também era cearense, engenheiro, morava na mesma rua que eu, num apartamento cujo número era igual ao do meu e que, possivelmente, usava documentos falsos com minhas características.

Ajudaram-me a vestir, retiraram-me as algemas, friccionaram-me os pulsos e mandaram-me flexionar as pernas e mãos.Outra vez no Fusca, após me devolverem os pertences, me encapuzaram, levaram-me até perto de casa.Deixaram-me com as mesmas recomendações e ameaças.
Vânia me contou que, os que ficaram, interditaram o apartamento: os que estavam não puderam sair e os que chegavam tinham que ficar. Assim foi que ficaram ela, as duas crianças, duas primas dela que passavam férias em Salvador, o Vianney e Zuleide, o servente que fora deixar os documentos de nosso carro, dois oficiais da polícia que vieram visitar as primas dela; todos no living do apartamento, sem poderem ir ao sanitário, nem à janela.Só permitiram que as crianças e Zuleide, que estava grávida, fossem dormir.Aparentemente não revistaram nada.

Lá pelas quatro horas da madrugada receberam comunicação, via rádio, que me libertariam em breve.As 07:30 h deixaram o apartamento.

O Carlos Augusto, o Patinhas, fora para a Suvale (Superintendência do Vale do São Francisco), hoje Codevasf. Com ele também foram outros formados da Civil. Poucas vezes nos encontramos em Salvador, já que sua lotação era no interior da Bahia ou Pernambuco. Nestas poucas vezes, tanto eu como o Vianney, temos lembrança de que foram contatos furtivos, sem que dissesse onde estava hospedado, o que fazia em Salvador, e não houve jeito de fazer que nos visitasse. Misterioso como soem ser as criaturas privilegiadas por acreditarem em uma missão salvadora e redentora em benefício dos menos abastados.

E assim foi que eu, que apenas fora do Conselho de Líderes no cursinho da Sudene, que cometera alguns artigos em nossos jornaizinhos especulando sobre encíclicas (quem diria) e reclamando do péssimo “professor”(?) Raimundo Antônio, que não sei bem porque fui colocado como presidente da T68 em nosso segundo ano, que só conhecera uns poucos comunistazinhos inofensivos, mas não concordava com os modos de administrar de chefetes do Distrito Sul, RPBa, da Petrobras, fui parar nas mãos do coronel Ulstra...
Eu e o Manuel Macedo à epoca de presidente da T68

Dois meses depois deixei a Petrobras para trabalhar no Pólo Petroquímico de Camaçari, por meio de convite de um engenheiro que fora da Refinaria e era superintendente de uma nova fábrica, a Metanor, e que eu sequer conhecera antes.

Até hoje não é muito claro para mim este convite.Na ocasião, ó soberba, achei que fora por meus méritos.Era irrecusável: teria o cargo de Gerente de Manutenção e Suprimento, passaria a ganhar mais 30% do que recebia na Petrobras e teria um carro à disposição. Foi uma vitória de Pirro; logo, logo o salário ficou defasado e mandei-me para a empresa líder no Pólo Petroquímico, a Copene, onde passados muitos anos vim a me aposentar...

Eu não guardei o segredo que eles queriam, só não coloquei na Radio Sociedade da Bahia; até porque o Auxiliar de Serviços Gerais espalhara pelo prédio todo e porque fui procurar apoio na Petrobras e não obtive muita coisa não. Mandei uma carta para um primo meu que era general e, naquele momento, era Secretário Geral do Ministério dos Transportes, gestão do Andreazza. Mandou-me dizer ele que procurara informações e fora tudo um equívoco e que ficasse quieto para não complicar as coisas... Esta carta, retirando minúcias desnecessárias, serviu-me para este relato.Teria o convite sido um “gesto de bondade” do coronel???Por quem eu quase integralmente pagara o pato???
Saberá o Patinhas esclarecer, junto a seus colegas de partido, de quem eu fui o pato???

O depoimento, a seguir, do Benedito Ferreira de Oliveira, retrata bem o risco que passaram aqueles que tinham participação no movimento estudantil. O fato, adiante relatado, aconteceu poucos dias antes da decretação do AI-5. Não fosse a presença de espírito e a iniciativa do nosso colega Cláudio Nogueira, não teríamos tido 51 formandos em Engenharia civil naquele 1968.

O ANO DO COCHICHO

DO CLÁUDIO

Quantas coisas aconteceram em 1968, ano em que terminamos o curso da Engenharia. Qualquer um dos integrantes da T68 jamais imaginaria a mística e o significado histórico que aquele ano iria adquirir, ano que ficaria conhecido, graças a um jornalista carioca, como o ano que não acabou.

Para nós e nossas famílias, ao contrário, aquele ano acabou mesmo e de uma forma inesperada e melancólica. Não tivemos nossa solenidade de formatura que nós e nossos pais esperávamos com tanto orgulho e alegria. Não sei se vocês já tinham se dado conta disso, mas os nossos pais foram os mais duramente atingidos naquele final de 1968, pois a eles foi negado o momento do abraço orgulhoso nos filhos, a hora de solenemente chamar a cada um deles de “doutor”.
Meu pai, por exemplo, abriu uma caderneta num banco que não mais existe e com zelo e parcimônia juntou durante os cinco anos do curso a quantia para comprar meu anel de formatura. Para os esquecidos e os mais novos, caderneta seria hoje a atual conta de poupança, sem as correções e rendimentos hoje assegurados. Eu até hoje devo ter essa caderneta guardada em algum lugar, pois ela tinha uma existência física palpável, era exatamente uma caderneta de papel, onde o caixa do banco anotava à mão os depósitos feitos e os saldos existentes. Como aquilo parece tão distante dos caixas eletrônicos de hoje e das facilidades tecnológicas que hoje dispomos para operar nossas contas bancárias.

Desse ponto de vista 1968 parece infinitamente mais distante do que realmente está em nossas mentes e em nossos corações.
No final, meu pai não pôde colocar o anel no meu dedo no dia da formatura nem teve o gosto de me ver usá-lo, pois eu achava aquilo, na minha atabalhoada rebeldia de então, uma grande caretice.

Hoje eu sei que eu deveria ter sacado mais o meu pai e tê-lo homenageado usando o anel, pelo menos durante algum tempo. Garanto que ele iria ficar muito alegre e vaidoso. Mas, enfim, era daquele jeito que eu era em 1968.
Para os que faziam política estudantil 1968 foi uma intensa e perigosa festa. Eu, Patinhas, Hypérides, Laurinho, Costinha, Cleto e muitos outros participamos mais ou menos intensamente, cada um a seu estilo, dos fatos acontecidos no período da Engenharia que, por uma coincidência histórica, foi de 1964, ano da Gloriosa, a 1968, ano do AI-5.

Para os que fizeram o cursinho da Sudene esse clima de participação já começara em 1963, pois ali os alunos não apenas estudavam para o vestibular, mas também eram estimulados a compreender e participar do que então acontecia no país. Eram os tempos conturbados das reformas de base do governo Goulart.
Dentro da Escola de Engenharia a T68 atuou e interveio decisivamente em tudo o que aconteceu naqueles anos. A nossa turma era a materialização viva do que, em política, se chama frente ampla e essa frente não era construído sobre maquiavelismo ideológico e, sim, sobre uma grande amizade, um grande respeito mútuo e uma notável objetividade em relação aos nossos interesses acadêmicos. Foi assim quando montamos uma exposição científica, quando provocamos o afastamento de um Diretor, quando organizávamos nossas excursões, quando exigimos que a prova final de Termodinâmica não fosse feita pelo Guido, foi assim quando, ao apagar das luzes do nosso curso, não aceitamos que colega algum não se formasse e ficasse em recuperação. Sobre esse último fato passo a contá-lo de acordo com o que a minha memória ainda registra. Chegou o final do quinto ano, finalmente a formatura e eis que alguns colegas ficaram em recuperação. Um intenso sentimento de solidariedade tomou conta da turma, era consenso que não tinha sentido adiar a formatura de ninguém ou, muito menos, fazer alguém correr o perigo de repetir logo o quinto ano.

Não me ocorrem agora os verdadeiros ingredientes daquele clima de solidariedade, mas é certo que, além da amizade que tínhamos um pelo outro, havia também certa compreensão da gravidade do momento político do país que se agitava com freqüentes passeatas, congresso da UNE em Ibiúna e uma crescente resistência ao governo inclusive no Congresso Nacional.

Havia, na realidade, um discreto temor que alguns dos colegas que tinham ficado em recuperação pudessem ser prejudicados por conta de suas participações no movimento estudantil. Não podemos esquecer que na lista dos que ficaram em recuperação estávamos eu, Patinhas e Costinha, entre outros.
Não lembro dos detalhes, mas numa certa manhã a T68 invadiu o gabinete do Diretor da Escola e exigiu a anistia para os que tinham ficado em recuperação. A palavra de ordem era que todos deveriam se formar já em dezembro. Vejo nitidamente a cena, todos em volta da mesa do Barbosão, eu de frente a ele, clima tenso, todos argumentando ao mesmo tempo e ele resistindo e se negando a fazer o que queríamos. Impasse geral.
De repente o Cláudio Nogueira dá a volta na mesa do Diretor, se coloca ao seu lado e cochicha algo ao seu ouvido. Em seguida, não sei exatamente quão logo em seguida, Barbosão muda de idéia e concorda com a anistia. Palmas, gritos e festas. Descemos exultantes e vitoriosos as escadas do prédio da Diretoria, certos de que tínhamos feito história.

E tínhamos mesmo. Nós, que ficamos em recuperação, fomos salvos pelo gongo. Poucos dias depois estourava o AI-5 acabando com a solenidade de nossa formatura e trazendo para o Brasil uma era de horrores.

Muitos fatos de 1968 marcaram a história do Brasil e do mundo, fatos que atualmente são temas de entrevistas, documentários e discussões. Revolta de Maio em Paris, invasão da Tchecoslováquia, assassinatos de Bob Kennedy e Martin Luther King, passeata dos cem mil, Congresso da UNE em Ibiúna, edição do AI-5.

Mas para mim, hoje eu tenho certeza, 1968 foi o ano do cochicho do Cláudio, o cochicho do qual nunca soube o conteúdo nem de sua verdadeira influência na decisão do Barbosão, mas que pode perfeitamente ter mudado a vida e salvado a carreira de Engenheiro de alguns de nós da T68.

Cláudio, na época do "cochicho"
Com referência a este depoimento do Benedito, o Ivens lembra que este fato ocorreu durante a última prova, do último ano. Era uma prova de Higiene, cujo catedrático era o próprio Diretor, Dr. Barbosa. Ou seja, terminado aquele compromisso escolar não teríamos mais nenhuma relação com a Universidade. Mas, o espírito de solidariedade falou mais alto. Emborcamos a folha na carteira e fomos – a turma em peso – ao gabinete do Diretor exigir que os colegas que estavam excluídos, também fizessem a prova.

Em seguida ao “cochicho”, voltamos à sala de aula e concluímos a nossa última atividade escolar.

Após, nos encontramos no pátio. O Patinhas, ao perceber que alguns já tinham se dispersado proferiu uma frase profética: “Nós nunca mais nos reuniremos!”


A ditadura fez outro grande mal. Foi responsável por uma grande decepção a todos nós e, principalmente, aos nossos familiares. Este fato é detalhado no depoimento do nosso colega Ivens Roberto de Araújo Mourão, a seguir:


A DECEPÇÃO


A proibição, por parte da ditadura militar, da solenidade da nossa colação de grau foi extremamente decepcionante. Não só para nós, os formandos, mas também para os nossos familiares.
O meu avô sempre dizia, que não tinha podido assistir à colação de grau do filho, como engenheiro civil, em Ouro Preto/MG. Mas agora, 20 anos após e com muita satisfação, ia assistir à colação do neto, na mesma escola em que o seu filho era professor. Nunca esqueci da fisionomia de decepção dele com o cancelamento, pois sabia que não teria outra oportunidade dessas na vida. Aliás, a última vez que ele saiu de casa sozinho, foi para comprar um estojo de canetas para me presentear, na ocasião da solenidade na Concha Acústica. Logo em seguida, começou a definhar, para o fim da sua vida...
Outra cena que me marcou foi a dos familiares dos nossos colegas do Maranhão e do Piauí, saindo da Concha Acústica. Abatidos e cabisbaixos com aquela medida discricionária. Tinham vindo de muito longe para uma justa solenidade, tão sonhada, e o absurdo daquela medida de terror.

Depois, fizemos a colação de grau, de dois em dois, no Gabinete do Diretor. Parecia até que estávamos cometendo um crime, pois era a portas fechadas. Primeiramente, tivemos, vejam só, que comprovar que havíamos devolvido a beca... Eu, como um protesto silencioso, compareci de bermuda e sandália japonesa.

Na ocasião, nos foi fornecida uma declaração, numa folha de papel ofício, atestando a nossa formatura. Não tiveram a delicadeza de colocá-la em um envelope. Fiz um canudo com aquele papel. Ao chegar em casa coloquei aquele canudo no meu dedo indicador e mostrei para meus familiares, dizendo:
- Olhem o diploma que me deram...
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Este é o Diploma no Marcos Antônio, igual ao que recebi. Ele guardou...
Trinta anos após, graças a uma iniciativa da T68 (diga-se do nosso colega Cleto) tivemos a colação simbólica, com todo o ritual. Inclusive a leitura do discurso do representante dos formandos, que não continha nada de subversivo. O Reitor, Cláudio Roberto, também impedido de colar grau, cedeu ao Dr. Martins Filho (Reitor da época) para presidir a solenidade. Este, com quase cem anos, disse:

- "Deus me deu a oportunidade de continuar na dança da vida para viver este grande momento que tinha ficado no ar."
Foi, sem dúvidas, um belíssimo ato reparador, mas não apagou a mágoa e a decepção do momento histórico que levaremos conosco para sempre. E outros, como alguns dos nossos colegas e familiares, nem estavam mais entre nós.




Nossa Colação de Grau, trinta anos depois. Dr. Milton, Cleto (o único de Beca, representando a turma), Ediberto, Cavalcante, José Maria, Ivens e Neudete
Felizmente, esperamos que, absurdo como esse não se repita mais em nosso país.
Por fim, para caracterizar esse momentos sombrios, vejam no relato, também do Ivens, o medo que fazia parte de todos nós.



O MEDO


Como uma forma de compensar a frustração do cancelamento da solenidade da Concha Acústica, nossos familiares se apressaram em oferecer recepções para comemorar a formatura.
Meus pais organizaram uma e convidaram familiares, amigos e meus colegas de turma. Um dos que compareceu à minha casa, na Av. Bezerra de Menezes, foi o Lauro. Em outubro daquele ano ele tinha sido preso como participante do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna/SP.
Ao chegar em casa, demonstrava muito nervosismo, pois notara um carro da polícia estacionado em frente à minha casa.
Fui averiguar e constatei que a “viatura” tinha achado de dar “o prego” exatamente em frente à minha casa.
Gato escaldado tem medo de água fria... principalmente naqueles terríveis anos de chumbo...

VII - T-68 E OS PROFESSORES

A nossa relação com os professores foi sempre muito amistosa. Havia, entre nós, respeito e admiração, preservados até o dia de hoje. Tanto que organizamos uma ocasião especial, na programação de comemoração dos 40 anos de formatura, para homenageá-los. Apenas uma exceção, para não fugir à regra. Recusamos-nos a fazer uma prova de um determinado professor. Eram duas questões idiotas e que não mediam conhecimento de ninguém. Fomos ao Diretor e exigimos a sua substituição e uma nova prova, no que fomos atendidos.
Passamos, a seguir, a contar alguns “causos”, segundo alguns colegas:


PROFESSOR GOYANNA

Contado pelo Marcos Antônio


Há muito, muito tempo, quando navio ainda era a vela...
Subindo pelos sertões da Bahia, tangendo gado e desbravando terras, chegaram os baianos ao sul e centro do Ceará. Até hoje no linguajar do povo rústico do sertão baiano encontram-se similaridades com o do interior do Ceará; o vocabulário, ainda não deturpado pela opressão midiática da Globo que difunde uma pretensa forma de falar da população do Recôncavo, é em tudo igual ao de minha infância no Baturité.Por outro lado, vindo pela praia, chegaram os pernambucanos à zona litorânea de Aracati, Cascavel, Beberibe até Fortaleza.
Dentre as famílias que aportaram em Cascavel vieram membros de uma oriunda da cidade de Goyanna, nas proximidades do Recife. Pelo orgulho que tinham de sua cidade natal e, como era comum na época, foram chamados de “os goyannas” o que, com o passar do tempo, virou sobrenome.
Fincaram-se naquela região e com a necessidade de melhorar de vida, estudar e progredir foram chegando-se a Fortaleza.
Dentre estes os avós de meu sogro, José Maria Goyanna de Oliveira, e os de Paulo Augusto Goyanna, nosso professor.
Este fez caminho inverso ao dos ancestrais: estudou no Recife e em Salvador, formando-se em Engenharia Civil nos idos de 1950 e poucos.
Conheci o professor Goyanna quando fazia o segundo ano da Escola de Engenharia; nesta ocasião não tivemos, porém, muitos contatos vez que foram poucas as aulas que nos deu.
Com tão pouco tempo, no entanto, ficaram famosas suas tiradas engraçadas, como a da lista de chamada contada pelo Vianney e a do telefone que ele ouviu(?) tocar chamando-o, na secretaria da Escola a 100 metros de distância. Saiu para atender e deixou-nos esperando sem voltar para concluir o tema da aula.
Peçamos ao Róseo, ou ao Toni, para contar-nos esta última com mais sabor e detalhes.Devido ao parentesco com Vânia tive oportunidade de visitá-lo algumas vezes no seu edifício na praia do Futuro: apartamentos imensos, um andar para cada membro da família. Recebi sua visita em Salvador, e assim conheci-o melhor.
Era um otimista inveterado; tanto que não consigo entender como fora ser assistente do professor Alcir Leitão, nem de uma matéria tão irracional como Mecânica Racional.

Ou será que não captei nada e o irracional sou eu???
Não era difícil de encontrá-lo no Bar da Brahma tomando uma cervejinha com meu sogro e muitos outros bon vivents que ali marcavam ponto e jogavam conversa no ralo.Construiu casas, edifícios, foi do DAER, de onde tinha muitas estórias que contava com graça.
A mais interessante, porém, foi uma saída genial que inventou para despedir visitas incômodas, que demoravam demais a ir embora, para as quais já pusera vassouras detrás das portas e não se mancavam.
Virava-se para a esposa e dizia-lhe:

“Angelina, vamos dormir que o pessoal quer ir embora...”
Levantava-se e ia armar a rede, que cabra macho dorme é de rede, enquanto Angelina
ficava cheia de dedos se desculpando “... das coisas do Paulo”.


HAJA SACO


Contado pelo Vianney


A cadeira de Mecânica Racional contava com o professor titular, Alcyr Leitão, e o professor assistente, Goyana. Numa certa aula, enquanto o professor Alcyr se empenhava em demoradas e enfadonhas demonstrações dos mais intrincados teoremas, o professor Goyana acompanhava tudo com um olhar distante, sonolento e entediado.
Ao final da aula, na falta de atribuição mais nobre, o professor Alcyr solicita:
-Goyana, faça a chamada.
O professor Goyana, sem o mínimo de interesse pela nobre incumbência, abre a caderneta, encara a classe, que por sinal estava cheiíssima, e começa com voz muito lenta:
-Agamenon?
-Faltou
(alguém respondeu).
-Aurélio?
-Faltou
(novamente responderam).
E então, diante da sala cheia, fecha a caderneta, se vira para o professor Alcyr e num gesto de total desalento conclui:
-Não estou dizendo? Não adianta. É pura perda de tempo.


ALCYR X GOYANNA


Contado pelo Costinha


O Professor Alcyr dava uma aula de Mecânica Racional, “bodosíssima”, sobre as Equações de Lagrange. Aproveitando o assunto, ele, modestamente, explicava que lia, no original, a Mécanique Analytique, livro de Lagrange que conseguiu transformar a mecânica num ramo da análise matemática.
O Goyanna, como acontecia, estava sentado na primeira fila, numa cadeira da ponta.Mas, vamos ao principal.
Com toda esta empolgação o Alcyr, com um risinho maroto, virou-se para o Paiva o perguntou.
-Está entendendo “Seu” Paiva?
E o Paiva sem titubear:
- Estou, professor.
- Mentira “Seu Paiva”. Se o Goyanna, aqui sentado, é meu assistente há quatro anos, e ainda não entende, como é que você, com cinco meses de aula, de primeira, está entendendo?
No que prontamente protestou o Goyanna.
-Deixa de frescura, Alcyr. Minha cadeira seria Construção Civil. Você me botou aqui porque quis...


O PIJAMA


Contado pelo Costinha


O Professor Gouveínha era Diretor do antigo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem – DAER.
Devido ao cargo, tinha o privilégio de usar o carro da repartição quando ia dar suas aulas de Hidráulica Aplicada na Escola de Engenharia. Saudosa memória do Professor Gouveia, do Professor Alcyr e do tempo em que as mordomias eram desse porte.
Como o seu horário coincidia com o do Alcyr, Dr. Gouveia proporcionava-lhe uma providencial carona.
Contava o Professor Gouveia que um dia ao chegar à casa do Alcyr o mesmo estava atrasado e, vestindo somente um pijama, fazia a barba, usando um espelho na sala.
Obs: “Somente um pijama”, mesmo.
Acontece que seu filho menor vinha e puxava-lhe o pijama até os joelhos, deixando-o em situação “constrangedora”. O Alcyr resmungava, assungava o pijama e continuava seu barbear.
O Gouveia impacientou-se com aquilo e vociferou.
- Alcyr este menino não tem medo de ti?
E o Alcyr, assungando novamente o pijama, retrucou.
-E nem eu dele, nem eu dele, nem eu dele...


ERA, MAS COM MUITA ARTE...

Contado pelo Costinha


Recentemente me encontrei, casualmente, com o Professor José Lourenço Mont’Alverne. Animado como sempre. Conversador. Contador de ‘causos’. Foi uma alegria.
O Professor Jose Lourenço (O Batatinha), nosso professor e depois meu colega, na UNIFOR, ensinando Mecânica Geral, fazia parte de um grupo que se reunia todo sábado, no Belas Artes da Pontes Vieira. Além de mim, faziam parte no grupo: Hypérides, Professor Nelson Chaves (O Pato Rouco), Fernando Monteiro (Bomba D’água), Professor Augusto Armando (Zóim), José Lourenço e o Rodrigo, Viana da Funceme e outros. O Rodrigo é o filho caçula do José Lourenço, nesta época menino, encarregado de "tomar conta da bebida" do professor.
Outro dia encontrei-me com o Rodrigo. Não o reconheci.
- Professor Costinha, o senhor não está me reconhecendo? Sou o Rodrigo, filho do José Lourenço, encarregado de "pastoreá-lo".
Como sabemos, o Zé Lourenço é um grande conhecedor e apreciador de música clássica, principalmente tratando-se de Beethoven.
Lembremos da famosa aula de música clássica ministrada para nossa turma, com direito a folheto com descrição dos instrumentos, música do gravados do Fernando (‘Abertura 1812’ de Tchaikovsky).
Ao descrever o Corne Inglês, acrescentou:

“Nem é corno, nem inglês”.


Quando ensinava na UNIFOR, existia o curso de Engenharia de Operação, ministrado à noite. Logo, a turma descobriu o gosto do professor por música clássica. Explorava este fato, puxando o assunto, para embromar a aula. Certa vez, o aluno José do Carmo, o vereador, tentando alongar o assunto sobre música, perguntou.
- Professor, aqui entre nós, dizem que o Tchaikovsky era veado?
No que prontamente respondeu alto e indignado.
-Era, mas com muita arte...

AMANHÃ, CONTINUAREMOS A REUNIÃO...


Contado pelo Cláudio


A propósito do nosso ex-Diretor, o Prof. Barbosa, lembrei-me de uma das várias historinhas pitorescas em que ele é o personagem principal.
A Sudene financiava alguns projetos da nossa Escola de Engenharia. Eram recursos adicionais sempre bem vindos porque suplementavam as verbas orçamentárias da Universidade, sempre insuficientes para todas as necessidades acadêmicas.
Pela sua sistemática de trabalho, a Sudene assinava um convênio com o beneficiário o qual possuía um cronograma físico-financeiro. Sempre liberava a primeira parcela quando da assinatura do respectivo convênio e as seguintes após a prestação de contas de cada parcela anterior.
Na época, os Auditores da Sudene deslocavam-se de Recife por todo o Nordeste, geralmente por via rodoviária, em camionetas de cabine dupla, fazendo prestações de contas em vários órgãos. É óbvio que eram sempre muito bem recebidos porque representavam a perspectiva de dinheiro novo.
Numa tarde de agosto ou setembro de 68, sem aviso prévio, fiscais da Sudene chegaram ao prédio da nossa Engenharia por volta das 16:00 horas, dirigiram-se ao Gabinete da Diretoria e pediram à secretária uma audiência com o Diretor da Escola, na época o Eng. Manuel Henrique Barbosa de Albuquerque. O Diretor imediatamente cancelou as outras atividades para receber o pessoal da Sudene.
Sentaram-se os 3 (três ) Auditores em torno do "bureau" do Diretor. E começaram a conversar. Até então o Diretor estava uma "finesse", até simpático, imagine! Em determinado momento, um dos auditores precisou de um relatório que estava dentro de sua bolsa. Ao abrí-la, o Auditor deixou a vista um revólver que conduzia para sua segurança nas viagens pelas longas estradas desertas e geralmente sem asfalto. Ao ver o revólver, o Eng. Barbosa imediatamente e de forma ríspida cancelou a reunião sem dizer o motivo e com aquela sua maneira de ser disse simplesmente:
- Amanhã a partir da 8:00 horas continuaremos.
Os fiscais da Sudene não gostaram muito porque logo cedo no dia seguinte tinham planejado "auditar" um projeto agropecuário (como gostavam desse trabalho!) e em seguida retornar para Recife. Mas aceitaram a posição, ou melhor, a imposição do Diretor da Escola.
No dia seguinte, na hora marcada, os Auditores entraram na sala do Diretor. Sentaram-se. O Eng. Barbosa abriu a gaveta superior do lado direito do seu bureau, tirou um revólver que trouxera de casa, colocou em cima da mesa e com aquela sua maneira muito pessoal de ser disse para os Auditores da Sudene:
- Agora podemos continuar a nossa reunião. Estamos em igualdade de condições!!!
Por essa e outras é que os desafetos do Prof. Barbosa o chamavam de Barbosão ou Barbosal.
Professor Barbosa é o que está de terno, à direita, com grande parte da turma. Aparecem: Róseo, Ronaldo, Omar, Wanderley, Rezende, Ernesto, Luciano, Guedes, Macedo, Túlio, Cid, José Maria, Samir, Aurélio, o garoto do bombom, Benedito, Professor Pamplona, Hypérides (parcial). Sentados: Dante, Agamenon, Ivens e Neudete. Agachados ou sentados na calçada: Iran, Hugo, Lauro, Ricardo, Costinha, Carmelo, Oto, José Flávio, Miguel e Castro.



Ps.: esta historinha, verdadeira em todos os seu detalhes, não tem nada a ver com aquele "causo" narrado pelo Bené.

TROFÉU


Contado pelo Ivens


O Costinha lançou a idéia de que o Antônio Castro Oliveira, nosso estimado e querido Toni, deveria receber um troféu por ter sido o único aluno, em toda a história da Escola, a ficar em recuperação na cadeira de Mecânica Racional do professor Alcyr.
Na verdade, o professor Alcyr ficou muito “puto” pelo Toni ter atrapalhado o seu recesso escolar. No primeiro encontro na Escola, entre os dois, foi logo dizendo:
- Olha, vai ter aula todo dia, de 7h às 12h, durante 4 dias.
Levou, então, o Toni para a sala de aula. Estavam somente os dois. E ele seguiu, rigidamente, o ritual. De posse da caderneta de presença:
- Antônio Castro Oliveira!

E o Toni entrou no jogo:
- Presente!
Vocês, agora, vão conhecer diálogos e situações as mais malucas possíveis. Aulas surreais. Parece um texto saído de um livro de Kafka. Você começa entendendo e termina não entendendo mais nada.
Na primeira aula:
- “Seu” Antônio, por que não me disse que precisava de nota?
- Pensei que tinha passado e fui pra Limoeiro,
respondeu o Toni
- Grande besteira você fez, pois poderia ter dado a sua nota. Agora, não posso mais.
Ditou uma frase e mandou que o Toni escrevesse no quadro verde. Embora o “Seu Antônio” não se lembre mais, porém só pode ter sido a seguinte, que está perpetuada em mármore no cemitério de Arlington, em Washington (vide foto):

“Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país.”
Assim escrito, o Toni deu aquela puxada:
- Bonita frase! Quem disse, Doutor?
- Foi John Fitzgerald Kennedy
O Toni acreditou que ele estava empolgado e procurou levantar a bola:
- Foi um grande homem, não é mesmo Doutor?
Agora, realmente empolgado, bradou o Dr. Alcyr:
- Aquilo foi um “fila da puta”!
Não restou outra coisa ao Toni do que pensar:
“Tô perdido!”
A primeira aula terminou aí.
A segunda aula foi marcada para a casa do professor, na Av. Dom Manuel.
Chegando lá, o aluno foi conduzido para um gabinete (?) que tinha um quadro negro, uma mesa, livro espalhado por tudo que era canto e uma rede armada em frente ao quadro.
Antes que a aula fosse iniciada, entrou ao recinto a esposa do professor, ignorando solenemente aquela figura estranha ao ambiente: o aluno. Meteu a mão no bolso da camisa do professor e disse:
- Me dê aqui essa caneta, Bruto.
E saiu, pisando firme como entrara.
O Toni, apavorado, pensou:
Égua, nunca vi tanta gente doida junta e tão perto de mim!
E olha que ele não conheceu o filho que, diziam, ser o pior dos três! E teve sorte, pois o professor estava vestido. Era voz geral de que ele, quando no seu gabinete, ficava sempre em trajes de Adão.
Após essas “boas vindas”, a aula finalmente foi iniciada. Vejam o surreal!
Mandou que o Toni se sentasse na rede e entregou a ele um volumoso livro, aberto na metade. Ao pegar no livro o nosso herói tomou o maior susto: era em alemão! E pensou:
- Que porra é essa! Vou é sair doido também daqui! O que será que o diabo desse homem quer?
Logo foi esclarecido pelo Dr. Alcyr:
- Vou escrevendo no quadro esta poesia e você vai me corrigindo.
Quer dizer, as coisas se inverteram!!! O aluno, agora, era o professor!!!!
Escrevia tão rápido que, mesmo que fosse em português, não dava para acompanhá-lo.No final o Toni deu aquela puxada de saco e entrou na maluquice:
- Meus parabéns, Doutor, está tudo certo!"
Deu graças à Deus por ele não ter conferido.
No final da aula ele passou duas questões para serem entregues ao término do “pesado curso”. Na verdade eram duas questões facílimas de mecânica do segundo grau.
Provavelmente, não confiou no poder de fogo do Toni e deve ter pensado:
Se eu bobear, esse “fila da puta” vai me dar mais trabalho adiante.
Na aula seguinte, o Dr Alcyr convidou o aluno para conhecer uma de suas obras. O Toni não se fez de rogado e não perdeu oportunidade de elogiar a obra, o cálculo etc. E, aproveitou e entregou as duas questões resolvidas. Ali mesmo, recebeu o veredicto:
APROVADO COM LOUVOR!

Por tudo o que foi relatado, acho mais do que justo que seja conferido ao “Seu Antônio”o... “Troféu Kafka”.


AGEU ROMERO


Contado pelo Ivens


O Dr. Ageu era uma figura. Andava numa camioneta velha, pick up, caindo os pedaços, da repartição. Acho que ele se apoderou dela e não devolveu mais. Ele e o Genésio foram contemporâneos em Ouro Preto. Tornaram-se muito amigos. Ele costumava almoçar na casa do Genésio. Mas, com um detalhe:
Chegava na hora do almoço, não cumprimentava ninguém. Sentava-se à mesa. Almoçava à farta. Ao terminar, levantava-se e ia embora, tão mudo quanto chegara...


PADRE HEITOR


Contado pelo Ivens


Das primeiras aulas que tivemos na Escola, o único professor que nos desejou as boas vindas foi o professor Heitor. Aproveitou e fez um pequeno “sermão” de como deveríamos nos comportar, como agir depois de formados etc. Então, compreendi a razão do apelido de Padre Heitor. Gostava de fazer sermões. Mas, um outro motivo era - por ser muito católico, tendo uma saliência na testa, de tanto fazer o “sinal da cruz”...

A REVISÃO


Contado pelo Ivens


A cadeira de Geometria Descritiva era um terror para grande parte da turma. Eu, no entanto, me dei muito bem, pois tinha tido uma ótima base no Liceu, por incrível que pareça. Neste mesmo caso estavam o Emanuel e o Ernesto. O terceiro científico era específico para alunos que iam fazer engenharia. Tínhamos um professor, major do exército, e também professor do Colégio Militar, que nos exigia muito com essa matéria.
Após as provas do Professor Heitor, geralmente somente duas questões, as notas baixas eram uma constante. Então, os alunos iam sempre pedir revisão. Formava-se, por isso, uma fila, em frente ao Gabinete dele, que atendia a um de cada vez, como num confessionário.
Estavam na fila a Angelina e o Joaquim, talvez o mais irreverente que passou na Escola. Quando chegou a vez da Angelina ela, ao dirigir a palavra, disse:
- “Padre” Heitor...
Ele, de imediato, levantou a mão em sinal de “pare” e disse:
- Minha filha, se retire.
Ao cruzar com o Joaquim, este estava com um sorriso de orelha a orelha, e fazendo o gestual de “top top”, disse:
- Angelina, tu “tá” fodida!
E ela:
- “Tô” mesmo!...

EVIDENTEMENTE

Contado pelo Ivens


O Professor Ormídio, de Cálculo, sempre concedia revisão nas provas dele. Com um detalhe - ele fazia comentários na própria sala de aula, perante todos. O Agamenon tinha tirado 1,5 e a nota fora arredondada, como era de norma, para 2,0. Ao comentar a prova, disse, seguida de uma gargalhada da turma:
- Senhor Agamenon, eu revisei a sua prova. De fato, o senhor merece meio ponto a mais. Porém, evidentemente, de nada adiantou, pois eu já havia arredondado a sua nota... Continua com o mesmo 2,0!


A PROVA DE CONFIANÇA


Contado pelo Ivens


A nossa turma rompeu uma tradição da Escola, desde a sua fundação, no final da década de 50. Foi a primeira que preencheu as 90 vagas disponíveis. No ano anterior, apenas 24 tinham sido aprovados. Na segunda chamada ninguém foi aprovado. Houve uma reprovação generalizada, principalmente no Nordeste. Por esse motivo, o Governo João Goulart instituiu cursinhos preparatórios para escolas técnicas (engenharia e agronomia), possibilitando uma melhor capacitação e aprovação. Como mais de 110 foram aprovados (quem sabe o número exato?), o Governo acabou autorizando a matricula de todos os aprovados no Vestibular de 1964.
Esta “invasão” de “bixos” gerou uma grande preocupação, tanto no corpo docente como discente da Escola. Era uma ameaça à principal característica da Escola de Engenharia do Ceará: os estudantes seguiam um “Código de Honra”, solenemente jurado, que não usariam de meios ilícitos para fazer suas provas. Ou seja, ninguém “pescava”, ninguém “colava”. Essa tradição era mantida, pois as turmas eram pequenas e todos se conheciam. A Escola parecia um “Clube do Bolinha”. Acho até que o número de novos alunos era igual ou superior ao dos alunos antigos.Nós todos fizemos o juramento, como relatado adiante. E, passamos a ser fiéis seguidores e a ser chamados de “bichos”, sem o “x”.
O Professor Milton Ferreira de Sousa, o Miltoff, que já conhecia parte da turma, do cursinho preparatório, resolveu fazer um teste da fidelidade ao juramento.Passou-nos uma prova de Física que poderíamos levar para casa. O seu tempo de duração seria de duas horas sem poder fazer consultas. Permitia iniciar a prova, quando nos sentíssemos seguros de que tínhamos estudado o suficiente. Não me recordo se foi num fim de semana.
Na minha casa eu tinha feito, em baixo da caixa d’água, um apartamento para estudar. Lá eu tinha uma estante com os livros, uma mesa de estudos e um quadro verde. Estudei a matéria, fiz os exercícios que tinha no livro, revisei todos os meus apontamentos de aula. Então, pensei: estou pronto, posso fazer a prova. Apaguei a lousa, fechei o livro do “Resnick” e programei o despertador, para tocar após duas horas. Era aquele de corda manual de nome “Clock”, caso não esteja enganado.
Até então, a prova estava dentro de um envelope aberto. Esperei o ponteiro do relógio chegar no ponto certo e abri a prova. Continha apenas duas questões. Não me recordo mais do teor. Sei que uma delas pedia, caso não esteja equivocado, para explicar o movimento do bumerangue.
Fiquei numa situação que não ia nem para frente e nem para trás. Não sabia como me sair daquelas questões. Fui à lousa, rabisquei alguma coisa, e nada.O tic-tac do relógio me lembrando que o tempo estava passando... Aquela sensação de impotência me dominou completamente. O livro do “Resnick”, em cima da mesa, rindo para mim...
Voltava a ler as questões. Ia à lousa com o giz na mão e não conseguia escrever nada. E o tempo passando.
Resolvi, então, escrever a única coisa que consegui naquela prova: o meu nome completo.
Minha agonia acabou, quando o despertador, estridentemente, anunciou o fim do tempo da prova. Recoloquei-a dentro do envelope tão virgem quanto saíra...
Ao chegar à Escola, perguntei ao primeiro colega que encontrei:
- E aí? Conseguiu fazer a prova?
Ninguém tinha conseguido fazê-la!
Na aula seguinte o Dr. Milton apresentou o resultado da correção. Todos tinham tirado zero, a exceção de um aluno, o Ricardo (caso não esteja enganado) que tinha tirado um dois. O Professor nos parabenizou, dizendo que tinha elaborado uma prova acima da nossa capacidade. Caso alguém tivesse resolvido as questões, saberia que o juramento do Código de Honra tinha sido rompido. Anunciou que a prova estava anulada e que passaria uma outra - esta, na sala de aula mesmo.
Na verdade, tínhamos tirado um dez... de Honra!

VIII - A T-68 E OS “CAUSOS”

Passamos, a seguir, a relatar os fatos pitorescos, aos quais estamos chamando de “causos”, de diversos dos nossos colegas.


VIAGEM VIRTUAL AO PASSADO DA T68

Contado pelo Marcos Antônio

Sentamo-nos no último banco, defronte para o Centro de Cultura Germânica, na diagonal com o palacete da Reitoria.
Este palacete pertenceu a José de Alencar

Estávamos o Muniz, o Vianney, eu e outros que tínhamos aquele banco como local de atualização do ocorrido nos dias de espera pela formatura, repouso das provas e vista do que se passava nas cercanias.

Aponta um carro preto de representação da Reitoria para contornar a rótula da esquina da João Pessoa com a 13 de Maio. O Muniz levanta-se, agita o braço para se fazer ver pelos que vinham no carro e grita:

- “Rei Tolete!!!”

De imediato abaixa-se um vidro lateral na traseira e vemos todo sorridente a acenar e cumprimentar-nos o Reitor Fernando Leite. E satisfeitíssimo continuou para a Reitoria...

A lembrança acima assomou, de imediato, ao ver no Google um mapa e fotografia da região de nossa Escola.


Visto do alto o quarteirão dividido meio a meio entre a Escola e o CEU (Clube do Estudante Universitário) parece o mesmo no que tange à disposição dos prédios. Não sei se ainda é CEU ou virou inferno com tantas mazelas que assolaram nossa Universidade.
À nossa esquerda, entrando pela João Pessoa, a casa antiga que, junto com outras, fazia parte do complexo da Escola, na lateral da 13 de Maio, onde funcionou por muito tempo o DAWBS. Este, o Diretório Acadêmico Walter Bezerra de Sá, fora meu primeiro contato com a Escola, trazido por meu irmão Jorge Alberto, da T65, conhecido como “Capitão Galvão”, e que foi seguidamente membro da sua Diretoria. Ali pontuavam os líderes, a turma do totó e também os que não tinham televisão em casa e ficavam para assistir o programa do Renato Aragão na TV Ceará, ou o noticiário...
Seguindo em frente, aproveitando as casas antigas, ficavam algumas das salas de aula, em especial das turmas mais adiantadas da Civil.
No prédio interno paralelo a tais casas antigas formando do alto um paralelograma, de um só pavimento, circundado de varandas que davam para um pátio ficavam outras salas de aula e laboratórios.
Na lateral externa ao tal paralelograma, à direita deste, no limite com o CEU, ficava outro prédio, também de um só pavimento, perpendicular à João Pessoa, onde situavam-se oficinas e apoios diversos.
No fundo, dando para a Rua Carapinima, em um lado menor do paralelograma, estavam laboratórios; dentre estes o de Química.
Na frente, na João Pessoa, ficava o prédio da Administração.
Paralelo a este e como outro lado menor do paralelograma estavam outras salas de aula.
No centro do pátio, em prédio de pé direito elevado, ficava o laboratório de Hidráulica. Após este havia uma alameda que interligava os dois lados maiores do paralelograma, perpendiculares à João Pessoa.
A maior parte do tempo estivemos restritos à ala paralela ao fundo do prédio da Administração. Aí cursamos o segundo ano, na sala de Desenho, por ser a maior de todas e nossa turma ser bem grande. Do terceiro ano em diante houve a divisão do curso entre Civil e Mecânica e passamos a ocupar salas menores no entorno e perímetro do paralelograma.
E o primeiro ano, onde foi???
Vejo pelo Google que não há mais o prédio de nossa iniciação à carreira de Engenharia.
Desde o cursinho da Sudene, ocupamos parte de um prédio que ficava entre a Rua Carapinima e a Rua Tereza Cristina, que era o anexo da Escola. Lá também ficavam os laboratórios de Física. Hoje é o Shopping Benfica.
O Kremlin

Havia nele um pátio com bancos de cimento, como se fora um auditório, e ali ouvimos em meio a uma reunião qualquer a notícia da morte do Presidente Kennedy, em 1963, e lá também soubemos em 1964 do maior vexame que nosso país já passou que foi a “gloriosa” de 1° de abril. O local era conhecido por Kremlin, devido a tantas assembléias políticas ali realizadas.
Nesta caminhada virtual e de recordações de lugares tão familiares lembramo-nos de muitos cantos ( o banco das fofocas, a cantina do sanduíche de ovo etc etc...) e fatos ( a solenidade do Código de Honra, os “trepúsculos”, os jornaizinhos, a diretoria da Associação T68, a exposição sobre Engenharia, os passeios para outros estados, o picnic de Maranguape etc etc...) ocorridos nos seis anos, cursinho mais os da faculdade.
Deu-nos um nó na garganta e gostaríamos de deixar este preâmbulo em aberto para ser corrigido e acrescentado pelos colegas.
Falta-nos verve que sabemos possuírem outros colegas para serem relatores de muitos dos fatos que passamos juntos e que mereceriam ser registrados.
Repito, fica este arquivo aberto para complementações e correções de todos os tipos.
Finalmente sugiro que se acrescente à programação uma ida à nossa antiga Escola para o que já estou pedindo licença aos atuais ocupantes de nosso sagrado templo:“ Com licença, seu moço e sua moça, nos deixem dar uma espiada bem dentro de nossas mentes e juvenis corações de 40 aninhos de profissão de fazedores de coisas, que deixaram marcas nestas paredes, nestes avarandados e pátios e que aqui absorveram conhecimentos e forças para caminhar pelo mundo afora, fazendo honra a esta casa concreta e a nossa Escola imaterial, que nunca deixou de também ser deles, como agora é de vocês, e esperam que saberão mantê-la viva para sempre e sempre, Amém!!!”


DE FORTALEZA A SÃO PAULO,

E VICE-VERSA, DE GORDINI

Contado pelo Marcos Antônio

Agachados, olhávamos ora para baixo do carro suspenso pelo macaco, ora para o lado quando o soldador abria o arco para continuar a soldagem.

Em uníssono reclamávamos dele por não usar a mascara protetora própria:
- Você vai ter problema de vista, não demora muito...
- Que nada, doutor, estou acostumado; já tenho anos de profissão.
Continuava deitado debaixo do carro e prosseguia a dar um novo ponto de solda.
Estávamos em uma oficina de ponta de rua em um bairro pobre de Petrolina, ao cair da tarde.
Desde muito cedo do dia anterior saíramos de Fortaleza e por estradas de asfalto e de barro chegáramos, na tarde do segundo dia, aquele ponto em um Gordini.
Este fora um modelo francês, da Renault, e dos primeiros carros de passeio a serem fabricados no Brasil pela Willis-Overland. Não passava de um mini carro, de tamanho menor que o Fusca, e que substituía o Dauphine da mesma marca. O motor na traseira era pequeno e sobrava muito espaço sob o capô. Tinha 845 cc de cilindrada e desenvolvia incríveis 40 cv.
Mesmo com quatro portas, a impressão era de que quatro adultos não cabiam nele. A carroceria era monobloco e a suspensão independente nas quatro rodas.


Gordini 1966. A viagem foi numa "máquina" igual a essa!

Logo pegou um incômodo apelido colocado pelo povo, emprestado de uma propaganda de leite em pó: "Leite Glória, desmancha sem bater". Tudo por conta de uma dificuldade de adaptação da suspensão às nossas ruas e estradas.
Terminava um dia, que não lembro, se de junho ou julho de 1966
.Éramos todos do curso de Mecânica: Danilo Pedreira, da T67, Carlos Gil e eu da T68, que nos aventurávamos pelo sertão nordestino na direção do sul do país.
Paráramos naquela oficina porque o reforço, que Danilo providenciara fazer na suspensão do Gordini, quebrara.
O carro era dele e imaginara fazer tal reforço devido a precariedade das estradas que encontraríamos na viagem.
De Fortaleza até Jaguaribe, a 300 km, a estrada era de asfalto razoável para a época.

Daí até Petrolina, cerca de 350 km, era um Deus nos acuda de todo tipo de pavimento sem asfalto.
Em Petrolina tivemos uma grata surpresa: a estrada até Feira de Santana acabara de ser inaugurada, totalmente asfaltada. Com muitas e gratas recomendações para nos precavermos, vez que estava havendo muitos acidentes, minha irmã, que então era professora no colégio das salesianas em Petrolina, nos encheu de gentilezas.
Chegamos em Feira de Santana e nos despedimos do Gil que ia estagiar na RLAM (Refinaria Landulfo Alves – Mataripe) da Petrobras, onde seu irmão Elmo Alexandre Brasil era Superintendente de Operações.
Seguimos, Danilo e eu, para o Rio de Janeiro a fim de fazermos estágio na Elevadores Schindler.
De Feira ao Rio não tivemos nenhum incidente de monta; apenas as intercorrências normais ao Gordini: a cada 1.000 km rodados parávamos, fosse onde fosse, em qualquer ponto da estrada, para fazer a troca de óleo do motor, verificar a suspensão, checar pneus. Como era pouco potente, nas estradas de Minas cheias de curvas e movimentadas, éramos forçados a ficar atrás de uma fila enorme de caminhões carregando gado, com seu cheiro característico, sem conseguir ultrapassá-los.
Em nossos primeiros dias no Rio ficamos hospedados no bairro do Catete, próximo ao antigo palácio presidencial.
Nos apresentamos para o estágio na fabrica da Schindler, em São Cristóvão, e fomos agraciados com a cessão de um apartamento desocupado de diretor da mesma, sito em frente às instalações industriais, para nos instalarmos.
Tão logo instalados sobreveio-me uma papeira, chamada por lá de cachumba, deixando-me uma semana no estaleiro com as recomendações repetidas do porteiro do prédio:
- Doutor, cuidado com isso, pois se desce...
Não desceu, felizmente.
Conhecemos na Schindler, de inicio, a área de projeto de elevadores, passamos para a fabricação e, por fim, a saga da manutenção.
Ao concluirmos o estágio fomos convidados pelo Diretor Industrial, um alemão boa praça, para irmos a São Paulo visitarmos sua fabriqueta de carimbos datadores, uma grande novidade na época e outras fábricas das quais conhecia os diretores.
Fomos e visitamos também a DKW, fabrica do automóvel Vemag e da perua Vemaguete, se não estou misturando coisas, viagens outras.
“Ninguém se perde no retorno pelo caminho de casa”
Assim foi que sem nenhuma dificuldade chegamos ao interior do Ceará.
Afora a rotina da troca de óleo a cada 1.000 km, a conferência do reforço da suspensão e a checagem de pneus, registro especial não houve no retorno; aliás, não houvera até então...
Nos aproximávamos de Icó e a estrada estava sendo preparada para ser asfaltada.

Faltava praticamente só a camada de asfalto; era uma reta, tudo plano, tudo liso, convidando a correr.
Vínhamos meio distraídos antegozando em breve, mais um dia, a chegada em casa.
De repente, no meio da estrada, uma fileira de pedras que Danilo foi passando por cima com o Gordini, pois eram baixas. Não demorou que ouvíssemos um barulho forte e o carro estancou em cima de uma pedra maior que lhe atingira a caixa de marchas.
Murchou, de imediato, o balão de entusiasmo pelo fim da viagem que se aproximava.Havia que providenciar o reparo para prosseguirmos nossa epopéia, esperando que os deuses nos fossem favoráveis.
Com ajuda de caminhoneiros fomos rebocados até Icó.
Outra vez nos vemos olhando para debaixo do Gordini, enquanto uns mecânicos, que não os futuros doutores, davam o diagnóstico:
- Desgraça pouca é meio de vida, doutor, vocês quase conseguiram acabar com a caixa de marchas toda...
Saímos empurrados da oficina, pois a primeira e a segunda marchas não entravam e apenas com a terceira e quarta andamos cerca de 360 km para chegarmos em Fortaleza.
A partir de 1970, quando já morava na Bahia e ía de carro, anualmente, passar férias em Fortaleza ainda encontrei, nos primeiros anos, a mesma precariedade das estradas e o mesmo tempo de dois dias para cobrir o percurso.
Só não encontrei o soldador na oficina; não trabalhava mais, estava cego.

APELIDO PARA QUATRO

Contado pelo Marcos AntônioO José Maria tinha tem uma irmã que fazia parte do grupo de teatro da Universidade, comandado pelo B de Paiva.
Desta forma se enfronhou também no teatro, nem que haja sido para levar e buscar a irmã no José de Alencar.
Lá conheceu do porteiro, o Ferreirinha(?), ao cenógrafo cenografista, Waldemar Garcia.
Em 1961, ou 1962, a irmã do José Maria foi atriz principal do Macbeth de Shakespeare, peça encenada no Teatro José de Alencar.
Era uma peça inédita em Fortaleza de grande expressão cultural, cuja sonorização ficou a cargo de Orlando Leite do Conservatório Alberto Nepomuceno.
Ela demandava muitos atores e figurantes que foram postos à disposição, estes últimos, pelo Conservatório.
Foi aí que conheci o Waldemar. Era um senhor baixinho, de cabelos grisalhos mais para careca, com um grande bócio; discreto, mas com um jeitinho nada másculo; a-do-ra-va passear pela Guilherme Rocha em suas muitas horas de descanso.
Logo que entramos no cursinho da Sudene, ou no primeiro ano da Escola, não lembro quem encontrou primeiro o Waldemar em seu passeio pela Rua do Ouvidor, se o José Maria, ou eu. O fato é que ficamos os dois meio sem jeito naquele papo sem futuro, doidos para nos desvencilharmos da companhia.
O José Maria, preocupado com a revelação de o conhecer e muito do sabido, tratou logo de espalhar no cursinho que eu era amigo do “Véi Waldemar” e coisa e tal.
O Toni e o Róseo pegaram a deixa e puseram na “rádio”.
Resultado: não me fiz de rogado também; passei a chamá-los da mesma forma e até hoje nosso cumprimento é “Véi Waldemar”, antes de quaisquer prolegômenos...


JUNTANDO CACOS, REVENDO FOTOS DO BLOG ( I )

EM UM DOS BANCOS DAS FOFOCAS

Contado pelo Marcos Antônio

Uma das fotos do blog foi tirada em 27/05/1965, poucos dias após nosso pic-nic no sítio de colega, em Maranguape.

Estão nela o Tadeu, o José Maria, eu , o Joaquim e o Augusto.
Até onde consigo lembrar foi daí que surgiu o causo do Flores, contado pelo José Maria e que virou “verdade” de tanto ser repetido:
Lembro que convidáramos o pessoal da Filosofia, melhor dizendo as mulheres, pois ali eram maioria, e que o Flores cheio do pau passara todo o dia do pic-nic cantando a mais feia delas, talvez.
O que ocorreu desta “cantoria” não sei lhes dizer...
O fato é que no dia seguinte ela tentava arranjar uma forma de chamar-lhe à responsabilidade e ele se esquivava até o ponto em que toparam de frente, no CEU, e veio a pergunta:
- Então, estamos namorando?.
De chofre a resposta desconcertante:
- Não; aquilo era conversa de pic-nic...
Se é vero, não sei; só sei que correu mundo... e pior, em outra foto, se vê que o Flores era indiscutivelmente o dono da garrafa!!!
Com muito alcool na cabeça. Da esquerda para a direita, são da T-68: Aloizio (2), Lauro (4), Castro (5), Marcos Antônio (6), Ernesto (7), Ediberto (8) e Ivens (9). O Flores é o primeiro.



JUNTANDO CACOS, REVENDO FOTOS DO BLOG ( II )

LEMBRANDO O “NEGO” JOAQUIM

Contado pelo Marcos Antônio

Bons tempos em que o chamávamos assim com todo respeito, carinho e camaradagem e ninguém vinha falar-nos de não ser politicamente correto tal tratativa.
As notícias que tenho do Joaquim são de há quase 40 anos.
Ao chegarmos ao Rio para o curso da Petrobras ficamos, o Vianney, eu e mais três colegas sulistas, em apartamento na Rua Viveiros de Castro, em Copacabana.
Próximo ficava o Beco das Garrafas e o famoso Edifício "200". Neste, no térreo, havia uma lanchonete, "A Conquistadora dos Lanches", o local habitual de jantarmos, antes do primeiro salário chegar e podermos variar de restaurante. Acredito que foi aí que encontramos o Joaquim pela primeira vez naquele ano de 1969.
Formara-se em Volta Redonda, em Engenharia Metalúrgica, e estava no Rio a cata de emprego.
Foi ao nosso apartamento umas duas vezes, ou três; me parece que em uma delas junto com o BA, Edilberto. Quando foi sozinho, chegou todo empaletozado o que nos fez perguntar-lhe se ia assumir algum emprego ao nos deixar. Respondeu, com seu otimismo costumeiro, mais ou menos isto:

- Que nada!!! Continuo na batalha para arranjar. Vou pegar o buzu e ver neguinho olhar pro doutor aqui, nesta picardia, com este anelão de engenheiro no dedo e dizer: o mercedão do Dotô deve ter quebrado e ele vai alí pegar o outro!!!

JUNTANDO CACOS, REVENDO FOTOS DO BLOG ( III )

TURMA DO LICEU

Contado pelo Marcos Antônio

A primeira delas é da turma do Liceu onde estão Ernesto, Ivens, Emanuel, Tarcizo (chegou para nossa turma de Mecânica no terceiro ano, vindo de Recife junto com o José Helder) e o FIFLO. Este é o Fernando Italo Ferreira Lima de Oliveira que era um ano a nossa frente na Escola, da T67. Na Petrobras era conhecido como FIFLO, por escrever abaixo da assinatura esta abreviatura.



Eu tambem fui do Liceu.

Fiz o terceiro ano em 1963, ou seja, quase não ia lá por causa do cursinho da Sudene.
É interessante ver a carteira de identidade escolar: turno da manhã, matricula 1440, numero da carteira 40, turma 1... como era detalhada!!!
Tenho lembrança de ser a sala de aula na parte superior, a esquerda de quem entra, no fim da perna do "C".

Fui aluno em Descritiva do Major Facó, professor da Escola Preparatória do Exército, que não me preparou suficientemente para as batalhas com o Pe Heitor.

Também foi meu professor um baixinho, médico, que ensinava Física(?), e vangloriava-se da estória de um cara que levou uma "moça" para se consultar dizendo-lhe que perdera a virgindade ao cair de um galho de árvore em cima de um toco no chão.
Contava ele que se virou para o acompanhante e lhe perguntou, apontando-lhe os genitais:

"Veja se está faltando alguma flepinha???".

Acho que era Mesquitinha o nome dele.

Lembro-me de outro professor do terceiro ano do Liceu, de Química, que foi nosso colega no cursinho da Sudene: também baixinho e chamava-se Tarcisio. Não passou junto conosco no vestibular.

Outra recordação também do Liceu me chegou impertinente, renitente, matracando o juízo.

Veja só em que dá mexer no que está quieto; procurar nos mais íntimos cantos do HD coisas esquecidas, bons e maus momentos...

Hoje acordei pensando no Pedreira; nunca o vi, jamais tive o menor contato com ele, porém fez parte de nossas vidas por, pelo menos, três anos.Quantas greves, passeatas, quebra-quebra de ônibus por conta dele!!! Mas não o conheci, nem na televisão que naquele tempo não tinha a agilidade da de hoje para procurar os importantes para entrevista.
Estou na praça de Jacarecanga, de costas para o Liceu, tendo ao lado o Corpo de Bombeiros, à frente a amplidão da praça com a estátua do Gustavo Barroso ao centro e, mais a frente do outro lado, o prédio onde fora a sede inicial da Escola de Engenharia e era, então, o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno.A estátua continua de braço levantado, apontando para o céu num gesto de discurso, as pombas assentam-lhe na cabeça para ali despejarem suas necessidades; pende-lhe do pescoço uma coroa de flores deixada por alguém que a roubara no cemitério próximo, ainda com a dedicatória ao defunto.
Aparece na esquina, vindo dos lados da Barra do Ceará, um verdão(?) ou marronzão(?), ai minha dificuldade com cores, sacolejando sua carroceria de madeira adaptada sobre um chassis de caminhão.Pára, resfolegando, em nossa frente com o motorista e cobrador assustados ante a iminência do assalto da tropa.
Em um átimo está cheio o ônibus, ensardinhados todos que entraram por portas, janelas e ainda pendurados nos vergalhões que tentavam atrapalhar a passagem por estas.

Daí saímos todos para mais uma passeata, para reclamarmos do Pedreira, para os quebra-quebras de seus ônibus...

JUNTANDO CACOS, REVENDO FOTOS DO BLOG ( IV )

A VIAGEM PELO NORDESTE.

Contado pelo Marcos Antônio

A excursão para Recife, Paulo Afonso e Salvador ocorreu entre 10 e 19/09/1965.Saímos de Fortaleza, via Rio Grande do Norte: passamos em Mossoró e sobre a barragem do Açu e nos dirigimos ao Recife.


Parada na ponte sobre o Rio Jaguaribe, em Aracati, no início da viagem para Recife.

O abastecimento do “Arara”, o ônibus da Escola, era feito em residências do DNER, onde os futuros colegas atendiam à carta de recomendação de alguma autoridade do mesmo órgão em Fortaleza.
Eu, Muniz e Augusto, fazendo turismo.
Em Recife cumprimos programação de turista e depois nos dirigimos pelo interior, via Pesqueira, para chegarmos em Alagoas e atravessarmos pela ponte metálica e chegarmos em Paulo Afonso, Bahia.
Ponte Metálica sobre o cannyon do Rio São Francisco, na junção de três estados: Pernambuco, Alagoas e Bahia.

Monumento ao Concreto armado. Complexo de usinas.
Foi impressionante aquela primeira visita a uma instalação de tão grande porte; imagine-se como seria hoje quando o complexo de usinas é bem maior e mais esparso.Daí, por estradas quase todas sem asfalto, percorrendo os caminhos de Lampião, chegamos em Alagoinhas a 150 km de Salvador. Em uma birosca no meio de uma praça causou-nos alegria ver uma flâmula da Escola, de turma anterior a nossa, que compunha a ornamentação.

Dirigimo-nos a Salvador, onde também a parte turística foi o mais importante. Ficamos em Amaralina na Casa dos Filhos e Amigos do Ceará. Visitamos, quase sempre em grupos pequenos, pontos diversos de Salvador.
Fizemos, como previsto, uma visita à Refinaria Landulfo Alves, Mataripe, da Petrobras. Não imaginávamos, sequer, que passados poucos anos estaríamos alguns de nós trabalhando lá, ou no entorno.
A Refinaria de Mataripe

O retorno foi outra aventura pelo sertão. Passamos no local onde a Petrobras havia furado um poço e deu água mineral abundante e quente, o Jorro; posteriormente virou estância hidromineral.
Atravessamos o São Francisco em balsa, entre Ibó e Barra do Tarrachil. Veja-se o relato do Ivens sobre fato ocorrido neste trajeto.
Por fim, estávamos de volta à nossa Fortaleza e à Escola cheios de novidade e conhecimentos turísticos.
Nesta altura eu já não era da presidência da Associação T68; pelo menos não lembro de haver me envolvido nas providências do antes, do durante e do depois.
Quem me substituiu no cargo? Acho que esta viagem foi obra do Adiardo, digo Eliardo. Teria sido do Cleto ou ele deu um pulo logo para o Diretório?
Acabou a Associação com a divisão em Civil e Mecânica no ano seguinte?
Perguntas que têm a resposta escondida na memória e nada me vêm à tona.

JUNTANDO CACOS, REVENDO FOTOS DO BLOG ( V )

NA CORVETA CABOCLO

Contado pelo Marcos Antônio

Fizemos, a turma da Mecânica, uma visita oficial à Base Naval, em Natal, entre fins de outubro e começo de novembro de 1967, para estágio nas suas oficinas.
Tivemos como professor acompanhante o Mario Picanço, aquele que protagonizou o causo que o José Maria conta com esmero da senhora que foi até à RFFSA e saiu-se com:
- “Doutor Picanço, com licença da má palavra...”

São da T-68, da esquerda para a direita: Vianney (1), Muniz (4), Adiardo, digo Eliardo (5), Alberto (6), Gil (7), Marcos Antônio (9) e Guaracy (10). O Professor Picanço é o terceiro.


Visitamos uma draga, a Paraná, que desassoreava a foz do Rio Potengi. Fomos também a Barreira do Inferno, onde se deu o caso do porta-copos high-tech, estivemos nas oficinas da Base Naval, em boates de Natal, em praias e, como coroamento do estágio, nos foi proporcionado um passeio na corveta Caboclo.
Acabara de sofrer reparo na Base Naval e deveria sair a mar aberto para testes, ao tempo em que seria feito treinamento de tiro com a marujada.
Alberto, Gil e eu na corveta.

A Base fica no Rio Potengi e a saída foi tranqüila até a chegada na barra.
Na véspera, fora um dos dias de visita às boates e poucos não encheram a cara; dentre estes nosso colega, que andava com um baú de remédios e era o único que ficava doente, mesmo resguardando-se ao máximo.
Ao sair a corveta da barra do Rio Potengi acabou-se a tranqüilidade; balançava para todos lados e os bebuns e não bebuns da véspera passaram poucas e boas. Era um tal de correr a procura de sanitários e para a balaustrada buscando local para vomitar...
A marujada só olhava e achava graça.
Nisto um dos colegas, acho que o Vianney, perguntou a um dos marujos:
- Onde devemos vomitar???
Ele molhou nos lábios a ponta do dedo, levantou-o procurando o sentido do vento e disse:
- No sentido contrário!!!
Enquanto isto prosseguia a azáfama do treinamento de tiro. Posicionaram-se os marujos atrás do canhão na proa, e de três em três assumiam seguidamente seus postos: o primeiro à esquerda do canhão, o segundo sentado na cadeira deste e o terceiro à direita.
Nada mais fizeram que isto; nem um tiro dispararam.
Desta forma toda a tropa foi treinada e a corveta, que galhardamente passara nos testes, podia voltar.


A CARTA DE RECOMENDAÇÃO QUE NÃO PRECISEI USAR

Contado pelo Marcos Antônio

Quando fazíamos o terceiro ano de Mecânica tivemos a cadeira de Eletrotécnica Geral ministrada por Dr Alexandre Thomé.
Um dos NTIs foi o projeto de instalação elétrica de uma residência. Coloquei nele tudo que a norma pedia: se havia um trecho com mais de 3 m (?) devia-se por caixa de passagem; se o circuito passava junto com outros no mesmo eletroduto dava-se uma folga de tantos por cento para dimensionar este; e mais e mais detalhes de norma.
Devo ter feito uma boa figura, tanto que consegui um estágio em J Thomé a partir de 1967.
Participei, com o apoio de Dr Alexandre Thomé e Dr José Armando, de projetos elétricos de muitas indústrias que se instalavam no Ceará e cercanias com o aporte da Sudene.
A maioria delas, implantadas naquela época, foram projetadas e tiveram a execução da parte elétrica feita por J. Thomé.
Não só para empresas se trabalhava ali. Lembram da Praça do Ferreira iluminada por um poste só? O cálculo foi ponto a ponto para determinar a inclinação que deveriam ter os refletores. O Clube de Engenharia, na Praia do Futuro, também teve que ter cálculo ponto a ponto porque os postes de um lado ficavam muito próximos à quadra.
Concluído o estágio, havendo passado para fazer o Curso de Engenharia de Equipamentos da Petrobrás, recebi uma carta de recomendação de Dr Alexandre; foi minha primeira e última.
Não foi preciso usá-la para mostrar, onde quer que fosse, que houvera aprendido as lições que me dera de “serenidade, inteligência e lucidez na resolução dos problemas novos e perfeita assimilação dos ensinamentos ministrados”.
Muito obrigado, Dr Alexandre, dentre todos que se me apresentaram como professores não tiraria o chapéu para boa parte deles.
Faço-lhe reverência por ter sido o que mais gostaria de homenagear na passagem destes 40 anos de profissão de engenheiro.

MANUEL PIPETA

Contado pelo Vianney


Estávamos no segundo ano e participávamos de uma aula prática de química industrial ou tecnologia química, algo assim. O professor, cujo nome não me recordo, era conhecido por alguns pelo apelido de Pavão devido a um detalhe na cabeleira que ostentava sempre uma espécie de penacho no cocuruto.
A certa altura da aula era necessário a utilização de uma pipeta, aquela ampola de vidro, aberta nas duas extremidades para medir com precisão volumes líquidos. Uma das pontas é mergulhada no líquido e na outra faz-se uma sucção para que seja introduzida uma quantidade aproximada do material. Em seguida controlando-se a abertura na extremidade de cima com o polegar deixa-se escorrer o produto pela parte inferior até que a escala graduada do instrumento indique que o volume desejado foi atingido.
Como na bancada onde estávamos trabalhando não havia a tal pipeta, o professor Pavão solicitou que o Manoel Macedo providenciasse uma, num armário próximo.Depois de alguns minutos de espera, com a aula interrompida, o professor resolveu apressar a coisa.
- Manuel, cadê essa pipeta, rapaz? Estamos todos esperando.
Ao que Manuel respondeu preocupado:
-Professor, estou procurando, mas não encontrei nenhuma inteira. Todas estão furadas.
Daí surgiu o nome carinhoso de Manuel Pipeta com o qual nosso colega teve de conviver por longo tempo.

PORTA COPOS HIGH TECH

Contado pelo Vianney

Nossa turma de Mecânica fazia uma visita à Base Naval em Natal. Na época, sob gerência da Aeronáutica era desenvolvido um projeto espacial que, acredito, teria como objetivo lançar, no futuro, um satélite brasileiro. A programação do estágio, portanto, não poderia deixar passar a oportunidade de incluir uma visita à Barreira do Inferno, onde ficava a base de lançamento dos foguetes.
O oficial que nos ciceroneou no local, como era natural, mostrava tudo com muito orgulho que de certa forma também nos contaminava. Vimos a oficina onde os foguetes, pequenos é verdade, eram montados e os testes de qualidade durante todo o processo.

As plataformas de lançamento, na verdade estruturas montadas em caminhões. Na sala de controle onde os lançamentos, de curta duração é verdade, eram acompanhados, nos deparamos com uma parafernália de equipamentos eletrônicos que assim num primeiro contato não dava para captar bem o que faziam ou como operavam. Mas tudo contribuía para acentuar mais e mais o clima de ambiente ultra sofisticado com a mais avançada tecnologia da área, a ponto de confundir nossas cabeças que a essa altura já não distinguiam os objetos mais comezinhos do dia a dia no meio daqueles apetrechos high tech. Tudo parecia coisa de filme de ficção
.Assim, Marcos Antônio, embevecido como os demais, interrompeu a explicação do guia e perguntou:
- E este dispositivo aí na parede pra que é que serve?
O oficial guia parou, olhou para cima, respirou fundo e respondeu já sem nenhum sinal de orgulho:
- Bom, isto é apenas um porta copos.

EXCESSO DE ZELO OU COISA DE VEADO

Contado pelo Vianney

Da turma da Mecânica, eu, Jair Lustosa e Marcos Antônio ingressamos na Petrobrás.
Antes de sermos designados para o órgão de lotação, tínhamos de passar por um treinamento de especialização no Rio de Janeiro, durante um ano. Na viagem de ida, eu e Marcos Antonio fomos no mesmo vôo. Era um avião turbo hélice da Vasp, modelo Viscount. O trajeto fazia escala em Natal, Recife e Salvador. Em cada uma dessas paradas os passageiros desciam e embarcavam novamente.
Como marinheiros de primeira viagem, enquanto aguardávamos no aeroporto de Fortaleza, ficávamos exercitando possíveis situações, para não cometermos nenhuma gafe que revelasse nossa posição de neófitos.
E se acontecer isso? Bom, nesse caso faremos assim. E se solicitarem mais isso? Bem, nesse caso procederemos assado e assim por diante. De repente descobrimos que eram tantas as possibilidades de imprevistos que optamos por uma regra mais geral. O melhor era observar o que os outros passageiros faziam. E se mesmo assim fôssemos questionados por algum motivo responderíamos educadamente: “Desculpe, eu estava distraído”.
Nossos receios eram infundados. Pelo menos durante a viagem nada de inusitado aconteceu que nos desmascarasse. A surpresa estava guardada para o procedimento de entrada na portaria do Hotel Ambassador, na Rua Senador Dantas, na Cinelândia. Depois de preenchidas as fichas de cadastro o empregado da recepção entregou as chaves dos apartamentos.
Nossa reação foi imediata:
- Um apartamento para cada um? “Ta” louco, macho, basta um pros dois.
O empregado achou muito estranho e pediu para confirmarmos.
- É isso mesmo? Um para os dois?
- Sim, era isso mesmo. Pra que esse desperdício de um apartamento para cada um?
Assim foi feito. O empregado recolheu uma das chaves e comentou algo baixinho com o seu colega. Não deu para ouvir. Mas deve ter sido qualquer coisa relacionada com o excesso de zelo dos empregados da Petrobras ou, então, que se tratava de coisa de cearense veado.

DISCRIMINAÇÃO: O CARIRI TEM DISSO SIM

Contado pelo Vianney

Nossa turma de Mecânica estava estagiando na região do Cariri. O programa consistia na visitas a diversas indústrias locais entre Juazeiro, Crato e Barbalha. Essas indústrias contavam com o apoio técnico da Universidade através de um convênio conhecido como Programa Asimov em homenagem ao professor americano que o concebera. Terminada a primeira etapa, num fim de semana, um dos coordenadores do projeto, residente no Crato, nos convida para uma visita a um clube na região serrana próxima à cidade.



Chegamos ao Clube Grangeiro empurrando a Kombi. Já não foi um bom cartão de visita...

Ao chegarmos ao clube e conferirmos a mulherada na piscina ficamos bastante eufóricos quanto aos desdobramentos que poderiam se seguir. A expectativa era bastante razoável. Estudantes de engenharia, chegados da capital, teriam necessariamente que fazer o maior sucesso com as “garotas” como se dizia na época.
Inicialmente, a título de aclimatação, foi tentado um joguinho de futebol que não durou muito por falta de preparo físico da maioria. Depois, alguém apareceu com uma garrafa de pinga que durou menos ainda do que o jogo.
Aí, então, fomos à piscina para testar o prestígio do conjunto. Começou, então, a etapa decepcionante da história. Nem bem caímos na água, todos os freqüentadores se retiraram. Não apenas da piscina, mas do local. Simplesmente foram embora resmungando. Cheguei a ouvir o diálogo de duas moças ao se afastarem:

Piscina do Clube Grangeiro, em Crato, local do banho do "cabocal"

-É fulana, hoje aqui deu um “cabocal”, hein?
-É, esse clube já foi mais bem freqüentado.
Para quem já se imaginava inserido na fatia nobre da sociedade e teve seu primeiro contato com a discriminação foi uma dura experiência.

Segundo o Ivens, que é da terra, devemos ter sido confundidos com juazeirenses. A rivalidade entre as duas cidades, na época, chegava a esse ponto...


O DIA DO NÃO FICO

Contado pelo Vianney

O professor Homero tinha uma missão bastante difícil. Fora designado para a cadeira de Física após o afastamento, por razões políticas, do professor Milton Ferreira, o respeitado, admirado e querido Miltoff. O paradoxal estava na existência desse sentimento de estima pelo mestre apesar de, como regra geral, as notas da turma, em Física, serem quase sempre de medianas a ruins. Parece que havia um entendimento implícito de que sendo a competência do Miltof inquestionável e suas posições políticas tão simpáticas, mais dia menos dia a matéria seria mais bem absorvida.
Foi assim com indisfarçável antipatia que recebemos aquele novo professor: branquelo, esguio, olhando por cima dos óculos e com um sotaque esquisito (tinha feito doutorado na Inglaterra).
Se as notas com o professor Miltof não eram grande coisa, as notas da primeira prova do professor Homero foram um verdadeiro desastre. Afora alguns raros cinco, a grande maioria ficou mesmo amargando notas três, dois ou até menos. A grita foi tamanha que os líderes da classe conseguiram que o professor considerasse a possibilidade de anular a prova e dar uma segunda oportunidade a turma.
Naquela época, a turma era única. Não havia ainda a separação nos cursos de Civil e Mecânica. Com a classe quase cheia, mais de sessenta pessoas, o professor Homero anuncia que havia concordado com a realização de nova prova. Ao invés de aplausos, porém, o que veio foi cobrança braba. Marcos Antônio, de pé, cabeça erguida, questiona:
- Sim, mas a prova vai ser como a primeira? Pra “lascar” todo mundo?
O professor Homero não gostou do tom de voz e muito menos do termo “lascar.” Vermelho, segurando os óculos contra a face com o indicador da mão direita aponta a porta de saída com a outra mão e ordena ao Marcos:
- Toutô, o xenhor xe retire da xala (em português : Doutor, o senhor se retire da sala).
Marcos, sem vacilar, recolhe livros e cadernos e caminha na direção da porta com pisadas duras (tum, tum, tum). Antes mesmo de cruzar a porta, um segundo se levanta e faz a mesma coisa e depois mais outro e mais outro e mais outro. Não chegou a se formar nem fila na porta de saída tanta era a disposição e velocidade das pessoas de abandonarem a sala de aula, uma após a outra (tum, tum, tum).
O professor Homero assistia a tudo meio perplexo e se recostou na carteira onde estava sentado o Wanderley, bloqueando, assim, a sua saída. E o Wanderley ficou na incômoda posição de assistir ao esvaziamento progressivo da sala sem poder aderir ao protesto.
Até que restaram somente eles dois. O professor aturdido e o aluno desesperado. Aí o Wanderley conseguiu terminar o impasse de forma até elegante:

-Professor, me desculpe, mas, por favor, saia da minha frente, pois aqui eu também não fico.

E o professor Homero foi o expectador solitário do último tum, tum, tum das passadas raivosas das mais de sessenta pessoas que se retiraram da sua aula no Dia do Não Fico.


GEOMEQUÍMICA

Contado pelo Vianney

Morei durante algum tempo numa pensão na esquina da Floriano Peixoto com Clarindo de Queiroz em frente à Associação dos Merceeiros. Um dos companheiros de moradia, estudante de medicina, era o paraibano Jurandyr, natural de Cajazeiras.
Logo nos primeiros meses do ano letivo, o Jurandyr foi diagnosticado como portador de um tumor no cérebro e teve de interromper o estudo para fazer tratamento. Através da Universidade, foi para São Paulo onde uma cirurgia resolveu o problema que ainda estava em fase inicial. Retornou para Fortaleza, mas, a essa altura, quase meio do ano, não dava para recuperar o tempo perdido e assim só poderia retomar o curso de medicina no ano seguinte.
Enquanto isso procurou nos colégios alguma oportunidade de lecionar alguma matéria para encher o tempo e, é claro, faturar alguns trocados. Afinal o esforço em cima dos livros no recente ano de cursinho pré-vestibular lhe dava, em tese, um diferencial muito significativo no mercado. O problema é que, mais uma vez devido o adiantado do ano letivo, não apareciam necessidades nas áreas em que ele se considerava o ban ban ban: química, biologia ou afins. Por um capricho do destino só conseguiu, no Colégio São José, uma vaga para ensinar matemática, mais especificamente geometria.
Jurandyr não sabia quase nada de matemática, muito menos de geometria mas mesmo assim topou o encargo. Acreditava que algumas leituras nos livros indicados pelos colegas da Engenharia seriam suficientes para se desincumbir da missão. E assim eu fui procurado e indiquei os livros que, na realidade, ele nunca se interessou em abrir.
No dia da aula inaugural, Jurandyr senta solenemente na cadeira de professor e gasta quase todo o tempo fazendo a chamada, a título de conhecer a turma. Depois pergunta onde o professor anterior tinha parado. O aluno mais dedicado esclareceu que ele iria iniciar o estudo da circunferência.
Com o ar mais professoral possível, Jurandyr desenha no quadro, com o giz, uma circunferência meio torta e começa:
-Turma, essa figura é uma circunferência. Olhando assim à distância vocês têm a impressão de que ela é formada por uma linha contínua. Se levarmos, porém ao microscópio veremos que, na realidade, se trata de pequenos fragmentos de carbonato de cálcio. Alguém sabe o que é o carbonato de cálcio?

Não, ninguém sabia.
-O carbonato de cálcio, continuou o ilustre professor de geometria, é o resultado da reação do ácido tal com a base qual e patati e patata.
E a aula prosseguiu discorrendo sobre tabela periódica dos elementos, gases perfeitos, peso atômico, número de Avogadro e por aí vai.
Se por um lado os conhecimentos daquela turma em geometria nunca saíram do zero, por outro lado seus componentes tiveram a felicidade de testemunhar a fusão de duas disciplinas até então consideradas com pouca ou nenhuma interface.
Nascia a “geomequímica”. Ou seria “quimiatria”?

OS TEMPOS DO QUARTINHO DO ERNESTO

Contado pelo Benedito

Éramos cinco colegas de turma, cinco amigos com preocupações e gostos diferentes, mas semelhantes em uma notável rotina, a de nos reunirmos quase todas as noites num quartinho que era uma extensão da casa do Ernesto, na rua Antonio Pompeu, esquina com a rua Barão de Aratanha, para estudarmos para alguma prova ou fazermos algum trabalho do curso da Engenharia..
Éramos eu, Ernesto, Hypérides, Cunto e Emanuel. Mantivemos surpreendentemente essa rotina durante cinco anos, não sem acidentes ou atritos, pois, afinal, éramos bem diferentes um do outro. Entre nós havia os que nunca faltavam às aulas e sempre tinham as anotações em dia, e havia também aqueles que às vezes corriam pro quartinho no maior sufoco, para pegar as dicas de última hora ou copiar a matéria que iria cair na prova do dia seguinte.
O Ernesto sempre foi o mais CDF (lembram-se ainda o que essa sigla significa ?), o mais aplicado e era ele que sempre acudia quem não tinha estudado para a prova ou tinha faltado às aulas. Fazendo uma afinada parceria com ele, vinha o Cunto. Por outro lado havia eu e o Hypérides que muitas vezes nos socorríamos dos papiros e das informações desses dois e isso ocorria por conta de tantas atividades extra sala de aula que nós dois tínhamos, como estágios, aulas em cursinhos e participação no movimento estudantil. Na posição intermediária estava o Emanuel, nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Mas, ninguém dentre nós era mau aluno, fazíamos uma turma responsável e preocupada em cumprir nossas obrigações e nos formarmos bem. Assim, durante cinco anos conseguimos manter aquela convivência amigável que ajudou a tornar mais leve e divertida as árduas horas de estudos e trabalhos que tínhamos que enfrentar para terminar o curso da Engenharia.
De longe, sem nunca nos constranger ou importunar, quem docemente completava o cenário do quartinho era Dona Beatriz, a mãe do Ernesto, a qual, soube recentemente, completou noventa anos, firme, forte e lúcida. Já passados quarenta anos de nossa formatura lembro-me enlevado aquelas caminhadas que eu fazia à noite depois do jantar, de chinela e bermuda, da minha casa na rua Barão Rio do Branco para encontrar os quatro colegas da Escola de Engenharia. Eram tempos que bem poderiam ser chamados de tempos do quartinho do Ernesto.

Nosso encontro, quarenta anos depois de formados. Hypérides, Emanuel, Ernesto e eu. Falta o Cunto.

O SUMIÇO DA CARTEIRA DO ERNESTO

Contado pelo Ivens

O Ernesto e eu disputávamos o privilégio de “abrir” a Escola todos os dias. Éramos sempre os primeiros a chegar. Foi assim durante os cinco anos. Acredito que essa tradição já vinha desde o Cursinho da Sudene.
Além de ser o primeiro a chegar, o que caracterizava o Ernesto era a sua inteligência e a estrema dedicação aos estudos. Acompanhava às aulas com vivo interesse, anotando tudo. Sentava-se, invariavelmente, na fileira da frente e na carteira central, em frente à mesa do professor. Ao sentar-se, tinha um ritual. Tirava de uma pasta umas folhas de papel, geralmente, almaço. Dobrava a borda, alisava com uma régua. Com as folhas em pé, dava duas batidinhas, para ajustá-las umas às outras. Conferia os quatro cantos para ter a certeza de que nada estava desalinhado. Colocava as folhas no tampo da carteira, dava uma nova alisada nelas. A partir daí, com a caneta em punho, era só ouvidos ao professor. Dava-me a nítida impressão que ele fazia aquilo com enorme prazer, pela oportunidade que teria de aprender mais.
Um dia, já no quinto ano, eu entrei na sala de aula e percebi o Ernesto sentado na última fileira, encostado na parede. Ele nem estava sentado direito. Estava na ponta do assento, como se o restante estivesse molhado, ou coisa semelhante. A sua pasta nas pernas, e uma cara de pouquíssimos amigos. Perguntei a alguém que estava ao meu lado:
- O que houve com o Ernesto, que além de não estar sentado no lugar dele, está todo emburrado?
Com a mão em concha sobre a boca, acho que foi o Toni, me respondeu:
- Esconderam a carteira dele!
Olhei para o local tradicional e estava lá, a carteira vaga, esperando por ele. Quando argumentei que a carteira estava vaga, recebi o seguinte esclarecimento:
- Não, mas esta não é a carteira dele!
- Espere, e o Ernesto tem uma carteira especial?
- Tem! Não sabia não?
- Mas qual é a diferença que tem de uma carteira para outra? São todas iguais!
- Não, a dele tem um detalhe. Parece que é no assento. E ele só usa esta carteira há bastante tempo.
- Conheço a Ernesto há tanto tempo e não sabia dessa particularidade!
A aula já tinha iniciado e terminei me esquecendo do Ernesto, e me concentrando somente nas explicações do Professor. Pela metade da aula, percebi alguém abrindo passagem pelas carteiras, sem se importar se estava incomodando ou não a quem quer que fosse, com o barulho. Olhei para trás, e vi o Ernesto trazendo a carteira sobre a sua cabeça e, ainda mais, segurando a sua pasta. Abria passagem, dando um chega pra lá num e noutro. Ao chegar à frente depositou a carteira com toda força. Afastou a falsa carteira para um lado, encaixou a sua, sentou-se, fez aquele ritual tradicional, voltando a ser aquele aluno que nada perdia de uma aula.
Dei uma mirada nos rostos da turma e percebi um ar de riso generalizado, significando que todos eram coniventes com o sumiço da carteira...
Até hoje não sei quem a escondeu, e nem como ele a encontrou. Quarenta anos depois já pode ser contada a verdadeira história... Quem foi o autor intelectual e material?


O PSICÓLOGO

Contado pelo Ivens

O Marcos Antônio me lembrou deste “causo” e procurei saber mais detalhes com o protagonista principal - o Toni. Este informou não lembrar. Chegou, inclusive, a questionar:
- Ivens, será que eu não inventei essa história?
Repassei essa dúvida para o Marcos, que buscou o testemunho do Róseo. Ambos afirmaram ter sido a mais pura VERDADE! Então, vamos aos fatos.
No final de 1968 uma Equipe da Petrobrás esteve na Escola, convidando a todos os formandos para trabalhar na Empresa. Observem o prestigio que tinha a nossa Escola, como também a carência de técnicos. Tempos bem diferentes. Eu esnobei o convite, vejam só!

Fazia parte da Equipe um Psicólogo. Era segunda fase do concurso a que todos foram submetidos, incluindo exames de saúde. Mas essa fase praticamente não eliminava. A primeira parte que era teórica foi feita nas principais universidades com caráter eliminatório. A nossa EEUFC teve o maior índice de aprovação. Foram 10 aprovados, salvo engano. Sete da Civil e três da Mecânica para engenharia de petróleo e engenharia mecânica, respectivamente. Entre os nossos colegas, estava o Laurinho que foi "eliminado" minutos antes da aula inaugural em Salvador. Motivo: participou do congresso de Ibiuna. Foi o fato lamentável e absurdo.

Lembro-me de que, em 1965, quando visitávamos a Refinaria de Mataripe, comentou-se que aquele cheiro de petróleo era “brochante”. Não sei se teve alguma influência no meu “não” à Petrobrás...
Dentre as técnicas utilizadas na entrevista, havia uma de deixar o entrevistado confortavelmente deitado por 20 minutos. Era orientado a pensar o que quisesse. Ao final desse tempo, era indagado sobre o que tinha pensado e, dependendo da resposta, o Psicólogo tirava lá as suas conclusões.
Quando foi feita essa indagação ao Toni, ele, prontamente, respondeu:
- Doutor, eu estava louco que o senhor me liberasse, pois senão eu perco a hora do almoço do CEU!!!

O JEEP

Contado pelo Ivens

Na nossa turma existia o grupo do bairro São Gerardo. O Omar e eu morávamos na Bezerra de Menezes, os irmãos Ronaldo e Wanderley na Gustavo Sampaio e, também, o Alcimar. Inclusive o Alcimar tinha uma tia que era minha vizinha, onde ele ficava a maior parte do tempo. Às vezes o Zé Flávio era, também, participante.

A Turma do São Gerardo, fotografada por mim, em Salvador: Omar, Alcimar, Ronaldo e Wanderley
A formação desse grupo ficou facilitada por sermos caroneiros habituais do Jeep dos Pontes. Era um velho Jeep, acredito que da segunda guerra mundial e que, ainda hoje, confirmado pelo Ronaldo, está no poder da família. Portanto, sessentão como nós.Geralmente o Wanderley era quem dirigia. De tanto usarmos o Jeep, ele passou a ser quase que mais um colega, a ter vida, a ter sentimentos. Certa ocasião o Wanderley passou num aperto tal entre dois veículos, que tivemos a nítida impressão de que o Jeep, como nós, tinha se encolhido. Atravessado o aperto eu exclamei:
- Wanderley, só não batemos porque o Jeep se encolheu!
Quase que batemos, em seguida, tal foi o acesso de riso que tivemos. Não deixava de ser um riso nervoso.
Sempre que encontro o Ronaldo, indago sobre o “nosso” Jeep.


O Jeep, nas duas fotos acima, na casa de um sobrinho do Ronaldo, em São Luís, Maranhão. Ainda inteiraço.
O Jeep no seu dia de glória, abrindo o desfile da Escola de Engenharia nas Olimpíadas Universitárias em setembro de 1964. O Ronaldo dirigindo, o Tadeu como escolta e a Miss Engenharia.


O DALTÔNICO

Contado pelo Ivens

O Omar tem ascendência de pessoas inteligentes, justificando a sua competência. É ‘simplesmente’ sobrinho neto do pai da historiografia brasileira: Capistrano de Abreu. O seu pai, Mauricio Abreu, era engenheiro prático. Até a década de cinqüenta era comum o exercício de profissões pelos chamados práticos. Conheci não só engenheiros como advogados e dentistas. Eles tinham uma autorização especial, perante as entidades próprias. O Sr. Mauricio tinha a carteira do Crea. Era funcionário destacado do DNOCS e responsável por obras importantes. Uma delas, a Ponte do Peixe Gordo, na atual BR116, sobre o Rio Jaguaribe. Lembro-me dessa ponte em construção. Era o ano de 1947 e eu tinha quatro anos. Acompanhava os meus pais numa viagem, em carro de praça fretado, do Crato para Fortaleza. Eles vinham para a festa da formatura de uma irmã da minha mãe, no curso de professora, no Colégio das Dorotéias - o mais famoso da época, para moças. Lembro-me de que era um período de chuvas, pois atravessamos o Jaguaribe em um pontão. A ponte, ainda em escoramento, ficava à direita.
Quando comentei com o meu pai que tinha um colega filho do Sr. Mauricio, ele não poupou elogios ao pai do Omar. Contou fatos em que ele superava engenheiros formados.
O Omar entrou no Banco do Nordeste ainda menor de idade, caso não esteja equivocado. Graças a esse emprego, conseguiu, ainda estudante, adquirir um veículo. Mas ele tem um sério problema para dirigir: é daltônico, sem falar na miopia em alto grau.
Mas, graças aos óculos - fundo de garrafa - ele conseguiu tirar a carteira de motorista. Foi para Maranguape, achando que lá seria mais fácil por acreditar que não tinha o teste para daltônicos. Tendo em vista o seu alto grau de miopia, os médicos discutiam se iam ou não conceder a carta. Nisso, ele observou alguém fazendo o teste de daltonismo. Vários retalhos de pano que tinham que ser separados pela cor. Ele, então, pensou: “estou fodido”.
Os médicos, preocupados com o alto grau de miopia dele, esqueceram de fazer o teste do retalho... e concederam a carteira!

OS SINAIS DE TRÂNSITO

Contado pelo Ivens

Uma maneira que o Omar encontrou para saber se o sinal de trânsito estava aberto ou não, foi decorar a posição da luz verde em cada sinal. Era necessária essa providência porque não havia uma norma sobre o posicionamento. Na época, Fortaleza ainda era uma cidade de poucos sinais de trânsito. E, provavelmente, ele mantinha sempre um mesmo roteiro. Mas, não foi nem uma nem duas vezes que observei (de ônibus) o Omar parado num sinal de trânsito aberto, esperando que alguém passasse para ele seguir em frente.
Esta dificuldade do Omar era muito comentada entre nós, na Escola. E argumentávamos a necessidade de uma norma para regulamentar o arranjo dos faróis e o posicionamento único para as cores. Quando o Luciano assumiu, logo após formado, uma Diretoria do Departamento de Trânsito, soube que ele levou adiante essa idéia, que acabou sendo uma norma nacional. Caso o Luciano confirme esse fato, podemos creditar à T-68 esta norma que veio facilitar a vida dos motoristas daltônicos.


A FARRA

Contado pelo Ivens

Nos fins de semana, o Omar gostava de exagerar na cerveja. Hoje, ele detonaria os bafômetros. Contou-me que, após uma farra homérica, veio a tomar consciência de si da maneira mais inusitada. Estava caminhando pelo meio da Bezerra de Menezes, indo para a sua casa, cruzando com as velhinhas que iam para a missa das seis, da manhã, na Igreja de São Gerardo. Só então, percebeu que levava, pendurado pelo dedo, uma corda de caranguejos, crustáceos que ele detestava...

O LIVRO

Contado pelo Ivens

O Cursinho da Sudene era extremamente exigente e obrigava a nos desdobrar no estudo. O Professor Miltoff era um dos nossos professores. Na primeira aula ele escreveu na lousa o nome dele e o livro didático:
Physics – for Students of Science and EngineeringHalliday & Resnick

Imediatamente alguém reclamou:
- Professor, mas é em inglês!
Voltou-se para a turma e disse:
- Se vire!
E completou:
- Eu quero ver vocês, no fim do ano, de olho fundo (de tanto estudar)!

Havia, portanto, uma preocupação, de todos nós, de adquirir livros que possibilitassem acompanhar o difícil curso. Assim, alguém chegou para o Alcimar e pediu uma sugestão de um livro de trigonometria, se não estou enganado. Ele não se fez de rogado, e, de primeira, disse:
- Tem um muito bom, de A.L. Almeida.
O coitado até hoje deve estar procurando esse livro, pois era o próprio nome do informante: Alcimar Leite da Almeida.

O JURAMENTO

Contado pelo Ivens

Quando do nosso juramento do código de honra, o mestre de cerimônia (penso que era o irmão do Cunto), ao proclamar o nome do Alcimar, disse:
- Aulimar Leite de Arruda
Ele, imediatamente, se levantou e foi lá fazer o juramento, mesmo com o nome trocado. E seguiu, integralmente, o código durante todo o período da Escola.

O NOME

Contado pelo Ivens

Um dos livros mais consultados por nós era um de Matemática, do Jairo Bezerra. Ele continha a matéria de todo o ginasial e do científico. Por sinal, um livro excelente. Era de tamanho pequeno, mas volumoso. Capa amarela. O autor, no entanto, nunca soube que um dos nossos colegas se apresentava perante “as primas”, nas boates do centro, com o nome de Jairo Bezerra...


A CONVERSÃO

Contado pelo Ivens

O pastor da Igreja do Alcimar (Batista) era o meu vizinho, casado com a tia dele. E ele, na qualidade de ex-católico, sempre comentava com o meu pai as exigências que os batistas tinham que seguir. Não podiam ingerir bebidas alcoólicas, dançar, fumar, cantar músicas profanas e mais outras limitações. A Dona Ruth (tia do Alcimar), dizia para a minha mãe que o que ela mais lamentava não poder fazer era dançar uma quadrilha de São João. O esposo dela comentava que tentara converter para Jesus o jardineiro da sua Igreja. O jardineiro, quando soube que tinha que renunciar a todas essas coisas que gostava de fazer, não teve dúvidas, justificando:
- Pastor, deixe eu ficar na minha religião católica, mesmo. Eu sei que ela é esculhambada, mas é assim que eu gosto...

AS PORTAS DO CÉU

Contado pelo Ivens

Portanto, na nossa turma já tínhamos evangélicos, raridade na época. No segundo ano da escola, um deles participou de uma viagem de estudos da turma, a Recife e Salvador. Na nossa primeira parada, em Olinda, fomos a uma praia e tudo convidava para uma cerveja bem gelada. Todos nos servimos, menos ele. Mas, alguém levou um copo com cerveja e ofereceu-lhe, insistindo que não havia pecado algum. Ele não resistiu, mas fez o seguinte comentário:
- As portas do céu se fecharam para mim!

A SOLUÇÃO

Contado pelo Ivens

Um colega nosso costumava ensinar álgebra ao filho mais velho de uma tia sua. Em certa ocasião, o primo não conseguia solucionar uma equação de primeiro grau. Pediu auxílio dele. Acontece que, naquele momento, ele estava sentado no trono do banheiro.

De lá mesmo, enunciou a resposta, para espanto do garoto:
- Desses, eu resolvo é cagando mesmo. X é igual a 3!

ÁRABE OU JUDEU?

Contado pelo Ivens

O Samir era nosso colega, desde o cursinho da Sudene. Era um bom aluno. Um outro colega pediu para que ele lhe desse umas aulas de reforço, de uma determinada matéria. Ele, de bate pronto, disse:
- Segunda, quarta e sexta, das três às quatro da tarde, a dez cruzeiros (o valor não tenho certeza) a aula.
Enquanto eu olhava para a cara de espanto do pretenso aluno, pensei: “Mas o Samir é árabe ou judeu? Para ser tão financista assim, só sendo judeu!”

A GUERRA DOS SEIS DIAS

Contado pelo Ivens

Em 1967, no quarto ano, acompanhávamos a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e judeus, no rádio de um fusquinha (não sei se era do Duartinho), no estacionamento da Escola. Alguém tentou intrigar o Samir (árabe) com o Ricardo (judeu). Enquanto o Ricardo ria da brincadeira, o Samir dizia:
- Homem, deixe disso, não se brinca com coisa séria.

O EMPREGO

Contado pelo Ivens

O Dante era o mais velho da turma. Já era bem vivido. Muito tranqüilo e sempre tinha comentários irônicos. Gostava muito de ficar batendo papo naquela área dos pilotis do prédio principal da Escola. Aquele que foi construído pelos alunos do quarto ano da primeira turma da Escola. Existia um daqueles bancos de praça onde costumava sentar, voltado para a Avenida da Universidade. Certo dia, um amigo seu o encontrou e, curioso, perguntou:
- Oh Dante, que emprego folgado foi esse que você conseguiu? Eu te vejo sempre sentado, num prédio ali, perto da Reitoria, sem fazer porra nenhuma!

O TAXÍMETRO

Contado pelo Ivens

O Toni voltava de uma festa, de táxi. Quando o carro parou em frente à Casa do Estudante (na Nogueira Acioly) percebeu que o taxímetro acusava dois cruzeiros a mais do que ele tinha. Não pensou duas vezes e falou:
- Motorista, dê uma ré de dois cruzeiros, porque eu só tenho cinco cruzeiros!

O LIVRO EM INGLÊS

Contado pelo Ivens

O nosso livro didático de Cálculo I, no primeiro ano, era Calculus with Analytic Geometry, do Kiokemeister. O Toni fez questão de comprar e andar com ele debaixo de braço, por todos os lugares, apesar de não conseguir ler... Segundo ele:
- Para impressionar as meninas!!!



AULA DE TOPOGRAFIA

Contado pelo Ivens

As aulas práticas de Topografia eram na pracinha da Gentilândia. A turma era dividida em grupos de quatro ou cinco. O Neudete, que sempre foi muito responsável, ficou num grupo com o Zé Maria e mais outros, que não estavam muito interessados com a matéria. Em certa ocasião, o professor teve que se ausentar e deixou a equipe com a missão de fechar o perímetro da praça. O Neudete ficou fazendo os cálculos da caderneta, enquanto os demais ficaram na sombra ou numa mercearia, matando a sede.

Quando o professor voltou, eles o chamaram à parte e disseram:
- Professor, está vendo aquele rapaz ali? Não quer nada com a vida. Estava aqui bebendo cana. Os pais dele são do interior e o mantém aqui com a maior dificuldade. Quando ele viu o senhor retornar, correu para o aparelho, para fazer de conta que estava fazendo a tarefa.
Naquele dia o Neudete recebeu a maior lição de moral. Quanto mais ele tentava explicar, mais vermelho ficava, mais o professor o repreendia, chamando-o à responsabilidade.


A ANA

Contado pelo Ivens

A cadeira de Geometria Analítica, do Professor Raimundo, foi o terror de todos no primeiro ano. Ele realmente massacrava e não tinha piedade de ninguém. Não raras vezes tinha-se que virar a noite, estudando para as provas.
Assim, era comum alguém chegar de manhã, na Escola, de orelhas e com uma cara de sono terrível. Portanto, quando perguntado o motivo daquilo, respondia:
- Passei a noite com a Ana!
- Que Ana

- Analítica! Geometria Analítica!

O GESSO

Contado pelo Ivens

No segundo ano, na aula de Tecnologia Química o professor explicava o processo de produção do gesso e as suas diversas aplicações. Falava sobre o emprego na indústria de cimento, da construção civil, quando um aluno lembrou o uso na Odontologia. Foi uma gargalhada geral. Quando os ânimos serenaram, o professor explicou:
- É, alguns gramas por ano...

O GOLEIRO GALINHEIRO

Contado pelo Ivens

O irmão do Cleto tinha uma casa em frente à Praça da Gentilândia. Estava desocupada. O Cleto, Ronaldo, Wanderley e o Zé Flávio costumavam, então, utilizá-la para o estudo em conjunto, visando as provas finais.
Resolveram dar uma descansada e foram para a varanda da casa, ouvindo o sucesso da época: “A Banda”,de Chico Buarque. Descurado dizer que todos estavam com fome e as bolachas que o Zé Flávio tinha não eram suficientes para satisfazê-los.
Eis que, de repente, entrou no recinto uma incauta galinha. Pronto, ali estava o fim da fome. O Zé Flávio tentou atraí-la, jogando migalhas de bolacha. Ela, a princípio foi na dele, parou e deve ter pensado:
- Epa! Esta alma quer reza! Querem me comer!
Tratou, então, de bater em retirada em direção ao portão. Mas, o Wanderley já tinha dado a volta, para cercá-la e impedir a sua saída. Na carreira que ela vinha ele acertou um peito de pé, chutando a coitada na direção do Zé Flávio. Este, como um bom goleiro, fez aquela “ponte”, segurando-a com as duas mãos e não largando mais.
Logo em seguida a coitada estava na panela, virando tira-gosto para quem gostava ou não de pinga.
Então, podemos afirmar que a T-68 criou um novo termo. Quando um goleiro deixa passar uma bola fácil, todos gritam: goleiro frangueiro! E quando um goleiro segura uma galinha, chutada a queima roupa? É um goleiro galinheiro!

A FRASE

Contado pelo Ivens

Na casa do Ronaldo e Wanderley havia, sobre a garagem, um tablado que era utilizado para o estudo em conjunto. Além dos dois irmãos, freqüentavam o Cleto, Zé Flávio e o Omar. Este último tinha mais um motivo, além, do estudo: namorar a Regina, sua atual esposa, que morava próximo da casa dos Pontes.

Certa ocasião, o Wanderley não conseguiu convencer ao grupo de um determinado aspecto técnico de um problema. A cada argumento, todos apresentavam um contra-argumento. Ele, então, impacientou-se e saiu-se com essa:
- Quando eu digo que pau é pedra, é pedra mesmo!
Nunca mais teve sossego. Quando alguém ficava numa situação semelhante, dizia:
- Parafraseando o meu colega Wanderley, quando eu digo que pau é pedra, é pedra mesmo!


O NOIVADO

Contado pelo Ivens

Numa dessas reuniões de estudo, todos ficaram sabendo que o Omar ficara noivo. O Zé Flávio, então, inventou a seguinte história, que de tanto repeti-la, ficou a dúvida se fora ou não verdade.
O Omar nunca se decidia pelo noivado. A família da noiva, então, resolveu dar uma ajuda e propiciar-lhe um porre daqueles. Quando ele tornou, todos passaram a cumprimentá-lo efusivamente. Quando questionava a razão daqueles parabéns, todos só apontavam para mão direita, com uma enorme aliança. E ele:
- E eu pedi a mão da Regina em casamento?
Todos, em coro:
- Pediu!
E ele:
- E o pai dela consentiu?
Todos, em uníssono:
- Consentiu!

O CHUTE

Contado pelo Ivens

Alguém, da T68, deu continuidade a um tipo de brincadeira que remontava à Idade Média ou, quem sabe, mais antiga ainda.
Margarida de Valois (1492 – 1549), Rainha de Navarra, relata numa coleção de cem contos, conhecidas como Heptaméron, uma série de brincadeiras para surpreender os incautos.
Na minha época de menino, no Crato, contribui, sem saber, para a perpetuação de algumas dessas brincadeiras, por ela relatadas. Na Escola, a tradição se repetiu, conforme bem lembrou o Omar, embora não tenha sido o autor.
Constava, simplesmente, de encobrir uma pedra com um caixa de giz emborcada. A armadilha era deixada bem no centro daquela passarela que unia as diversas salas de aula. Não tinha um passante que não tivesse um impulso de dar aquele chute. Alguns de bico, outros de três dedos, outros de peito de pé. Não importava o estilo. A reação era a mesma. O grito, o xingamento (filho da puta!) e o saltitar, feito o saci, numa perna só. Isto tudo acontecia com o gargalhar dos que estavam na espreita.
A vítima, a princípio, tinha o impulso de esganar o responsável por aquela molecagem. Mas, logo entrava no espírito da brincadeira e, muitas vezes, ele próprio remontava a armadilha para um novo incauto. Era a sua, vingança maríguina, como diria, anos depois, o vampiro do Chico Anísio.

ATENTADO

Contado pelo Ivens

No quinto ano já nos considerávamos acima do bem e do mal. Nem todas as aulas tínhamos disposição para assistí-las. Principalmente de Contabilidade. Preferíamos ficar sentados naquele pequeno pátio, que tinha em frente, jogando conversa fora. Um dos locais preferidos era um banco que existia, encostado na parede do laboratório de Hidráulica. Dos mais constantes freqüentadores eram o Omar e eu.

Então, sorrateiramente o Ricardo, não sei se com a ajuda do Luciano, “armou” uma bomba de retardo para nos surpreender. Na janela, que ficava exatamente acima desse banco, colocou um balde d’água. O cabo que o sustentava, passava por uma roldana e prendia-se a um saco de areia. Como os dois estavam com pesos rigoramente iguais, havia um equilíbrio estável. O balde para o lado de fora e o saco para o lado interno do Laboratório. Ele, então, cuidadosamente, fez um pequeno furo na parte inferior do saco para escoamento da areia. Com a redução de peso, passou a existir um equilíbrio instável e:
Vupt, foi aquele banho!
O Omar, a principal vítima, com 80% do corpo, após ter tido o impulso de esfolar os responsáveis por aquele susto, teve um consolo:

- Ainda bem que não é mijo!
Momento exato em que o Hypérides tenta se recuperar de um desses atentados. Hugo e Fechine rindo do banho tomado pelo nosso futuro Secretário. Apenas o Dedé (?) tenta dar um apoio moral. Talvez, dizendo: Não é mijo...

CAIXA DÁGUA

Contado pelo Ivens

Nesse mesmo banco, local do atentado antes relatado, costumava participar das conversas o Hypérides Pereira de Macedo, nosso estimado Secretário, orgulho da Turma. Ele já se destacava com a sua inteligência, sua conversa agradável que tinha sempre um tom professoral e recheada de citações enriquecedoras, algumas irônicas.Então, falou da quantidade de cerveja que estava tomando, durante a semana. Achei exagerada e, puxei da régua de cálculo (é o novo!) e cheguei à conclusão que aquela quantidade citada caberia numa caixa d’água de dois mil litros! Ante a constatação dos números, ele estendeu a mão, como querendo tomar de volta o que havia dito, meneou a cabeça para um lado, fechou um olho, e disse:
- Evidentemente, existe certo exagero nessa afirmação...
Na foto acima, o "Banco", local do "atentado", e nós. Aparece na foto: Tadeu, eu, Hypérides, Omar e José Flávio.

AS TORRES DE ILUMINAÇÃO

Contado pelo Ivens

Tão logo cheguei a Fortaleza, dezembro de 1955, proveniente do Crato, comecei a freqüentar o PV. Naquele ano, tinha destaque o Calouros do Ar. Acredito que chegou a disputar as finais. O estádio era muito acanhado. Tinha no centro, no lado da sombra uma pequena arquibancada de concreto armado, por isso chamada “cimento”. O restante do estádio era cercado por uma pequena arquibancada de madeira que não chegava a dez degraus. No lado do sol, ficava a geral, essa não tinha mais do que cinco degraus. De longe dava para perceber que era madeira de péssima qualidade, toda irregular. Os batentes chegavam a ser ondulados. O gramado, quase sempre careca.
Gradativamente, foi melhorando as instalações, substituindo as arquibancadas de madeira pelas de concreto armado. A grande melhoria foi a iluminação para jogos noturnos. Nunca esqueci um fato que confirmam a visão lógica de engenheiro, no garoto de treze para catorze anos. Estava na arquibancada, à esquerda do “cimento”. As quatro torres de iluminação já tinham sido montadas. Naquele dia, estavam sendo pintadas. Dois torcedores, ao meu lado, conversavam sobre a pintura. Um deles disse:
- Eras, mas são burros, porque não começam a pintar de baixo para cima?! É muito mais fácil!

Eu não me contive e entrei na conversa deles:

- Não, tem que ser de cima para baixo, mesmo. Do contrário, iria sujando o que já estava pintado

O segundo, dando uma tapa nas costas do primeiro, disse:

- Arre égua, macho! Tu “é” muito burro! Um menino “rréi” desses sabe mais das coisas do que “tu”!


O TRANSGLOBE

Contado pelo Ivens

Com essas gradativas melhorias no PV, foi possível trazer times do sul, em excursão. Lembro-me bem de um torneio que contou com o São Paulo e o Fluminense. Eram jogos no sábado e no domingo, pois ainda não havia a restrição de 72 horas entre um jogo e outro. Pensava ter sido o Botafogo, mas fui corrigido pelo Cláudio. No São Paulo, chamava a atenção o zagueiro Mauro (capitão da Copa de 62), pela elegância do jogar. O Cláudio também lembrou que no jogo de domingo o São Paulo pediu emprestado, do Gentilândia, um jogador cearense, Fernando Sátiro. Agradou tanto que já foi contratado direto. Chegou a jogar na seleção paulista (vide foto). Nesse time jogava o famoso maranhense Canhoteiro (também aparece na foto abaixo), que chegou até a ser homenageado pelo Ferroviário, clube pelo qual jogara. Segundo o Cláudio era o América (com a palavra os torcedores do Ferrim). Teve azar de não ir para a Copa de 58, e ter surgido na época de Garrincha e Pelé. Mas estava à altura deles.


Nessa mesma época passou por aqui o Botafogo. Fui até ao treino, no PV, podendo ficar junto do Garrincha, embora não tenha pedido um autógrafo. Reneguei meus princípios rubro-negros, mas não podia deixar de conhecer de perto Garrrinha, Didi e companhia. Isso foi antes da copa de 58, logo após a decisão do campeonato carioca de 1957, quando o Botafogo enfiou 6 x 2 no Fluminense. O time iniciava uma excursão que terminou no México. Essa excursão está contada num livro excelente do João Saldanha. Ele explica que não entendia porque o time não estava rendendo bem, muito sonolento. Quando alguém explicou que era o efeito contrário do doping que o time tinha tomado (sem ele saber), para o final do campeonato carioca. Nesse livro, ele conta as façanhas do Garrincha, dentro e fora do campo.

Até o cursinho da Sudene era um assíduo freqüentador do PV. E sempre na arquibancada, à esquerda do “cimento”, e mais próxima dele. Por duas razões: usufruía da sombra dele e era mais próximo do centro do campo. Para tanto, tinha que chegar cedo.

Enquanto o jogo não começava, ficava observando os torcedores. Aqui e acolá reconhecia alguém. Um, que nunca falhava, era um RÁDIO TRANSGLOBE.

Para quem não se lembra era um rádio portátil (?) de uns 40 cm de comprimento, por uns 15 cm de largura e uns 30 cm de altura. Na parte superior existia uma alça, em toda a sua extensão, para segurá-lo. Ele funcionava com quatro pilhas, das grandes.

Numa viagem pelo tempo, consegui fotografar o rádio Transglobe, no PV.
Eu o via de longe, se deslocando junto do alambrado, na direção onde eu estava. Era transportado no ombro de um torcedor. Na primeira vez, não consegui identificá-lo, pois o seu rosto estava totalmente encoberto pelo rádio. Quando ele parou e virou-se para subir na arquibancada, próxima de onde eu estava, foi que reconheci o meu colega de cursinho da Sudene: Benedito Ferreira de Oliveira, o Bené!


O COMUNISTA VERDE

Contado pelo Ivens

No vestibular da UFC de 1963 houve uma reprovação em massa. Na Escola de Engenharia, das 90 vagas, apenas 24 foram preenchidas. Houve uma segunda chamada e ninguém foi aprovado.
O Governo, na época do João Goulart, pesquisou e encontrou o óbvio. Existia um grande fosso entre a preparação do Curso Secundário e o que era exigido nos vestibulares. Somente a elite tinha acesso aos Cursos Preparatórios, criados, principalmente, para preparar os jovens aos exames das Escolas Militares e Banco do Brasil. Com o surgimento da Universidade, passaram também, a aceitar alunos para os exames vestibulares.
O Governo, então, determinou que as próprias Escolas (Engenharia e Agronomia), organizassem, com os seus professores, esses cursos preparatórios. A Sudene financiava e propiciava uma Bolsa (salário mínimo), ao estudante, como ajuda de custo.
Para se habilitar, o candidato tinha que se submeter a três provas: conhecimentos gerais, aptidão e teste de inteligência. Tinha, também, de comprovar a renda familiar. Aqueles de alta renda só seriam aceitos se tivessem tido um altíssimo índice de QI. Era quociente de inteligência mesmo. Não era o atual: “Quem Indica”.
Esse curso foi o embrião de todos os atuais “cursinhos”, pois a metodologia de ensino, a maneira da avaliação foram extremamente inovadoras.

O aluno tinha que manter média sete e, caso aprovado no Vestibular, manteria a sua bolsa durante todo o período do curso. Não poderia ser reprovado nem um ano.
Tinha uma idéia que a maioria dos estudantes do Cursinho era de ex-cadetes das Agulhas Negras. Mas o Benedito me corrigiu. Alguns, eram, de fato das Agulhas Negras (Tarcísio e Jair Lustosa). Outras vieram da EPC (Benedito, Cunto, Carlos Augusto, Iran e Sá), Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas/SP. Tinha nível do científico. Era uma espécie de curso preparatório para a AMAN, essa de nível superior.

A decisão de fazer o vestibular foi uma opção e não uma incompatibilidade política com a vida militar. Houve, na verdade, uma saída em massa, não da AMAN, como imaginava, mas da EPC, no final de 1962. Mas o motivo principal foi uma decisão corajosa. Renunciar a uma garantia de um emprego seguro pelas incertezas da vida civil. O engajamento político se deu, mesmo, na Sudene e na Escola. Na época, alguns deles se engajaram a outros estudantes mais politizados e formavam um núcleo bastante ativo. Estavam sempre promovendo algum tipo de manifestação.

Existia, no cursinho da Sudene, um anfiteatro ao ar livre, onde havia seguidas assembléias. O local era conhecido como “Kremlin”.
Eu era o protótipo do “alienado”, politicamente falando. Minha única atividade era estudar. Entrei na Escola em março de 1964 e, logo no 1º de abril veio o golpe (a grande mentira). Imediatamente, professores da Escola, que tinham sido nossos professores no Cursinho, começaram a ser presos pelos motivos mais idiotas possíveis. Meu tio Luís, irmão da minha mãe, também. Então foi “caindo a ficha”.
Quando veio o segundo ditador, o movimento estudantil se tornou mais intenso. Continuei, no entanto, à margem de qualquer atividade política. Resolvi, então, fazer do papagaio o militante que eu não era.
O papagaio e eu na sua única foto. Deve ser de 1967 e estou com a camisa da Escola.

Passei, assim, a ensiná-lo as palavras de ordem:
“Abaixo a Ditadura!! Fora Costa e Silva!! O povo organizado derruba a Ditadura!!
Interessante que eu ensinava marcando, com o dedo, o compasso de cada sílaba. E também acompanhava com um movimento da cabeça. E ele aprendeu. Dizia a frase e balançava a cabeça para cima e para baixo e abria as asas, fazendo o mesmo movimento da minha mão. Quando ele estava nessa cantilena, ia de um lado ao outro do poleiro. Ele falava num tom de revolta e gana, como que desejando que aquilo acontecesse de fato.
Algumas vezes ele enroscava no - “Fora Costa Silva!”. Ficava repetindo, como dando a entender que o motivo era mandar o Ditador para os infernos.
Quando ele estava nessa militância, vez ou outra ele soltava a frase:
- “O Reitor é baitola!!”
Era, de fato, o próprio comunista verde!
Eu e o papagaio, em 1967. Estou com a camiseta da Escola.

O COMUNISTA VERMELHO

Contado pelo Ivens

Da turma dos ex-alunos da EPC e dos ex-cadetes das Agulhas Negras, destacava-se o Carlos Augusto Diógenes Pinheiro. Foi um dos colegas mais inteligentes com quem convivi. Tinha uma incrível capacidade de fazer contas de cabeça. O professor colocava uma expressão na lousa. Podia ter raiz quadrada, logaritmo, seno, fração etc. Ele fechava um olho, enquanto eu disputava com ele com a régua de cálculo. Quando eu chegava ao resultado, ele dizia, na mesma aproximação que eu tinha encontrado.
O Carlos Augusto, até o segundo ano da Escola, não tinha o mínimo interesse por política. Era receber o dinheiro da bolsa da Sudene e correr para ir gastar com “as primas”, nas boates do centro da cidade. Logo ficava sem dinheiro e saía a pedir emprestado a um e a outro. Como o assunto dele era sempre dinheiro, o nosso colega José Flávio o apelidou de “Patinhas”, em alusão ao Tio Patinhas, das revistas do Walt Disney. Até hoje é conhecido assim.
No terceiro ano, ele deu uma guinada de 180°. Passou a ser realmente um militante comunista. Para fazer as provas, nós quase que o obrigávamos. Dávamos um resumo da matéria, ele estudava um pouco e sempre tinha sucesso nas provas.
Um dos fatos que mais me orgulha foi a grande prova de coleguismo da turma, conhecida como T68. Formamos-nos em 1968, o ano que não acabou e ficou para história do mundo e, no Brasil, o ano do AI5. Estávamos fazendo a última prova na Escola. Era encerrar e não tínhamos mais nenhum vínculo com a Universidade. Foi quando percebemos que não tinha sido permitido que o Patinhas e outros colegas fizessem a prova. Pura perseguição política. Era a cadeira de Higiene, cujo catedrático era o Professor Barbosa, diretor da Escola. Emborcamos a prova e fomos todos à Diretoria exigir que o Carlos Augusto, e os demais, fossem incluídos na lista. Só depois da garantia de que todos fariam a prova, conforme relatado pelo Benedito, foi que voltamos para a sala de aula.
Realmente, ele conseguiu formar-se. Chegou a trabalhar, mas logo desapareceu na clandestinidade. Não o vimos por muito tempo. Pensávamos até que ele tinha sido morto no Chile. Só veio a aparecer depois da anistia. Passou a ser militante do PCdoB. É o seu Presidente, no Ceará.
Nos últimos anos da Escola, ele sempre dormia em locais diferentes, com receio de ser preso na madrugada, prática comum naquela época. Um dia, foi dormir lá em casa, na Avenida Bezerra de Menezes, 1147.
O papagaio, como que adivinhando, amanheceu o próprio comunista. Foi aquela alvorada:
- Abaixo a ditadura! Fora Costa e Silva! O povo organizado derruba a Ditadura!

Aqui e acolá ele repetia:

- Fora Costa e Silva! Fora Costa e Silva! Fora Costa e Silva!

E também salpicava com um:

“O Reitor é baitola!”

O Patinhas acordou assustado. Talvez pensando que estava em meio a um dos comícios relâmpagos. Sentou-se na cama. Olhou para um lado e para o outro, procurando se situar. Estava, como dizemos no Ceará: “ariado”! Então, eu disse:

- Calma, Carlos Augusto, é o papagaio!

Ele olhou para mim, abriu um sorriso de orelha a orelha e disse:

- Mas, Ivens, que papagaio legal!!!

TERRAÇO ITÁLIA

Contado pelo Ivens
http://www.terracoitalia.com.br/ambientes.htm

No segundo semestre de 1967, foi promovido um Seminário sobre Cálculo de Concreto Armado, na sede do, então, DNER. A freqüência foi liberada para os alunos do quarto e quinto ano da Escola.
Um dos temas de maior interesse era sobre Concreto Protendido. Embora constasse do nosso currículo e das apostilas do professor Luciano, não tivemos nenhuma aula sobre a matéria. Portanto, era uma oportunidade impar. Aqueles que pretendiam se especializar em cálculo se apressaram em garantir a sua inscrição. Entre eles, eu!
O palestrante principal sobre protendido era o Dr. Augusto Carlos Vasconcelos, renomado calculista paulista. Um outro palestrante foi o Dr. Aderson Moreira da Rocha. Portanto, era um Seminário de alto nível.
Ediberto e eu com o Dr. Augusto Carlos Vasconcelos, em julho de 1968. A foto foi colhida numa fábrica de pré-moldado. Ao fundo uma viga Y, em concreto protendido - projeto e cálculo do Dr. Vasconcelos. Era utilizado o concreto leve (1.600 km/m³) com argila expandida em substituição à brita convencional.
Na época, o Diretório da Escola estava providenciando estágios de aperfeiçoamento para o período de férias. O Dr. Vasconcelos, além de extremamente competente, era de uma simplicidade cativante. Por isso, eu e outros superamos a natural timidez e solicitamos a oportunidade de fazermos um estágio em seu escritório de cálculo, nas férias de janeiro de 1968.
Passadas as festas do fim de ano, enchemos o velho ônibus da Escola que foi espalhando estudante por esse Brasil afora para estagiar em empresas, as mais diferentes. Estivemos em Petrolina, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e, por fim, São Paulo. Pensava que os únicos passageiros do ônibus que chegaram em São Paulo éramos o Zé Maria e eu. Ambos estagiários do Dr. Vasconcelos. Mas, ele me corrigiu. Não foi com a plebe. Foi de avião, num B-25, pelo Correio Aéreo Nacional!
Nosso ônibus na ponte que liga Petrolina/PE a Juazeiro/BA.
Lembro-me que quando o ônibus circulava por uma das ruas centrais de São Paulo, em busca do nosso hotel, alguém, no meio da rua, gritou a plenos pulmões:
- Baitolas!
Entendemos ser algum cearense entusiasmado por identificar um ônibus da sua terra e falou a palavra mais típica do nosso dialeto.
O estágio foi tão proveitoso que repeti a dose nas férias do meio do ano, agora na companhia do Ediberto.
O que mais nos impressionava no Dr. Vasconcelos era o seu sistema de cálculo. Ele não partia de fórmulas ou tabelas como era o método do Dr. Aderson. Ele se utilizava dos fundamentos, deduzindo a fórmula a partir dos esforços a que cada peça estava sendo submetida. Para o cálculo da fundação, por exemplo, ele ia em busca dos princípios da Mecânica dos Solos. Era pós-graduado na Alemanha e, além de ter um escritório particular era consultor e professor da Universidade.
A principio, pensei que estivesse agindo daquela maneira para ser didático para nós. Mas, não. Era assim que ele sempre procedia. Presenteou-me com uma memória de cálculo de um viaduto na capital paulista. Cada peça estrutural tinha uma folha inteira, aplicando essa metodologia. Ele escrevia com uma caneta Oxford com tinta de nanquim. Tudo isto escrito em papel vegetal, cortado em tamanho ofício. Com isso, podia tirar cópias heliográficas para suas verdadeiras memórias de cálculo.

Nos meus primeiros anos de profissão fui o calculista das minhas construções. Usava a praticidade do método do Dr. Aderson, mas passei a usar uma caneta Oxford...
Apesar desse método ortodoxo de cálculo, o Dr. Vasconcelos foi o primeiro engenheiro brasileiro a usar o computador. A Olivetti fez, em janeiro daquele ano, o lançamento de um modelo portátil, no Brasil, no seu escritório. Parecia uma máquina de escrever grande e o resultado era impresso numa fita de papel. Nas férias do meio do ano já encontrei o computador em pleno uso e tinha uma engenheira só para ele. Tive a oportunidade de trabalhar nele, plotando as coordenadas de um cabo de protensão em uma viga Virandell.
Mas, vamos ao pitoresco. Zé Maria e eu externamos ao Dr. Vasconcelos nosso interesse em conhecer o Terraço Itália. Restaurante famoso por se localizar no prédio mais alto da capital paulista. Alertou-nos que tudo lá era caro e que exigia terno e gravata. Dissemos que estávamos prevenidos quanto aos ternos. Ele, gentilmente, adiantou uma parte do nosso salário de estagiário para não termos surpresas desagradáveis.
Fazíamos nossas refeições naqueles restaurantes de balcão, próximos do Escritório. O interessante é que, a cada dia, comíamos mais e mais barato. O bife extrapolava o tamanho do prato, de tão grande. Não gastávamos com um filé com fritas mais do que dois cruzeiros. Acredito que uns dois reais de hoje.
Assim, devidamente embecados e forrados de dinheiro vivo, nos dirigimos ao prédio. Pegamos um elevador muito veloz que parou no septuagésimo andar. Ao abrir a porta, vimos um funcionário do restaurante, com uma farda espalhafatosa, apontando um outro elevador. Tinha baldeação!

Folheto propaganda do Terraço Itália, da época, guardado nos arquivos implacáveis da Edméia.
Ao entrarmos no restaurante sentimos o ambiente de sofisticação, em um agradável ar refrigerado. Mesas redondas, em diversos tamanhos, todas cobertas com toalhas de linho que cobriam as pernas das mesas; pratos de louça fina; copos e taças de cristal; talheres de prata. Os guardanapos artisticamente arrumados sobre as mesas.
Sentamos numa das primeiras mesas de dois lugares que encontramos.
Aguardamos a chegada do Maitre, em seu smoking preto característico. Antes, ele atendeu a uma comitiva de japoneses (depois descobrimos que era o embaixador do Japão), em inglês. Em seguida, um casal, numa mesa ao lado, falando em alemão.
Aos nos dirigir uma boa noite, o fez em português mesmo. O Zé Maria falou, de primeira, com um sinal de positivo:

- Meu irmão, tem um braminha aí?

Senti como se o Maitre tivesse levado um chute no meio das pernas ou a mãe dele tivesse sido xingada. Estufou o peito, se empertigou todo, acho até que bateu os calcanhares! Aproximou do peito a pilha de menus que trazia na mão e, solenemente, disse:

- Senhor, não servimos cerveja.

Mas, completou afirmando que a única cerveja que ofereciam era a Ouro Fino. Era uma cerveja que fazia jus ao nome, tanto no paladar como no preço. Por sinal, nunca mais achei dessa cerveja, embora tenha procurado pelos restaurantes mais finos, por esse Brasil afora. A Cerpinha, do Pará, lembra um pouco. O Zé Maria não se deu por rogado.

- Vai ela mesmo!

Mas ele, dentro da sua imponência, se vingou direitinho daqueles dois cearenses. Empurrou nas nossas caras dois enormes menus, totalmente em francês. Porém, percebendo a sua intenção, mantivemos a pose, até entre nós, como se estivéssemos compreendendo tudo. Dava para entender bem o preço. Estava em cruzeiros e o menor preço era quinze cruzeiros. Lembrei-me do restaurante de balcão...
Enquanto isso, um garçom, empurrando um carrinho, trazia, dentro de um fino balde com gelo, a Ouro Fino. Não eram garrafas “long neck”, mas eram do tamanho médio, com um papel dourado cobrindo a tampa. O garçom nos serviu e ficou de plantão ao nosso lado, um pouco afastado. Quando fazíamos menção de pegar na garrafa, ele se antecipava e nos servia.
Fui buscar meus conhecimentos de francês lá do primeiro ano ginasial, ainda no Crato. Conhecimentos esses renovados quando tive que estudar mecânica, no segundo ano da escola, num livro russo, traduzido para o francês. Olhei para os lados e vi alguns pratos servidos que era só salada de verduras. Pensei: “não vim aqui para comer mato”. Então, escolhi um prato que tinha absoluta certeza que era carne. Por simples coincidência o de menor preço: quinze cruzeiros...
Quando o Maitre chegou para anotar o pedido, disse o nome do prato em francês, e o mesmo fez o Zé Maria. Ainda hoje ele lembra perfeitamente do nome do prato que escolheu: Entrecôte à Dix-huit.

Ficamos, então, bebendo a Ouro Fino e comendo os aperitivos oferecidos. Patês diversos, fatias de pão, biscoitos, geléias etc. e um desconhecido bastãozinho, que percebemos que era para comer. Era um tipo de biscoito...
Notei, então, um garçom empurrando um carrinho, na nossa direção, com diferentes tipos de talheres. Chegou ao meu lado e indagou se eu havia pedido carne. Disse que sim e arrumou aquela batelada de talheres à minha frente. Em seguida se dirigiu ao Zé Maria:

- O Senhor pediu peixe?- Não!

Com essa resposta o coitado do garçom, que parecia aprendiz, ficou desconcertado. Perguntou de novo e voltou a ter a mesma resposta do Zé Maria, ainda mais incisiva. Deixou o carrinho ao nosso lado e foi falar com seus superiores. De longe, percebi uma conversa entre ele e mais dois. De vez em quando olhavam para nós. Por fim, retornou. Ficou ao lado do Zé Maria e, bem formal, perguntou se ele não tinha pedido o prato Entrecôte à Dix-huit. Com o sim do Zé Maria, ele disse:

- Então, é peixe!

Resolvido esse impasse, os pratos puderam ser servidos. Um outro garçom veio empurrando um carrinho maior com os dois pedidos sob duas redomas de prata. Eram pratos feitos, como é próprio dos restaurantes chiques. Nosso popular PF do restaurante em balcão. O Maitre, primeiramente, serviu ao Zé Maria. Ao levantar a redoma desejou bom apetite com aquela posta de cavala frita. Em seguida, me serviu. Quando ele levantou a redoma de prata, o que tinha debaixo dela?

FILÉ COM FRITAS!!!!


Nas duas fotos acima o José Maria e eu fazendo turismo no Rio de Janeiro. Estamos em frente ao prédio do Ministério da Educação, marco da modernização da Arquitetura brasileira.

A DIARRÉIA

Contado pelo Ivens


No segundo ano da Escola (1965), incentivados por experiências de turmas passadas, resolvemos fazer uma viagem de estudos, incluindo paradas em Recife, Paulo Afonso e Salvador, culminando com as visitas à Petrobrás e à refinaria de Mataripe. Naquela época, a turma ainda era única e não havíamos nos dividido em Civil e Mecânica.
Para tanto, tínhamos que apresentar um projeto para aprovação pela Diretoria da Escola, visando o patrocínio e a liberação do ônibus da EEUFC. Lembro-me que compulsei o projeto da turma do irmão do Cunto, para servir de roteiro. Fizemos uma programação bem elaborada, com mapa da viagem, quilometragem, velocidade média, paradas técnicas e visitas programadas. Conseguimos do DNER uma autorização especial para abastecermos o ônibus nas suas residências, por esse Nordeste afora. É importante destacar que grande parte da turma era muito provinciana, apesar de já sermos universitários, quase todos maiores de 21 anos. Ou seja, nunca tínhamos cruzado as fronteiras do Estado. Lógico, não se incluíam aqueles provenientes de outros estados ou ex-alunos da EPC e das Agulhas Negras e uns poucos que tinham estudado no exterior como o Elmer e, não sei, se o Tom.
Lembro-me bem que, quando cruzamos a fronteira do Ceará com o Rio Grande do Norte, tive a consciência exata de que aquele era um momento especial para mim. Da mesma maneira quando atravessei, pela primeira vez, a fronteira do país. Era Diretor da Ceasa do Rio Grande do Sul (1978) e tinha ido a Uruguaiana. Aproveitei a oportunidade para comprar uns vinhos, no outro lado da fronteira, em Paso de Los Libres/Argentina.
Contando isso, a geração atual custa a acreditar. As minhas filhas, então! A mais velha, com cinco anos, já conhecia Montevidéu e Buenos Aires. A mais nova foi concebida em Teresina, nasceu em Fortaleza, deu os primeiros passos no Aeroporto de Congonhas (com testemunho fotográfico!), andou em Porto Alegre e aprendeu a falar em Brasília. Ambas, com 16 anos já haviam morado nos Estados Unidos.
Um outro exemplo da evolução dos tempos: o jogador Sócrates viajou para a sua primeira partida na Europa, justamente, na copa de 1982! Atualmente os jogadores da seleção não jogaram foi no Brasil! Talvez, por isso, ainda não aprenderam a jogar...

Primeiros passos da Ludmila, no Aeroporto de Congonhas/SP
Assim sendo, como era a primeira grande viagem para alguns, as respectivas mães trataram de mimá-los e cercá-los dos maiores cuidados e recomendações. Eram umas roupas especiais, um lanche, uma fruta, um doce, um travesseiro, um agasalho, uma caixa de remédios etc. Eu me incluo nesse rol. E vale destacar como foi providencial a ação de uma dessas mães, como veremos logo adiante...
As condições de viagem eram muito precárias. Estradas de terra, restaurantes péssimos. Para que se tenha uma boa idéia. Fizemos uma parada para bebermos uma água ou refrigerante num restaurante de beira de estrada. Não tenho certeza se foi nessa viagem ou em outra. Mar serve para dar uma idéia da qualidade dos restaurantes. O Samir pediu uma coca-cola. O dono do bar, antes de entregar, abriu-a, com o dente! Ele só fez pegar a garrafa e emborcá-la, derramando todo o conteúdo e desistindo de outra tentativa.É fácil imaginar como ficaram incomodados aqueles que eram mais sensíveis. Dentre eles, tinha um muito introvertido, de pouca conversa. Muito sério. Na sua mochila tinha cobertor, biscoitos e mais outros trecos e uma lata de Leite Ninho, a estas alturas, já vazia (detalhe importante).Já estávamos em Salvador, nos dirigindo para o Hotel, quando ele teve uma cólica daquelas. Estava sentado num dos últimos bancos e eu, no banco ao lado. O ônibus não tinha toalete. Parar e procurar um sanitário, não ia dar tempo. Como fazer, para sair daquele aperto? Então, veio a idéia coletiva:
- Faz na lata!
E
le não viu alternativa, tal era a situação vexatória em que se encontrava. Assim que ele começou a arriar as calças, todos nós corrermos para a frente do ônibus, tampando o nariz. E precisava mesmo tampar, e bem, o nariz! Acho que o ônibus ficou descompensado, tal o acúmulo de peso na frente.


Foto colhida na ponte que atravessa o canyon de Rio São Francisco, a jusante da Barragem de Paulo Afonso. Todos estes e mais outros, que não estão na foto, correram para a frente do ônibus.
A traseira oscilava mais ainda, para cima e para baixo. E ele, meio de cócoras, com uma mão direita segurando a lata e a outra num banco, tentando equilibrar-se, naquele balanço, e acertar a fininha dentro da lata. E, diga-se de passagem, ele tinha uma boa pontaria! Terminada a função, ele ficou sem ação, e nós:
- Tampa a lata!
- E agora?
- Joga fora, joga pela janela!

No segundo ano, tínhamos a cadeira de Tecnologia Química. Estudávamos os processos industriais em todas as suas fases. Lembro-me, bem, em sentenciar:
- Eis um bom exemplo de tecnologia química: produz, embala e distribui!

OS SOBREVIVENTES

Contado pelo Ivens

Na excursão que fizemos até Salvador, estávamos retornando para o Ceará, na BR-116, no trecho entre Feira de Santana e Cabrobó/PE. Fazia parte de o nosso roteiro atravessar o Rio São Francisco pelo pontão, evitando a ponte em Juazeiro/Petrolina, que aumentaria a viagem em mais de 200 km. Por sinal, somente agora, mais de 40 anos depois, estão concluindo uma ponte, embora exista um lobby dos que dominam a travessia no pontão, para não inaugurá-la.
Estrada de terra e muita poeira. Em determinado trecho, um caminhão não nos dava passagem, obrigando-nos a engolir muito pó. Começamos, então, a incentivar o motorista (quem lembra do nome dele?) a fazer a ultrapassagem. Depois de várias tentativas, conseguimos o nosso intento.
Enquanto estávamos emparelhados, quase todos colocaram a cara pelas janelas e xingaram o motorista de tudo o que era nome: viado (com “i” mesmo, de desviado), filho da puta, corno, filho de rapariga, baitola e outros do gênero.
Eu, por puro medo, fiquei sentado no meu lugar e fiz o seguinte comentário, que ninguém deu a mínima atenção:
- Pessoal, não se brinca com essa gente. Eles são muito violentos e esse motorista pode nos pegar na próxima parada...
Voltamos, agora, livre da poeira, à nossa rotina de viajantes, cada qual se acomodando nos seus bancos.
Não tinham passado dez minutos, quando ouvimos um buzinar estridente de um caminhão. Quando olhamos para trás, quem era? O dito cujo, o motorista xingado. Só que com uma pequena diferença. Com o braço esquerdo estendido para fora da boleia, empunhava um bruto de um 38!
Aqueles corajosos de poucos minutos atrás, em conjunto, se jogaram no assoalho do ônibus. Todos deitados, calados, alguns rezando. Enquanto isso, ouvindo todos os xingamentos de volta e mais os chamamentos para a briga.
Quem nos tirou desse sufoco foi o nosso motorista. Tirou o pé do acelerador e deixou aquele maluco ir embora.
Ninguém ouviu o meu comentário:
- Não falei, seus loucos! Ninguém brinca com essa gente!
Tiramos algumas fotos, todos no pontão, cobertos de poeira, mas, com a graça de Deus, todos sobreviventes...
Os sobreviventes, atravessando o Rio São Francisco em um pontão. Percebe-se o Ronaldo e o Tadeu tentando tirar um pouco da poeira dos cabelos.
Apesar do susto, a alegria prevalecia. Na foto, a tentativa de jogar os sapatos do Elpídio no Rio São Francisco. E ele tentando segurar o braço do responsável...
Outra foto do grupo, após o Elpídio ter salvo os seus sapatos.

CADÊ OS NOIVOS?

Contado pelo Ivens

Nos vinte anos que morei fora do Ceará, sempre vinha passar as férias de fim de ano em Fortaleza. Ou, então, aproveitava as viagens a serviço, para ficar um fim de semana com os meus pais. Numa dessas viagens, eu estava em casa quando o meu irmão, Alexandre Mendelssohn, engenheiro mecânico, e colega do Zé Maria na RFFSA, disse-me:

- Roberto, hoje o Zé Maria está comemorando os 25 anos de casado. Vai ter uma missa na Igreja do Líbano e, em seguida, uma recepção em um buffet.

- E você vai?

- Vou, sim.

- Então, eu vou com você. Considero-me convidado, pois fui para o casamento dele com a Filó, há 25 anos!

A minha filha mais nova estava em Fortaleza, pois tinha vindo para o casamento de uma prima. Fomos, então, todos para a Igreja.
Chegamos um pouco mais cedo e ficamos conversando, no átrio da Igreja, esperando pelos noivos para cumprimentá-los, logo na chegada. Nisso, percebo um grupo de pessoas, que tinha vindo para um casamento que haveria após a missa do Zé Maria. Tinha se equivocado com o horário. Nesse grupo estava um primo, o Bento, que não o via há mais de 20 anos. Então, ele dirigiu-se para a minha filha:

- Mas Edméia, como você está bem! Você não mudou nada! Está com aquela mesma cara de menina! Impressionante!

Então, eu intervi:

- Oh Bento, você está falando é com a cópia da Edméia. O original ficou em Brasília. Esta é a minha filha, Ludmila!

Como a Igreja estava lotando, resolvemos entrar e buscar um bom lugar para assistir à missa. Percebo, então, o padre muito nervoso, pois não tinha notícias dos noivos e ele tinha compromisso com a celebração de um casamento, logo em seguida. Ele vinha, olhava, consultava o relógio. Então, tomou uma decisão.

- Vou dar um prazo de cinco minutos. Não chegando, eu inicio a cerimônia assim mesmo, pois tenho compromisso com um casamento logo em seguida.

Houve, então, um murmúrio em toda a Igreja: Cadê os noivos? O que houve? O que aconteceu? Pensei: Será que o casamento foi desfeito, logo hoje? Na época, não tínhamos as facilidades dos celulares.
Passado o prazo, o padre já entrou todo paramentado e iniciou a cerimônia. Era algo realmente, surreal! Ele falando do casamento, da união, da confirmação dos votos etc e sem a presença dos noivos!
A cerimônia já ia bem adiantada, quando entram, meio afogueados, os noivos para alívio geral de todos e, principalmente, do nervoso padre!

GUERRILHEIROS DA SERRA DO ARARIPE

Contado pelo Ivens

Esta é a história da minha quase prisão, como um perigoso Guerrilheiro da Serra do Araripe.
Em julho de 1964, depois de um ano e meio tive condições de gozar umas férias. Passei o ano de 1963 estudando pesado no Cursinho da Sudene, para o vestibular da Escola de Engenharia. Passado o vestibular, entrei direto no exigente curso de Engenharia.
Quando chegou o mês de julho resolvi passar os trinta dias na casa do Luís, meu tio materno, no Crato. Nesse período ele já havia sido preso duas vezes, como “perigoso” comunista.
O movimento político estudantil era muito atuante, tanto no cursinho da Sudene como na Universidade. Mas eu, politicamente, era completamente alienado. Com as seguidas idiotices que a tal redentora estava fazendo, comecei a despertar para os absurdos que estavam sendo cometidos. Excelentes professores da Escola presos por razões mais sem sentido, próprias de um festival da besteira. Nosso professor de Física, o Dr. Milton Ferreira de Sousa. Um idealista que viera de uma pós-graduação nos Estados Unidos para ensinar no Ceará, quando poderia ter ido para um centro mais adiantado no seu estado natal: São Paulo. A assinatura do professor Milton parecia com a palavra Miltoff. Por isso ele foi apelidado, pelos primeiros alunos da Escola, de Miltoff. E o apelido pegou. Logo após o golpe, a Escola foi invadida por um Coronel para prender esse russo Miltoff. E dirige-se ao professor Milton em russo. Ele disse, então:

- “Querendo falar em inglês comigo, eu falo, mas russo eu não sei nem para onde vai”.
Professor Milton Ferreira de Sousa, o “russo Miltoff”. Além de excelente professor, um idealista. Foi um dos nossos homenageados em 1968. A ditadura impediu a sua vinda de São Paulo para a nossa formatura. Somente 30 anos depois (1998), quando fizemos uma “colação de grau” simbólica, ele pode vir a Fortaleza atender ao nosso convite. A primeira foto é de 1963 e a segunda de 1998.

Não sei o que de verdade ou fantasia tem nessa versão. Mas, naquela época tudo era possível, alguém ser preso por causa de um apelido.

Mas, como além do Dr. Milton, foram presos outros professores, como o Dr. Miguel Cunha e o Dr Alexandre Diógenes, podem ter sido vítimas de “dedurismo” de alunos ou mesmo professores. Os motivos tão idiotas como esse acima relatado: ter oferecido um livro sobre teoria marxista a um aluno; criticado ou sido irreverente com alguns professores não tão dedicados, como ele, ao magistério; ter expressado opinião sobre qualquer assunto político da época; simpatia por algum partido político etc. Ou seja, temas ou assuntos corriqueiros hoje em dia. Na época, era atentado à segurança nacional. Tristes tempos!
O fato é que ele foi preso. Quando foi solto, o desgosto era grande que resolveu abandonar os seus sonhos e ir embora para São Carlos/SP. O Ceará perdeu um grande pesquisador. Por isso, tanto a Escola de Engenharia como o Cursinho da Sudene tinham fama de ser um antro de comunistas. E eu, no meio de tudo isso, só pensando em estudar.
Cheguei ao Crato e, diariamente, tinha um jogo de buraco no apartamento do Luís. Participavam vários amigos, entre eles o Dr. Raimundo Bezerra, médico. Eram parentes e quase irmãos, pois foram criados juntos desde Crateús. Era acusado de receber dinheiro de Cuba para atender de graça, num dia da semana, aos pobres do Crato. Apenas a mãe era muito caridosa e pediu esse favor ao filho, que atendeu de muito bom grado. Um outro participante tinha dois filhos que, por pura coincidência, os nomes eram Fidel e Raul... Aliás, nenhum padre, do Crato, queria batizá-los. Mas, por sorte tinha um padre alemão, Pe. Frederico Nierhoff, que disse:
- Traz os comunistazinhos, que eu batizo...
Durante o jogo a conversa girava somente em torno da partida em si. Eram duplas e uma tentava intimidar a dupla adversária. Pressionavam quando alguém demorava a jogar. Enfim, não se falava nem em mulher, nem da vida alheia e muito menos de política. Embora todos tivessem suas convicções políticas e não concordassem com as asneiras que estavam sendo feitas no país. Eu, quando não estava passeando na praça ou num cinema, ficava “aperuando” o jogo. Logo me entediava e ia dormir.
Foto colhida no prédio em que morava o Luís, em Crato. Eu estou à direita com a camisa da Engenharia. Ao meu lado, de óculos, meu irmão Mendelssohn (futuro colega do Zé Maria, na RFFSA). As três filhas do Luís: Cristina, Roseana e Sandra. A esposa do Luís, Margarida e minha mãe, Giseuda. Meu pai, Mourãozinho, não dispensava o terno.

Logo após o meu retorno a Fortaleza, uma patrulha do Exército arromba, literalmente, a porta do apartamento do Luís e, armados de metralhadoras, prendem aquela célula de guerrilheiros comunistas que estavam preparando uma contra-revolução na Serra do Araripe. O vizinho do Luís, nesse dia, participava do jogo. Era completa e totalmente avesso a política. Era uma pessoa alta e o colocaram numa cela que não podia ficar em pé, nem deitado. Saiu da prisão e, tanto não era comunista que trabalhou com um grupo americano que se instalou noCariri. Chegou a visitar os Estados Unidos. Tempos depois, acometido de depressão, não relacionada com a prisão, cometeu o suicídio.
Hugo Bezerra Paiva, preso só por ser vizinho do Luís...
Será que eu estaria contando esta história se a invasão tivesse ocorrido quando ainda estava lá? Como é que eu iria explicar para aqueles parvos que eu era apenas estudante da Escola de Engenharia e não um agente comunista de Fortaleza fazendo a ligação com os guerrilheiros da Serra do Araripe?...
A estória dos “guerrilheiros da Serra do Araripe” fora fruto da imaginação fértil e até maldosa de alguns fofoqueiros e “dedos duros” de plantão, que também existiam no Crato. Não diferindo das demais cidades do Brasil.

O JACARÉ

Contado pelo Ivens

Construí, para a Secretaria de Educação do Ceará, um Grupo Escolar no Distrito de Messejana. Era uma obra muito grande que executei como sub-empreiteiro. E, como tal, tinha que ter o máximo cuidado com os custos para não ter prejuízo.
Notei, então, a repetição de atestados médicos, de um mesmo operário. O motivo era sempre extração de dentes. Solicitei, ao encarregado do setor, que contasse quantos dentes ele já tinha extraído e quantos ele ainda tinha na boca. Deu um total de mais de cinqüenta.
- Sendo assim, dispensa o Jacaré...

O TERRORISTA

Contado pelo Ivens

Nos últimos meses do quinto ano recebemos a visita de representantes da Petrobrás nos convidando, a todos, para trabalharmos na empresa. Seriam seis meses num estágio em Salvador e, depois, efetivados. Eu fiz parte daqueles que esnobou o convite. Vejam só! Sinais dos tempos!
Preferi trabalhar com a família. Ficar responsável com a parte de engenharia da firma do meu pai e do meu irmão, na venda de equipamentos agrícolas e de terraplenagem. E, ao mesmo tempo, montar uma construtora. Essa, cheguei a constituir com o Tadeu. Mas, antes de conseguimos a primeira obra, o Tadeu escolheu um caminho mais pragmático. Um emprego na Cohab, como Engenheiro Fiscal, na construção do Conjunto Zé Walter. Logo em seguida ele foi contratado por uma outra empresa e, mais algum tempo, pela Cobal – Companhia Brasileira de Alimentos, do Ministério da Agricultura. Foi trabalhar no setor de engenharia responsável pela implantação das Ceasas brasileiras. Anos depois nos reencontramos. Ele como participante de uma comissão de licitação de uma obra em Baturité e eu como empreiteiro. Como não ganhei a obra ele me convidou e aceitei ser o engenheiro fiscal. Pouco tempo depois, me convidou para trabalhar na Cobal, tornando-me um especialista em projeto, construção e operação de Ceasa.
Nas minhas primeiras construções era responsável, também, pelo projeto e cálculo. Certa ocasião, estava conferindo a ferragem de uma laje, quando ouvi um comentário de um operário:

- O “Dotô” é “exe” “mininu” “rréi” aí?

Ele não deixava de ter razão. Minha estatura pequena e o peso inferior a 50 kg não possibilitavam uma presença condizente com o nome MOURÃO. Resolvi, então, mudar o visual. Deixar a barba crescer era politicamente incorreto, do ponto de vista dos militares. Escolhi deixar o bigode crescer. E cresceu mesmo. Parecia o Bienvenido Granda, o bigode cantante. Edméia não reclamou, então...
Vez ou outra eu ia ao Cariri, onde tinha a maioria das minhas construções, de avião. Numa dessas ocasiões, estava embarcando um conhecido meu, que teve que apresentar uma Declaração do Comandante da 10ª Região Militar. Quando indaguei o motivo daquele procedimento, ele explicou:
- Não, é porque eu sou homônimo de um desses comunistas que estão ai, nesse cartaz de “procura-se”. Numa primeira vez eu fui preso, até eu provar que eu não era o subversivo. Agora, eu apresento logo essa Declaração para não ter aborrecimento.
Existia, em todos os locais públicos, e no aeroporto especialmente, esse cartaz com a foto de vários militantes de esquerda, dentre eles, o Wladimir Palmeira.
Precisei tirar uma foto 3x4, acho que para o Crea e fui a um foto que costumeiramente ia, desde os meus tempos de ginasial, no Liceu. Ficava na Major Facundo. No dia seguinte, quando fui receber, a funcionária disse que eu procurasse entre várias outras fotos 3x4, dispostas numa prateleira, num balcão de vidro. Procurei e não encontrei. Então, ela apontou com o dedo e disse:
- É este aqui!
Tomei um susto! Não era a minha foto, mas a do Wladimir Palmeira. Camisa branca, óculos de aro preto e bigode.

Acima, a carteira do Crea (assinada pelo Prof. Jaime Verçosa) com a foto sem bigode.
Pensei: se o meu amigo foi preso por ser homônimo, eu vou ser pela semelhança da foto! Já sai do estúdio com a mão na frente do bigode. Fui direto para casa e o bigode desceu pelo ralo da pia.

NUNCA MAIS!

Nem depois da anistia. Também, já ia sair com uns fios brancos!...

O COOPER

Contado pelo Ivens

No começo da década de setenta estava projetando, calculando e construindo residências em Crato e Juazeiro do Norte. Num final de tarde estava conversando com dois clientes. Um médico, para quem estava projetando a sua residência, e um industrial que me contratou para reformular o projeto da sua indústria (sandálias japonesas), visando obter um financiamento da Sudene.
Na época, estava em voga a prática do Cooper, principalmente pelo fato da seleção brasileira de 70 ter utilizado na sua preparação física. Os preparadores eram dois militares: Cláudio Coutinho e Parreira.
Os meus clientes eram praticantes e estavam a contar as suas façanhas em números. Neste momento chega um terceiro, amigo dos dois. Então, tentam convencê-lo a ser um adepto da prática do Cooper. E ele sempre recusando. Até que ele perguntou:
- A que horas mesmo vocês vão para este negócio?
- Às cinco e meia da manhã!
- Ah, a esta hora a minha mulher não me deixa sair de casa.
E os dois, em uníssono:
- Mas, por quê?
Ele foi taxativo, anulando qualquer outro argumento:
- Esta é a hora do tesão do mijo!!! Temos que aproveitar!!!!


A CONFRARIA SECRETA

Contado pelo Ivens

O Augusto fazia parte de um grupo secreto da T68, criado em 1965, que era responsável pela “Hora da DOFA” (com uma permutação simples chega-se ao nome correto).
Ao cair da tarde, quatro dos nossos colegas, tomavam de assalto as ruas centrais Barão do Rio Branco e Senador Pompeu. Iam, então, fazer “visitas pastorais”. Era a hora da vingança. Como era tempo de ditadura, levavam cacete da polícia e não perdoavam, fazendo o mesmo nas primas...
Após 43 anos, autorizou revelar, para toda a turma, que ele era o DEEP THROAT!!!!!


PERU

Contado pelo Ivens

Um dia, apareceu, na lousa do quinto ano, o desenho de uma viga em balanço. O momento de engaste era X = 0
Ao lado, escrito PERUAutor: desconhecido.
Suspeitos: vários
Principal suspeito: Pade Vei


PMI

Contado pelo Ivens

Esta é para se rir no meio ou no fim, dependendo do grau de conhecimento que se tem sobre o tema.
Todos sabem que estamos organizando o blog da T68, reunindo fotos, fatos pitorescos vividos por nós, e em fase de evolução para assuntos outros.
Espontaneamente, surgiu um bate papo, via mensagens eletrônicas, entre nós numa autêntica regressão à infância. O estopim, no bom sentido, foi a carta do Cláudio sobre a suspensão colegial injusta sofrida pelo seu filho.
Veio-me, então, a idéia de imaginar um papo, num local fictício, entre nós, integrando e dando uma seqüência a essas conversas, bastante reveladoras e interessantes para serem registradas.
Nesse ínterim, recebo um e.mail do Benedito, entusiasmado com o que já viu no blog, dizendo palavras de incentivo e se comprometendo a colaborar. Acrescentava que, no momento, estava sem tempo, devido aos estudos para obtenção de um certificado de gerenciamento de projetos.
Respondi, comunicando dessa idéia da Conversa de Sessentões (título provisório) inspirado no que acontece com o grupo de aposentados que se reúne no Center Um.Então, indaguei: Já ouviu falar do PMI?Quase de imediato, ele respondeu:

-Você pergunta se eu já ouvi falar do PMI. Você está se referindo ao"Project Management Institute"? Sim, é para o PMI que eu estou tentando tirar a Certificação.

Confesso que tive um acesso de riso. Não sei se ria devido ao fato de eu estar falando uma sacanagem e o Benedito se referindo a algo extremamente sério. Ou, pela inocência do Benedito, em querer tirar um certificado do PMI do Center Um...
As minhas risadas foram ouvidas pela Edméia, presa ao leito devido à cirurgia na perna, perguntando:

- O que foi? O que foi? O que foi?

De imediato, fui ao Google e digitei Project Management Institute. Abriu-se um mundo desconhecido para mim:
Fiquei sabendo que o PMI (vai em inglês mesmo, para ressaltar a diferença entre os dois PMIs) conta:
With more than 265,000 members in over 170 countries, PMI is the leading membership association for the project management profession. For almost 40 years, PMI has advanced the careers of practitioners whomake project management indispensable for business results.
Fiquei sabendo, também, que oPMI is the world's leading not-for-profit association for the project management profession.


O conceito que tinha do Benedito aumentou ainda mais, com a disposição dele em obter o tal certificado, a essa altura da nossa juventude.Então, expliquei para o Bené:
Desde que foi inaugurado o Center Um, início da década de setenta, alguns aposentados começaram a se reunir por lá. O supermercado Jumbo ,hoje Pão de Açúcar, os adotou. Passou a disponibilizar bancos, jornais. Geralmente são militares da reserva, facilmente identificados pelo traje, corte do cabelo e, chegando próximo, pelo linguajar. Alguns já morreram e sempre são renovados por outros velhinhos. Quando vim trabalhar na Conab, aqui em Fortaleza, o pai de um colega, militar da reserva, era freqüentador desse grupo. Esse meu colega (economista) era militante do PT, para desgosto do pai. Costumeiramente passava por lá para brincar com eles. Chegava de mansinho. Punha as mãos nos ombros de dois deles e dizia:
- Conspirando, hein?:
Pois bem, esses senhores, devido ao avançado da idade, são conhecidos como os PMI:Pau Mole Irreversivel!!!!
O Bené, com a velocidade da luz, mandou a seguinte mensagem:Ah, ah, ah, essa é muito boa, que coincidência, mas desse PMI que você falou eu AINDA não quero tirar nenhuma certificação!!!
Local, no Pão de Açúcar do Center Um, reservado para os PMIs

OS OVOS


Contado pelo Ivens

No final da década de 60 e começo da década de 70 a Ditadura militar apregoava que estava solucionando o problema secular da seca no Nordeste. Para tanto, usava como cartão de apresentação o perímetro irrigado de Morada Nova/CE. Toda e qualquer autoridade importante que vinha ao Brasil eles traziam para conhecer essa “revolução”!
Quando soube que o Hypérides estava gerenciando esse perímetro, não tive dúvidas, marquei uma visita e fui lá, para conhecer de perto.
Descurado dizer que tive uma aula do nosso futuro Secretário de Recursos Hídricos, responsável, isso sim, por uma revolução no aproveitamento da água no Ceará, com a interligação das bacias.
Explicou, com detalhes, o projeto completo dos israelenses e percorremos todo o perímetro, conhecendo não só o que ainda estava em implantação, como os trechos que já estavam produzindo.
Confesso que sai de lá vivamente impressionado e entusiasmado. Agora sim, a engenharia estava solucionando o problema da seca no Nordeste! Retornei, para Fortaleza, cheio de orgulho da nossa profissão e pensando em duas imagens que, até hoje, tenho nítidas na minha memória.
A primeira: o escritório do DNOCS era uma antiga casa grande de uma fazenda, que havia sido desapropriada. Pensei, isto é uma reforma agrária, tão apregoada e reclamada pela esquerda!
A segunda: um trecho com feijão sendo colhido por produtores e, ao longe, na estrada fora do perímetro, uma família de cearenses em retirada, devido à seca. Era aquela família de clichê: O homem na frente, carregando uma trouxa enfiada num pau, a mulher, logo atrás com uma trouxa de roupa na cabeça e um filho nos braços. Mais atrás uma récua de meninos e, por fim, um cachorro vira lata.
Aquela cena de um contraste explícito, para mim, foi o “gran finale” de tudo o que o Hypérides tinha me falado. Daí o meu entusiasmo.
Menos de oito anos depois esse entusiasmo se acabou. Por força da minha nova atividade profissional (projetar, construir e operar mercados), o engenheiro civil aprendeu que, em toda atividade agrícola, tem o “antes” e o “depois” da porteira. Ao visitar um outro perímetro irrigado, percebi que a pauta de produtos não era em função do que o mercado necessitava. Por isso, os produtos ou não tinha mercado ou não alcançavam um preço de venda que remunerasse o investimento e, muito menos, trouxesse um retorno financeiro ao produtor. Ou seja, tínhamos as soluções para plantar e irrigar. Não tínhamos para comercializar.
Vinte anos depois dessa visita, voltei a Morada Nova. Agora estava assessorando o, então, Ministério da Irrigação, no estudo de mercados para definir o que produzir, em que quantidades e em que época do ano. Tudo isso para atender uma exigência do Banco Mundial, que só financiaria se houvesse um conhecimento do “fora da porteira”. Para tanto, tive que montar um Banco de Dados de 34 mercados brasileiros, no computador da Codevasf, em Brasília.
Enquanto isso, o produtor de Morada Nova não tinha evoluído em nada. Pelo contrário. A casa, caindo aos pedaços e, uma nova cena, gravou-se na minha memória: entra um garoto, talvez neto do produtor, trazendo na mão dois ovos e um molho de coentro e cebolinha. Então, perguntei:

- É produção do seu quintal?

E o produtor respondeu:

- Não, ele comprou na cidade.

E o DNOCS cedia a ele um enorme quintal, com água em abundância, e ele não tinha coragem de criar uma galinha ou ter um canteiro de coentro e cebolinha!
O Ministério concluiu que, para que a atividade tivesse sucesso teria que emancipar os perímetros. A Codevasf foi pioneira, significando uma mudança radical, levando-os a ter sucesso empresarial. Hoje, a região do Vale do São Francisco é um exemplo de pleno emprego. Anos depois o Ceará seguiu o exemplo, criando os Agropolos, tornando o Estado um dos grandes produtores de fruta irrigada, tanto para o mercado interno como para o externo.
Mas, voltemos à visita inicial. O Hypérides foi me mostrar um trecho em obras. Estava sendo concretado um canal. Naquele momento, utilizava-se uma régua vibratória para melhor adensamento do concreto. Um operário estava sobre a régua e com uma colher de pedreiro fazia pequenos arremates. Quando ele viu o Hypérides, perguntou:
- “Dotô, exe bixo” aqui “num” GORA os ovos de “nóis”, não?

AGUENTA?

Contado pelo Ivens

O Ernesto estava supervisionando a construção de uma ponte. Daquelas que a seção do pilar se mede em metros, não em centímetros. Um operário armou uma rede de um pilar para outro. Quando ele ia sentando, perguntou para o Ernesto:
- “Dotô”, agüenta?

BOCA DE LOBO OU DE LOUCO?

Contado pelo Ivens

Em 1996 voltei a morar no Ceará, depois de vinte anos fora. O retorno foi para atender a um desejo da Edméia, que não agüentava mais o exílio. Profissionalmente não foi bom para mim. No entanto, tive grandes compensações. Deus sabe o que faz. Pude acompanhar, bem de perto, os últimos anos dos meus pais e não passei, prematuramente, para o mundo da quarta dimensão e fazer companhia ao Samir, Agamenon, Tom e Wanderley. Por outro lado, Edméia, recuperou-se de um problema de saúde que tinha desde 1974 e fez companhia à mãe, até os seus últimos minutos. Portanto, saldo mais do que positivo.
A sede da Conab, em Fortaleza, fica na esquina da Antônio Pompeu com Assunção. Ali, na Praça da Polícia. Distante cerca de oito quilômetros do meu apartamento. Pensei: ótimo! Em Brasília morava a quinze quilômetros e ia almoçar em casa. Vou poder manter esse costume.
Ledo engano. No primeiro dia levei mais de 20 minutos, enquanto em Brasília fazia o percurso em 12 minutos. Aqui, eu levava esse tempo parado em sinais...

Conclui que almoçar em casa era impraticável. Combinei com a minha filha mais nova quando ela fosse para a faculdade, me deixava na Conab. À tarde eu ia a pé para a casa dos meus pais, distante exatos 40 quarteirões (cerca de quatro quilômetros) e ela me pegaria lá.Foi a minha sorte. Eu, sem saber, estava com uma artéria obstruída em cem por cento. Essas caminhadas criaram um by pass, mantendo a circulação normal.
Em 1999, no exame periódico, a esteira acusou uma anomalia. O cateterismo indicou que uma segunda artéria estava obstruída em 90% e um espasmo qualquer seria fatal. O certo é que implantei duas pontes. Quando retornei ao trabalho decidi não almoçar no restaurante da Conab. Encontrei um restaurante vegetariano, na pracinha do Banco do Nordeste.
Assim, todos os dias, eu ia caminhando pela Assunção até o restaurante. Nesse trecho existe um comércio atacadista de bombom. Nesse local, vive um doido manso. A todos que passa ele aborda, com uma voz de “tarracha rachada” com um bom dia ou uma boa tarde. Algumas vezes é inconveniente, lhe oferecendo cocaína... Pelo sim e pelo não, eu sempre mudava de calçada para evitar as tais abordagens.
Um dia, ao sair do restaurante, começou a chover. Apressei o passo e me abriguei numa marquise de um prédio fechado que existe na esquina da Duque de Caxias com Assunção, no lado, como se diz, da praia. O oposto seria do sertão. Era a sede de um Banco que faliu.
Percebi que estava bem abrigado da chuva que era muito intensa e do rio que se formava na Duque de Caxias. Estava no batente mais alto de uma escadaria, um metro acima do nível d’água.
Notei que, naquele cruzamento, existiam três bocas de lobo. Uma na esquina onde estava abrigado e as duas outras no lado do sertão da Duque de Caxias. Duas delas estavam praticamente entupidas com uma quantidade enorme de todo tipo de embalagens. A única que funcionava era a que se localizava na minha diagonal e estava sem a tampa, chegando a formar um redemoinho, tal era a intensidade do fluxo.Nisso, percebo o doido caminhando, tranquilamente, como se fosse um belo dia de sol, no meio da Assunção, em direção à Duque de Caxias.

Pensei: é doido mesmo, mas pelo menos hoje ele toma um belo de um banho.

Observei, então, que ele trazia uma vassoura. E eu com os meus botões:

Não, não é possível! Então, ele não é doido! Vai desobstruir as bocas de lobo?

E foi mesmo! Dirigiu-se para aquela que ficava na esquina oposta a que eu estava. Ele passava a vassoura com uma raiva tal que espalhava embalagens para tudo que era canto. Mostrando, desta forma, uma indignação contra aqueles “sugismundos” que estavam emporcalhando a cidade. Nesse afã, a vassoura se enroscou em alguma coisa e plaft! Quebrou o cabo! Ele ficou olhando para aquele pedaço de madeira e arremessou, com toda a força, feito uma flecha, na direção do meio da Duque de Caxias. Aí, eu não pensei, falei:


- Puta que pariu! O porra é louco mesmo! Quase que acerta a senhora do Corcel!

Então, ele foi embora e fiquei pensando na sorte que aquela senhora tinha tido. Os vidros das duas portas da frente estavam um pouco abaixados. Caso a “flecha” tivesse acertado aquela abertura, ela teria morrido ali mesmo. Talvez, até hoje, ela deve estar pensando de onde veio aquele bólido que passou na frente do seu pára-brisa...
Enquanto estou nessas elucubrações, lá vem o doido de volta. Desta vez, trazendo uma enorme caixa de papelão. Já estava falando sozinho. Então, disse:
- Porra, o cara não é doido não. Está trazendo uma caixa para recolher as embalagens!
Acontece que ele se dirigiu para a boca de lobo que estava na minha diagonal, aquela que estava dando vazão ao fluxo de água. Chegou à sua borda, emborcou a caixa e, de dentro dela, saíram as mais diversas e variadas embalagens. E eu:
- Puta que pariu! É louco!Vai entupir a única que estava funcionando!
A caixa, a essa altura, já estava se desmanchando, de tão molhada. Não teve dúvidas. Fez um bolo e jogou-a na boca de lobo. Então, ele deu um passo para trás e tropeçou numa faixa de pano que estava caída na calçada. Ela tinha uns três metros de comprimento com as madeiras para manter esticada e as respectivas cordas. Não teve dúvidas. Juntou tudo aquilo, elevou acima da cabeça e:
Vupt! Na boca de lobo!
Moral da história:Sempre façam tampas de boca de lobo que sejam resistentes a loucos!

UNIDADE DE CHEIRO

Contado pelo Ivens
O Costinha relatou que, na turma T-66 existia um determinado aluno avesso a práticas de higiene pessoal, conseqüentemente cheirava mau. Provavelmente, de descendência francesa...
Baseado no fato definiu-se uma unidade de mau cheiro, denominada de “Louis”, em homenagem ao “cheiroso” e, como toda unidade que se preze, deve ter nome 'estrangeiro'. No caso, mais do que adequado, francês.
Assim definida:
Constrói-se um quartinho cúbico com arestas de 1,00m, com uma janela quadrada de lados medindo 10,00 cm, mantida fechada. Cria-se no seu interior três (3) gambás à umidade ótima, durante 30 dias.
Abre-se a janela, coloca-se o nariz a uma distância de 5,00 cm e respira-se durante 10,0 segundos. O 'cheiro' que se sente equivale a 1,00 Louis.
Como o Louis é uma unidade muito grande, usa-se sempre submúltiplos com micro Louis etc
Obs: O operador deve ter bom olfato e não estar acometido de doenças que inibam o olfato, tais como gripes, resfriados etc.



O DOPING

Contado pelo Ivens

Segundo o Costinha, o Ariosto Holanda (de uma turma bem antes da nossa) conta que estava com alguns colegas, na própria Escola, estudando para uma prova de Estática. Era uma daquelas viradas de noite para prova na manhã seguinte.
Nisso, chega o Simão, um funcionário da Escola, reclamando de uma puta dor de cabeça. Alguém, então, diz:
- Simão, tem aqui um remédio para dor de cabeça que é tiro e queda.
E deram ao Simão, com meio copo de café, uma daquelas “bolinhas” que a estudantada usava para ficar acordada a noite inteira.
O Simão tomou e sumiu. O pessoal chegou até a esquecer dele. De repente, o Simão aparece. Agora com os olhos bem arregalados e “muito acessos”.
- Como é, Simão, passou a dor de cabeça?
- Passar, passou, mas estou com uma vontade louca de correr...


O CAMPEÃO

Contado pelo Ivens

Quando construía no Cariri, o meu escritório era em Juazeiro do Norte, na Rua Padre Cícero, como não poderia deixar de ser. Certo dia, fui almoçar num restaurante onde, em tempos idos, fora o principal clube da cidade. Já não existe mais. Na sua fase áurea, Nelson Gonçalves havia se apresentado lá. Num determinado espaço, num plano inferior ao restaurante, existia um conjunto de mesas de sinuca. Quase todas com jogadores girando em torno.
O que caracteriza Juazeiro é a constante presença de forasteiros que vêm render homenagens ao Padre Cícero. Percebi, então, enquanto esperava pela comida, que um desses romeiros estava combinando uma partida com um nativo, conhecido campeão de sinuca.
Este, cavalheirescamente, até com um gestual de mão, cedeu a primazia do início da partida ao visitante. Ele pegou o taco meio sem jeito e, na primeira tacada, deu aquela espirrada. Errou feio.
O campeão logo percebeu que estava diante de um principiante e não só permitiu que repetisse a jogada, como mostrou como deveria pegar no taco, bater na bola. Ajudou, inclusive, a ele se posicionar na mesa.
Desta vez a pancada foi seca e perfeita. Não só embocou uma bola, como a branca já se posicionou para embocar a próxima da vez. O campeão local até bateu palmas, considerando sorte de principiante. A postura dele já era outra. Passou a mão no giz e deu aquela esfregada na ponta do taco, como um profissional. Cada tacada era uma bola na caçapa, e a branca, cordeiramente, se posicionando corretamente para a próxima bola. Só parou quando embocou a bola 7.
O campeão local estendeu a mão, cumprimentou e deu aquele abraço naquele gênio da sinuca que estava à sua frente. Era um famoso campeão do interior do Nordeste!

XADREZ, NO BEC DE CRATEÚS.

Contado pelo Ivens

Caso semelhante poderia ter acontecido em Crateús. Nas férias de julho de 1968, um grupo de temeiaoito (termo inventado pelo Costinha) foi estagiar no 4º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército.
Era comandante da unidade o Coronel Lignel que tinha sido desterrado pela ditadura para Crateús, por ser genro do General Lott.
O Toni, resolveu desafiar o Coronel para uma partida de Xadrez. Estudante de engenharia, quase engenheiro, ia dar uma sova, naquele milico que só sabia era dar esporro em subalterno.
Acontece que, antes de iniciar a partida, o Capitão Bosco chegou para o Toni e disse:
- Castro, facilita o jogo para o Coronel. Ele se considera o Bobby Fischer (o grande campeão da época) do Exército. Ele vencendo, o estágio de vocês aqui vai ser uma moleza...
Quando o Toni sentou-se à mesa percebeu que o homem levava a coisa a sério mesmo. Tinha até aquele relógio de marcador de tempo que só os profissionais usam. Pensou: vou seguir o conselho do Capitão.
Foi uma surra, duas, três, quatro, cinco...
O Toni, segundo o Rezende, mostrava-se muito inquieto, demonstrando muita insatisfação com aquelas surras.
Na sétima partida o coronel já se levantou e não quis mais jogar. O Castro não estava ao nível dele. Ele, realmente, era imbatível! No resto do estágio todo, o Coronel não perdia oportunidade de se vangloriar por ter derrotado o campeão da Engenharia, quando, nessas ocasiões, o Toni sempre se afastava para não sofrer as gozações. Criou-se um clima de camaradagem e o rigor militar foi abrandado para aquele grupo de estagiários.
Foi a jogada de Mestre.
O Capitão tinha razão...


A PLACA

Contado pelo Ivens

Na década de sessenta estava voltando da fazenda do meu avô, no município de Tauá. Viajava na pick up Willys do meu irmão Raimundo. A carroceria tinha uma coberta e dois bancos laterais onde a gente se acomodava. Eu estava sentado na traseira e o Antônio Felix, vaqueiro da fazenda do meu avô, no outro banco de frente para mim. Estrada de terra e péssima, cheia de buracos. Estávamos chegando em Boa Viagem quando vi um cavalete de madeira com uma placa com os seguintes dizeres:

CUIDADO COM O BURACO. CONTRIBUIÇÃO DO LIONS CLUBE

Eu, já estudante de Engenharia, vendo aquela “marmota” pensei comigo:

“Porque não taparam o buraco em vez de colocar esta placa idiota”

No mesmo instante, o Antônio Felix, homem rude do campo, quase analfabeto, mas de grande bom senso, comentou:

- “Ispie só! Tem coragi di fazê uma placa e num tem di tapá u buraco!”


PILOTO MEDROSO E PASSAGEIRA CORAJOSA

Contado pelo Ivens

Durante sete anos, na década de oitenta, coordenei, pela Cobal, um grupo de consultoria ao Ministério do Interior. Dávamos apoio ao Projeto Cidades de Porte Médio. Participavam 26 aglomerados urbanos em 22 estados da federação. Eram grupos multi-disciplinares que orientavam uma Equipe municipal na melhoria das diversas áreas de atuação de um município. O objetivo principal era capacitar aquela cidade em se tornar um pólo de atração e servir de barreira a migração das populações para regiões metropolitanas. A minha Equipe era especialista em abastecimento alimentar e orientava intervenção desde a sondagem inicial até a operação, passando pelo projeto de engenharia e construção. Vivíamos em cima de avião, rodando este imenso país de norte a sul e de leste a oeste.
Periodicamente, o Banco Mundial, financiador do projeto, enviava uma Equipe ao Brasil para fazer uma avaliação conjunta de todas as intervenções. Então, durante uma semana, todas as Equipes se dirigiam para aquela cidade e analisavam projeto a projeto.
Dessa vez a cidade escolhida foi Pelotas/RS. Tínhamos que ir, de Brasília, a Porto Alegre e lá pegar um avião Bandeirante até Pelotas, tendo antes um pouso em Rio Grande. Viajei com um economista da minha Equipe.
Estava na sala de embarque do Aeroporto Salgado Filho, quando percebi esse meu colega, descendo as escadas de um avião que tinha chegado de São Paulo. E estava numa animada conversa com uma jovem. Logo os dois chegaram à sala de embarque para o vôo no Bandeirante. A jovem ia para Rio Grande, retornando de umas férias em São Paulo. Naquele dia os pais estavam propiciando a sua primeira viagem de avião.
Quando nos dirigíamos, caminhando pela pista, para subir no pequeno avião, percebi, ao longe, pesadas nuvens negras, típicas de uma tempestade.
Decolamos normalmente e, após uns dez minutos estávamos em meio a essa tormenta. Foi quando percebi para que servia cinto de segurança em avião! O pequeno avião parecia uma folha seca. Era arremessado para cima, para baixo, para os lados. A chuva era tão intensa que eu não enxergava a ponta da asa do Bandeirante. Água penetrava na cabine pelas frestas da porta.
Eu estava sentado numa cadeira isolada, antes da porta. Aquela mocinha, a que me referi, na cadeira imediatamente após a porta e recostada, como que dormindo tranqüilamente.
O meu receio não estava desesperador, por saber que naquele rumo não existiam elevações. Deveríamos estar voando sobre a Lagoa dos Patos e mesmo que o avião invadisse o espaço uruguaio, sabia que a altitude máxima no país era de 200 m. Portanto, naquele vôo cego não íamos nos chocar com nenhuma serra. Felizmente!
Ouvíamos todos os diálogos do piloto e do co-piloto, tentando se localizar. Estavam perdidos! Percebemos que não estavam conseguindo se comunicar, pois tinha havido uma pane de energia em todo o litoral gaúcho.
Dei uma visada geral nos demais passageiros. Nas duas cadeiras ao lado, depois do corredor, estavam dois colegas engenheiros da EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos. Um deles bateu nas minhas costas e disse:

- Ivens, foi um prazer trabalhar com você! Daqui há pouco a gente se encontra lá em cima...

Duas fileiras adiante estava sentado o meu colega, de origem síria e que, por isso, eu achava que ele era muçulmano. Inclusive fala fluentemente o árabe. Nisso eu percebo ele enfiar a mão numa bolsa que levava e tirar de dentro dela, um longo terço!!!! E eu:

- Puta merda! A coisa está feia! E o Sérgio é cristão!

Eu continuei lendo uma revista Manchete, mas, segundo o Sérgio, eu a lia de cabeça para baixo. Não duvido.
Nisso, ouço o piloto:

- Olha um buraco aqui, nas nuvens! Vamos descer aqui!

Parecia aqueles caças em filmes da segunda guerra. O piloto deu uma forte guinada para a esquerda e mergulhou naquele buraco com os motores zunindo a toda altura.
Em seguida, ouvi o diálogo do piloto:

- Já sei onde estamos! Estamos sobre Rio Grande! Mas não vamos descer na merda desse aeroporto, não. A pista é de terra e deve estar atolando até o talo. Vamos para Pelotas que a pista lá é de asfalto!

Tomou o rumo de Pelotas seguindo pelo visual, acompanhando a estrada, voando a uns 500 metros do solo. Logo visualizamos, em meio à forte chuva, a pista do aeroporto com poças d’água em vários pontos.
Tão logo ele pousou, deu uma forte freada de motor. Nem precisou de muita pista e já se dirigiu para a estação de passageiros.
O piloto, após estacionar, foi logo se dirigindo para a porta, passando, apressadamente, sobre as bolsas de passageiros espalhadas pelo corredor.
Ao abrir a porta ele avisou:

- Quem vai para Rio Grande eu pago o táxi! Eu não subo mais nesta porra por dinheiro nenhum!

Na estação de passageiro, o Sérgio, os dois técnicos da EBTU e eu cercamos a gauchinha e fomos cumprimentá-la pela calma dela, não demonstrando nenhum nervosismo. Esclarecemos que cada um de nós já devia ter umas 10 mil horas de vôo e nunca tínhamos passado por sufoco semelhante.
Ela, então, arregalou os olhos, olhou para cada um de nós e, disse, espantada:

- Báá, tchêêê! E isto não é normal nesses aviãozinhos pequenos, não?!?!?!

O MILAGRE

Contado pelo Ivens

Nosso estimado Toni, como ele próprio fala, foi vítima de uma sacanagem do destino. Mas, mesmo assim, o seu bom humor não foi prejudicado em nada.

Depois de anos de trabalho na Petrobrás, ele conseguiu a tão sonhada aposentadoria. Ainda bastante jovem e com toda capacidade e saúde tinha alcançado aquela tão almejada e merecida condição de curtir a vida. Afinal, a Petrobrás lhe concedia uma confortável remuneração de aposentadoria, no que lhe dava a certeza de que podia fazer o que bem entendesse: Mundo! Aguarde-me!

Esse dia chegou numa sexta-feira, e aquela sensação gostosa de que estava iniciando um fim de semana eterno! Os colegas da Empresa, em Aracaju, lhe proporcionaram um “happy hour” de despedida com bebidas, salgadinhos, discursos e variadas homenagens, e tudo a que tinha direito...

No dia seguinte, no seu primeiro sábado de aposentado, resolveu assumir a nova situação, na sua totalidade. Ou seja, ele agora era um “jaqui”

Como todos sabem, essa é a verdadeira sina de todo aposentado. Ser explorado, desavergonhadamente, pela família. Ou seja: “Já que você está aposentado, leve o cachorrinho para passear”. “Já que você está aposentado, vá ficar com os netos”. “Já que você está aposentado, vá comprar o pão.” E por aí a fora. Que o digam os aposentados...

Assim, como um autêntico jaqui, lá foi ele cortar um galho de uma árvore na sua bela casa, na capital sergipana. Colocou a escada, subiu até à altura do tal galho e, todos sabem o que aconteceu... Uma queda desastrada.

Ficamos muito apreensivos, pois a notícia correu o Brasil tangida pelo Cleto. As indagações eram variadas: Está em coma? Vai ficar paraplégico? Vai ficar com vida vegetativa? Consegue falar? E todas as preocupações que comumente ocorrem.

Felizmente, apesar da gravidade do acidente, o nosso colega conseguiu superar. Ficou, é verdade, com algumas seqüelas em alguns movimentos. Mas, a sua capacidade intelectual foi totalmente preservada e, em especial, o seu refinado humor e o talento para contar causos.

Depois de um ano, resolveu voltar definitivamente para Fortaleza. Veio com a recomendação dos médicos de ser acompanhado, na capital cearense, por um neurologista.

E assim ele fez. Levou aquela batelada de exames anteriores e submeteu-se a outras tantas radiografias, ressonâncias e coisas do gênero. Foi, então, ouvir o diagnóstico e recomendações do “doutor”.

Aqui, abro um parêntese. Vocês já notaram com que rapidez os médicos olham esses exames? E, geralmente, nos tomam tempo, dinheiro e riscos, com uso de contrastes etc. São olhados de relance, geralmente contra a meia luz do consultório e, chegam a conclusões imediatas. Às vezes, enfiam a mão naqueles envelopes e furtivamente, lêem a conclusão do laudo. Para analisar um desenho técnico, uma planta baixa, uma planta de ferragem, eu levo um tempão para interpretar, para visualizar espacialmente. Que diabo de olho biônico é esse, dos médicos? Será que querem nos impressionar? Ou já sabiam o que a gente tinha e não havia necessidade alguma, daqueles exames? Tenho certeza de que, uma análise mais demorada levaria a um diagnóstico melhor, ou mesmo a descoberta acidental de um outro problema. Agora mesmo, acho que Edméia e eu estamos sendo vítimas desse “olhar biônico”. Ela fez uma operação para colocar uma prótese no joelho esquerdo. Tem um ano e nada de se recuperar. Todo mês fazia uma radiografia para avaliação. Resolvemos ir a outro médico. Como ele não tinha “olho biônico”, fez o que todo mortal faria. “Estudou” a radiografia e apontou, com toda a segurança: “Veja, a prótese está solta. Vamos ter que operar de novo...”

Voltemos ao caso do Toni. O médico foi mais criterioso. Colocou a ressonância naquele visualizador de radiografias. Chamou a atenção do Toni para um pequeno detalhe, e foi devidamente enquadrado:

- Dr. Castro, veja aqui. Por questões de milímetros o senhor não teve este nervo atingido o que lhe impediria de respirar, levando-o ao óbito. É o que os leigos falam: morreu porque quebrou o pescoço. Foi um verdadeiro milagre!

E o Toni, de imediato:

- Milagre é uma porra, doutor! Milagre seria se eu tivesse saído voando, e não caído de ponta cabeça!!...


NO BLOG, NÃO

Contado pelo Ivens

Num belo domingo de sol, Toni e o seu filho Matheus foram almoçar em um dos self-service de Fortaleza. Não era novela da Globo, onde todos se encontram no restaurante, mas lá estavam Patinhas e o filho Marcelo.

Foi aquela alegria pelo feliz encontro, e logo se sentaram numa mesma mesa, formando mais uma reunião da T68. Quase de imediato, causos e mais causos foram relembrados, regados a cerveja bem gelada e a uma variedade de comida que o self-service propicia. A cada estória vinha a indagação: está no blog?

Ao final do almoço, cada chefe ficou responsável pelo pagamento das despesas da sua família. O Toni foi rápido no gatilho, mas o Patinhas ficou com as duas mãos batendo e esfregando os peitos, como a procurar algo nos bolsos da camisa. Então, dirigindo-se ao filho, disse:

- Oh, filho, paga aí, pois vim com uma camisa sem bolso.

O Toni não deixou por menos, exclamando:

- Oh Patinhas, e com tanto bolso nessa bermuda, você não trouxe o dinheiro, porra?

O Patinhas abriu aquele sorriso, apontou para o Toni e disse:

- Esta não vai para o blog, não...


A INGENUIDADE

Contado pelo Ivens

O Antemar Vasconcelos foi nosso colega no primeiro ano. E também, de uma boa parte da turma, já que tinha sido colega no Cursinho da Sudene. Ele concluiu Engenharia um ano depois, em 1969.

Antemar é o segundo da esquerda para a direita.

Tinha estudado para ser frade e abandonou para estudar engenharia. Uma característica dele era ser de uma pureza de caráter, chegando a ser, em certas ocasiões, ingênuo. Puro, mesmo. Acabou ingressando na Petrobrás e conviveu bastante com o Toni e, inclusive, as famílias se tornaram muito amigas.

E, já profissional da Petrobrás continuou com aquela mesma simplicidade, sendo motivo de muitos causos, dos quais o Toni recorda-se bem.

Morava em Aracaju, em uma casa alugada. Como era época de inflação alta, o aluguel era reajustado todo mês. Certo mês, a Petrobrás não deu aumento e ele argumentou para o proprietário que não tinha condições de pagar. Iria procurar um apartamento mais barato. O proprietário concordou em não reajustar e ele não teve que mudar-se. No mês seguinte, a Petrobrás deu o aumento e ele apressou-se em ligar para o proprietário:

- Olha, recebi aumento. Agora eu posso pagar o reajuste.

Em outra oportunidade, ele foi a uma revendedora de carros usados comprar um carro para a esposa. Chegou para o vendedor e disse:

- Eu preciso comprar um carro de onze mil cruzeiros.

O vendedor, que estava ao lado de um carro que não valia cinco mil, mais do que de repente, disse:

- Pronto, é este aqui!

A esposa conta a capacidade dele de negociação na compra da casa própria. O corretor ofereceu um apartamento por 140 mil. Ele foi peremptório. Informou que tinha 130 mil para pagar à vista. Mas, antes que o corretor falasse qualquer coisa, ele disse.

- Posso complementar com dois cheques de cinco mil para o próximo mês!

O corretor não teve outra saída:

- Negócio fechado.



A PAIXÃO

Contado pelo Ivens

Emanuel Gonçalves de Melo, segundo o Bené, na época de estudante do Cursinho da Sudene, tinha uma namorada. Eram tempos bem distintos dos atuais, dos nossos filhos e netos. Os namoros eram nas casas das meninas e em dias e horários determinados. Não existiam essas facilidades atuais, tipo “ficar”. Não se podia nem pensar, quanto menos praticar! E um pouquinho antes do nosso tempo tinha que se ir namorar de paletó, gravata e chapéu. Acredito que todos nós levamos nossas namoradas ao Cine São Luis, devidamente empaletozado. E para chegar a ter a autorização de namorar, os pais tinham que ter referências do pretendente. Eu fui dispensado desse ritual, pois um meu irmão já era casado com a irmã da Edméia. A ficha limpa dele valeu para mim...

O nosso colega Emanuel, combinou com a namorada os dias em que ele iria à casa dela. A sugestão dele foi terça, quinta e o fim de semana. Ela, então, indagou:

- E a quarta-feira?

Ele, mais do que de repente, sentenciou:

- Não, quarta eu estou no PV, vendo o meu Ceará!

E ela, indignada:

- Espere, e você me troca por um time de futebo!?!?!

E ele, abrindo os braços e na maior sinceridade:
- Mas, é lógico!!!!

Em tempo: não sabe se ele recebeu um bilhete azul (como se dizia na época) ou o cartão vermelho dos dias atuais.


O CHOQUE CULTURAL

Contado pelo Ivens

Conversar com o Hypérides é sempre um prazer. Desde a época da Escola ele demonstrava uma verve aguçada, grande conhecimento e senso crítico muito afinado.

Hoje em dia, nem se fala. São mais quarenta anos de grande experiência e muitos estudos.

Nas solenidades do Governo da era Tasso, a participação do Hypérides era o ponto alto. Além de demonstrar grande conhecimento técnico do assunto da grande revolução – interligação das bacias – suas falas eram intercaladas com passagens de vida interessantes, com muita ironia e humor. Quando eu ouvia comentários elogiosos, pensava: “Isto é velho! Vem dos bancos escolares.”

Chama atenção o carinho todo especial que ele tem pela sua terra natal - Iguatu. É a sua grande referência. Mas, não deixa de tecer críticas, quando a sua cidade não possibilitava meios de estudos que outras do interior, já dispunham, como Crato, Baturité e mais algumas.

Destaca que, o grande evento social da sua cidade, à época, era o comparecimento da sociedade iguatuense à Praça. Todos trajando as suas melhores roupas.

Na busca de melhores condições de vida, o seu pai, a quem chama carinhosamente de “Seu” Oscar – mudou-se para Fortaleza com toda a família, que não era pequena.

Procurando se adaptar à nova cidade, o Hypérides buscou saber onde era “a Praça” de Fortaleza. No linguajar de hoje: “o Point”. Ficou sabendo que esse local era a Praia de Iracema, aos domingos.
Hypérides, atleta de futebol de salão, na época da Escola. Já estava aculturado à cidade. Parece que, já lançando moda: um tênis de cada cor...

Assim, trajando a sua melhor roupa, sapatos bem lustrados, pegou dois ônibus e foi até à Praia de Iracema, que ainda não tinha sido destruída pelas correntes marítimas desviadas pela construção do Porto do Mucuripe.

Ao pisar a areia famosa, ficou estático ante o que estava vendo. Contrariamente à lembrança da “sua” praça de Iguatu, todos estavam em trajes sumários - calção, maiô e pasmem – descalços! Dezenas de pessoas correndo na areia, jogando bola, peteca, deitadas na areia, algumas molhadas do mergulho recente e muitas se banhando ao embate das ondas. E ele ali, se considerando um ser estranho de TERNO, GRAVATA E SAPATOS!!

Foi o maior choque cultural de toda a sua vida!

O DESCUIDO

Contado pelo Ivens

Nessa busca por fotos antigas para o nosso Blog, a Edméia achou um cartão postal de Manaus enviado pelo Agamenon. Desejava um bom Natal e um feliz ano novo. Não tem data.

Fiquei com aquele cartão na mão, lendo a mensagem, e a mente viajou...

Certa ocasião, na década de oitenta, estive em Manaus, a serviço, e tive oportunidade de me encontrar com o nosso colega. Gozava de excelente conceito junto aos engenheiros, como calculista. Fomos, inclusive, num fim de semana, a um almoço, com o pessoal do Crea, Destacou-se a sua gentileza – qualidade que lhe era peculiar -, me apresentando a todos como um colega de uma turma que tinha grande apreço – a T68. Já havia tido um problema de coração, mas pelo que ele comia e bebia, não dava a mínima pelota. Aos meus apelos por se cuidar, só fazia rir.

Continuei com aquele cartão na mão e a mente viajou mais no tempo...

Lembrei-me que desde o primeiro ano da Escola que o Agamenon estava envolvido com cálculo estrutural. Ele era um excelente desenhista de ferragem. Caso não esteja enganado, trabalhava na Sumov e ganhava um dinheiro extra como desenhista dos calculistas de então. Como tal, tinha grande habilidade de trabalhar com os tais “tira linha” do desenho a nanquim. Por sinal, nunca consegui passar um traço com aquele “instrumento”. Não entendia como uma gotinha de nanquim, colocada na extremidade do tal tira linha, podia escorrer numa régua, traçando uma linha perfeita. Todas as minhas tentativas resultavam numa “melequeira” total. Outro que trabalhava divinamente bem com o tira linha era o Alcimar. Eu ficava admirado com a habilidade deles. Não fui reprovado em Desenho Técnico porque descobri que existiam as canetas Oxford. Foram a minha salvação!

O Agamenon andava sempre com uma pasta preta (parecida com a do “Obra”), cheia de projetos a desenhar.

Graças a esses serviços extras, conseguiu fazer uma economia e comprou um Jeep. Na verdade era um Jeepão. Certo dia ele estacionou na Escola e notei que o Jeep estava amassado. Então, perguntei:

- O que houve, Agamenon?

E ele, rindo – aliás uma característica dele de sempre falar rindo – disse:

- Ora, Ivens, eu vinha de casa e esta minha bolsa estava no banco do carona. Numa curva, a bolsa caiu no piso do jeep. E eu, olha só, achei de apanhar a bolsa! E me esqueci da direção, Ivens! Quando percebi, já foi a pancada num poste!!!!

O CACIQUE

Contado pelo Ivens

Como já foi dito, a não realização da Cerimônia na Concha Acústica, em 1968, foi uma grande decepção. Para os familiares, então! Vários deles vindo de longe, a fim participar da solenidade tão almejada. Muitos chegaram a ir à Concha Acústica e receberam, perplexos, a notícia do cancelamento.

Um grupo de colegas estava reunido, comentando esse cancelamento. Entre eles o José Flávio e, ao lado, o Paiva que, como todos sabem, era maranhense. Uma outra característica dele: era de não levar desaforo para casa. Por isso, para distinguir de outro Paiva que tinha na escola, era conhecido, carinhosamente, como “Paiva, o Grosso”.

O “Pade Véi”, que não levava nada a sério, não perdeu essa oportunidade, traumatizante, para fazer uma brincadeira. Com o claro objetivo de gozar o Paiva, que estava ao seu lado, comentou:

- Isto é um absurdo! Principalmente para os familiares que vieram de longe. Para mim, nem tanto. Os meus familiares são de uma cidade do interior, mas moram todos aqui. E quem veio do Maranhão! Principalmente porque tiveram que comprar cocar novo, tacape novo, flecha nova...

Disse isso e esperou a pancada do Paiva, que veio de imediato:

- Oh Pade Véi, “tu” quer apanhar, não é porra!


GEOMETRIA DESCRITIVA

Contado pelo Ivens

O Padre Heitor, segundo o Róseo, estava numa daquelas suas aulas que poucos acompanhavam. Então, ele explicava:

- Vou marcar um ponto, aqui no diedro. Dois pontos criam uma reta. Uma reta e um ponto definem um plano.

Para aqueles que não estudaram Geometria Descritiva, a grande dificuldade da matéria consistia em levar o aluno a pensar espacialmente. Diferentemente da Geometria cartesiana, que tudo está no plano. Todos estavam habituados, desde o ginasial, a pensar no plano. Agora, você tinha que fazer um esforço de imaginar um espaço, desenhado numa lousa, portanto, num plano. Os diedros eram espaços imaginários, limitados por dois planos perpendiculares entre si. Qualquer figura desenhada nesse espaço, tinha as suas projeções nesses planos. Realmente, era necessário haver um esforço para imaginar esse espaço e as projeções respectivas. E, tudo isso, desenhado em perspectiva, pois o professor não dispunha de modelos tridimensionais. Hoje, no computador é fácil criar e entender essas imagens.

O padre Heitor, então, dirigiu-se ao Paiva e perguntou:

- Está entendendo “seu” Paiva?

O Paiva, de imediato, respondeu:

- Estou entendendo tudo. Agora, só me explique uma coisa: por que é que o senhor diz que quando vai marcar um ponto, marca dois?


DESCARRILAR

Contado pelo Ivens

Em toda turma de estudantes sempre têm aqueles que gostam de perguntar. Perguntam tudo e, consequentemente, muita bobagem. Geralmente são aqueles que têm necessidade de afirmação e querem se fazer notar.

Numa aula do Professor Lourenço Montalverne, segundo o Costinha, um desses alunos recebeu a devida resposta a uma dessas perguntas desnecessárias.

O aluno perguntou:

- Professor o que é que provoca um descarrilamento de um trem?

O professor, prontamente respondeu:

- Rapaz, eu não sei não. Mas, o que descarrila gente é um par de chifres bem dados.


O MATEMÁTICO

Contado pelo Ivens

O Róseo, que é um contador de “causos”, ainda em débito com o Blog, contou que o Paiva chegou para assistir a uma aula de Matemática Aplicada depois de uma noitada daquelas.

O Professor, Dr. José Lins de Albuquerque – uma mente brilhante -, tinha um estilo todo especial de dar aula. Ele falava pausadamente, e num tom de voz tranqüilo. Caminhava lentamente de um lado a outro da sala, segurando um giz com um estilo todo especial. Com isso, tentava fazer com que os alunos fossem acompanhando cada desenvolvimento do teorema que estava explicando.

O Paiva, levado pelo cansaço do excesso noturno, pelo teorema que estava sendo explanado – nem sempre de fácil compreensão – e a tranqüilidade da aula, levaram-no a, literalmente, dormir. Não chegou a roncar, mas dava aquelas “pescadas” violentas.

O Dr. José Lins percebeu, parou e ficou observando o Paiva. Estabeleceu-se aquele silêncio absoluto. O Paiva, então, acordou, com o silêncio. Em seguida, o Professor comentou na sua voz bem pausada:

- Pode continuar dormindo, “Seu” Paiva. De qualquer forma, no Maranhão, o senhor será um grande matemático!

O Costinha, que estava ao lado do Róseo, completou:

- Eu não sei se o Dr. José Lins estava gozando o Paiva ou o Maranhão...


O VIADO

Obs.: Com “i” mesmo de desviado...

Contado pelo Ivens

O professor Santana, segundo o Róseo, estava ministrando uma de suas aulas de Pavimentação. Então, entrou na sala de aula um aluno de cabelo comprido. O Róseo não lembra quem era. Também não lembro nenhum de nós com cabelo comprido. Provavelmente algum aluno de outra turma.

O professor parou, olhou e comentou:

- Estão vendo? Hoje em dia, você olhando para um cara desses não sabe se é homem ou mulher. Homem tem que ser como eu! Não tem quem diga que eu sou viado.

Então, um aluno, na primeira fila, disse:

-É mesmo, professor. Não tem quem diga!


O TRAVESSEIRO

Contado pelo Ivens

Quando o Dr. Milton foi preso pela ditadura, assumiu o lugar dele o Professor Homero Lenz. Ficou, então, todo mundo preocupado se as provas seriam mais difíceis do que as do Miltoff.

A primeira prova dele foi daquelas de matar. Consequentemente, todos os alunos ficaram ansiosos por receberem o resultado.

Na segunda feira, foram ao professor solicitar as notas. Ele, então, explicou que a correção ficara a cargo do seu assistente, o professor Augusto Armando, o Zoin.

Acontece que o Professor Armando participara, no dia anterior, de uma festa no CEU e tomara todas as doses possíveis de Bacardi. E foi direto da festa para a Escola, mais especificamente, para o Gabinete do Professor Homero.

Então, o Professor e um grupo de alunos, entre eles o Costinha, se dirigiram ao Gabinete para apanhar a relação das notas.

Ao abrirem a porta do Gabinete, se depararam com o insólito quadro do “Zoin”, estiradão no mesa do Professor Lens, com as provas lhe servindo de travesseiro.

Seguindo o Costinha, o Professor Homero teve a seguinte reação:

- Augusto, o que é isso?!?!

O SEQUESTRO DA PLACA

Contado pelo Ivens

Foto Histórica da nossa Placa, pouco antes de ser absurdamente arrancada por uma patrulha do Exército. Aparecem, da esquerda para a direita: José Maria, Bartolomeu, Samir, Neudete, a placa, Ediberto, Rezende e Carmelo. Percebam a maneira respeitosa, orgulhosa, quase reverencial dos nossos colegas para com ela. Parece que estavam adivinhando que aquele seria o último dia em que ela estaria exposta. Somente retornaria ao seu lugar, 40 longos anos depois. Por coincidência, estava presente o seu Guardião por 37 anos, o José Maria Braga Costa.
José Maria limpando 40 anos de poeira na placa. Voltou para a Escola, o seu devido lugar.

Vale destacar o valor simbólico dessa placa. Ela era a materialização de sonhos nossos e dos nossos parentes, arduamente conquistados, com muito empenho, muita dedicação, muitas noites insones. Tudo iniciado com a superação da dificílima barreira que era o Vestibular da Escola de Engenharia.

Mas, a insensibilidade de um regime viu, nesse símbolo, um ato de rebeldia. Simplesmente porque o nosso patrono, o grande brasileiro Celso Furtado e o Paraninfo, um Professor – Dr. Milton Ferreira de Sousa –, eram tidos como adversários do regime.
As homenagens eram motivadas, unicamente, pelo forte sentimento de justiça da nossa turma. A iniciativa da Sudene – diga-se, Celso Furtado -, criando um cursinho preparatório e uma bolsa de estudos, democratizou o acesso à Escola. Graças a essa decisão, grande parte da turma teve a oportunidade de cursar a Universidade. Inclusive propiciou a dedicação integral, que exigia o difícil curso de Engenharia.

O Dr. Milton era o símbolo do cientista patriota e do professor dedicado. Apostava em criar na Escola um Centro de Pesquisa de ponta. Tanto estávamos certos que, até hoje, em São Carlos/SP, continua com as mesmas idéias. Um entusiasta no país e um pesquisador incansável. Na sua conversa conosco, durante a cerimônia de aposição dessa placa, nos revelou que está prestes a liberar, comercialmente, um material, a base de gesso, que irá baratear tremendamente a construção civil. Possibilitará resolver o grave problema do déficit de moradia no país. Identicamente, um novo tipo de cimento, menos poluidor do meio ambiente e que possibilitará aumentar a resistência à tração do concreto, reduzindo o consumo de ferro e possibilitando peças mais esbelta e, conseqüentemente, o barateamento da construção civil. Portanto, estávamos mais do que certos em homenagear essa mente brilhante.

Dentro dessa mesma linha de gratidão e não de contestação, homenageamos mais três professores: Hugo Alcântara, Sílvio Duque e Neudson Braga. Eles sintetizavam as influências positivas que recebemos e nos prepararam para a nossa vida profissional: projetistas, calculistas e engenheiros preocupados com o conjunto dos problemas nacionais.

A CARREIRA DOS SESSENTA

Contado pelo Ivens


Em 2005, fui a Maceió prestar uma consultoria ao Governo do Estado. Era um projeto da nova Ceasa. O avião saía cedo de Fortaleza. Quando entrei no táxi, lembrei-me que tinha esquecido de fazer um depósito na conta da minha filha, no Banco do Brasil. Pensei então: - lá no aeroporto eu faço. Mas, como era muito cedo, os caixas eletrônicos ainda não estavam liberados. Decidi que, chegando ao aeroporto de Maceió eu faria o depósito.

Ao desembarcar, o motorista da Ceasa já me aguardava, com uma placa na mão: Ceasa/AL, Dr. Ivens.

Cumprimentei-o e avisei que iria fazer um depósito no Banco do Brasil. Ele, então, me sugeriu:

- Dr. Ivens, tem uma agência do Banco do Brasil pertinho do Hotel onde o senhor vai ficar.

- Então, vamos logo, para não atrasar.

Chegando ao hotel ele já me mostrou a agência e avisou que, após uma hora o Diretor da Ceasa iria me pegar, para irmos à primeira reunião de trabalho.

Dei entrada no Hotel e nem subi para deixar a bagagem. Deixei avisado na portaria que iria ao Banco e voltaria de imediato, caso alguém chegasse para me pegar.

Fui caminhando até ao BB e pensando nas comodidades atuais, em que a nossa agência está em qualquer lugar.

Como ia fazer o depósito em dinheiro, preferi fazer na boca do caixa. Ao entrar na Agência percebi uma fila de dez a doze pessoas. Peguei o meu lugar, olhei o relógio e verifiquei que tinha tempo suficiente. Nem dei uma geral no Banco, quando o guardinha de segurança, chegou ao meu lado e cochichou ao meu ouvido:

- O senhor já entrou na “carreira dos sessenta”?

E eu:

- Já, sim!!

Ele, apontando para a outra fila, com apenas duas pessoas, me disse:

- Então, o senhor pode ir para aquela outra fila ali, que é a dos idosos...

PARIS

Contado pelo Ivens

O que caracteriza mais o brasileiro no exterior é a sua compulsão para consumir. Principalmente na época em que não tínhamos a estabilidade econômica atual.

Na viagem que Edméia e eu fizemos à Europa, em todos os paises que visitamos, encontrávamos turistas de todas as partes de mundo. Quando queríamos ouvir alguém falando português, do Brasil, bastávamos chegar perto de um turista com uma sacola de compras.

Cúpula da Galeria Lafayette. Enquanto Edméia ia em busca das novidades dos perfumes franceses eu me preocupava com os detalhes arquitetônicos do prédio, em especial da sua belíssima cúpula.
O Oto, em uma das suas costumeiras viagens a Paris, estava na Galeria Lafayette, dando vazão a essa mania brasileira. Quando ele avista, também nessa mesma loja, um outro brasileiro e da T68. Não se contém. Abre os braços e grita, a todo pulmão:

- PRIQUITIIIIIIMMMM!!!!!!!!
Augusto com o Florêncio. Ao fundo, eu e o Omar, muito interessados na aula de Contabilidade.



A SALVAÇÃO

Contado pelo Ivens

Como dizia Einstein, tudo é relativo. O Augusto desembarcava no Aeroporto de Argel, proveniente de Roma para sua primeira missão como empregado da Petrobrás Internacional. Viajava na companhia de outro engenheiro, o Januário. Ao chegar, percebeu uma grande confusão e muita desorganização. A República Democrática Argelina estava recém criada. Tinha apenas quinze anos que se declarara independente da França. Ficou muito apreensivo, angustiado mesmo. Passar pela Alfândega, encontrar o contato da Petrobrás, aquela confusão de línguas, árabe com francês. Era muito estressante.

Então, ouviu, do andar superior do aeroporto uma palavra que o tirou daquele tormento e dando-lhe um enorme alívio e incontida satisfação. Deu-lhe a certeza que estava em casa. Foi pronunciada em alto e bom som:

BAITOLA!!!!!

Era o Alcimar!

O PERIGO

Contado pelo Ivens

No dia seguinte a esse resgate do Aeroporto, Augusto e o Januário caíram na estrada na direção do acampamento da Petrobrás. Dirigiam um Peugeot 204 por 800 km em estrada de asfalto e terra, bastante acidentadas. Cerca de 80% do país são cobertos pelo Deserto do Saara. Quando estava chegando ao acampamento, o Januário errou o caminho. Praticamente, não existia estrada e, seguidamente, atolavam-se na areia. O Augusto, marinheiro de primeira viagem, saia e ia empurrar o carro, deixando o Januário ao volante. Depois do terceiro atoleiro o Januário confessou:

- Rapaz, aqui tem muito escorpião!

O Augusto, como um cearense autêntico, ficou "arretado" com aquela sacanagem e tomou a direção do carro. Não houve acordo. Desatolar? De jeito nenhum!. Como batismo da primeira missão do Augusto foi dormir, naquele dia, no Deserto do Saara.


HISTÓRIA DA MAÇÃ

Contado pelo Toni

Mesmo em tempos de vacas magras eu arranjava um jeito de ir ao PV ver o alvinegro de Gildo jogar. Naquele domingo, então, o clássico: Vovô (hoje Vozão) X Ferrim (hoje Ferrão).

O jogo começa e me passa na frente um vendedor de maçãs, me provocando. Naquela época, era uma fruta cara (importada da Argentina), principalmente para o meu orçamento. Verifiquei as finanças e após análise minuciosa me deparei com o seguinte conflito: ou comprava a maçã ou jantava, já que domingo não tinha CEU. Optei pelo jantar, mas não deixei de seguir com os olhos, com certo arrependimento, o vendedor, até ele se perder de vista na massa de torcedores. E, assim, foi com uns dois ou mais vendedores que se seguiram. Por fim, tomei uma decisão sábia! Comprei a maçã diante de um novo dilema:

OU A MAÇÃ OU O JOGO!

VIDA DE PROFESSOR I

Contado pelo Toni

O fato ocorreu quando eu morava na “Casa do Estudante do Ceará”, na Nogueira Acioly 440, logo quando nós raspamos o “Pobre” que tinha antes “do Ceará”, na fachada, para não pegar mal com a moçada vizinha.

Estando na pior, matando cachorro a grito, e ao mesmo tempo me achando o máximo, pois já fazia engenharia, pedi ao meu amigo Romildo, então já professor de cursinho, que ele me arranjasse para eu fazer um teste num deles.

Dias depois me chega o Romildo com a boa notícia: o teste seria no cursinho noturno, na Fênix Caixeral, na Praça José de Alencar. O assunto da aula era a demonstração da fórmula da soma dos termos de uma progressão aritmética e exercícios correlatos. Uma barbada! A grana estava garantida!

Preparei a aula com muito cuidado, mostrei ao Romildo que, de pronto, aprovou. De tanto rever, acabei decorando. Não podia perder aquela boquinha! Vesti a melhor roupa e usei um pouco de perfume “Topázio”, cortesia de um colega que havia ganhado de presente, e prá lá me fui.

Comecei a ficar nervoso ao avistar o prédio da Fênix, me parecendo maior do que o via de costume. Romildo me apresentou ao Diretor, que me conduziu ao andar superior. Não era uma sala, mas um salão enorme! Senti um calafrio! A cada pisada que eu dava no assoalho, o estrondo ressoava no ambiente, como a me cadenciar o passo.A distância até o quadro negro me pareceu interminável. Nessa hora, muito lamentei não saber voar.

Quando cheguei à frente da turma, me viro e olhe só o que vejo: SÓ MULHER! MAIS DE 50! Após as apresentações de praxe vem o pior, que era o motivo porque estava ali: A AULA! Na cabeça, só confusão! Olhei para cima, como em busca de ajuda divina, respirei fundo e me recordei do início do “preparado”. Assim, senti certo alívio.

Quando comecei a escrever o giz quebrou-se em vários pedaços. Tudo contra mim! Mas, pensei rápido, procurando a tranqüilidade, que o dito cujo poderia estar com defeito, ou mesmo, quem sabe, este fato não poderia ocorrer mesmo com os professores mais experientes?! E assim, a aula decolou de certo modo satisfatória.

Quase na metade, não sei bem porque, talvez ao ver no quadro negro a prova do nervosismo, as marcas de suor de minhas mãos, como a me dar adeus, uma nova pane ocorreu: ESQUECI TUDO! Corta termo aqui. corta termo acolá. cheguei à óbvia e triste conclusão: ZERO IGUAL A ZERO! Decidi pelo último recurso: Apagar Tudo!

Neste instante a sorte não me ajudou, mais uma vez: passei, sem querer, as costas do apagador na lousa, provocando um barulho ensurdecedor. As alunas, que até então permaneciam em silêncio tumular, caíram na gargalhada. Fui salvo, literalmente, pelo gongo e a aula acabou, mas não a carreira. Quinze dias depois era professor de matemática do primeiro ano científico noturno, com oito alunos, todos homens, no colégio Lourenço Filho. Efetivado, sem teste!

VIDA DE PROFESSOR II

Contado pelo Toni

Ano de 1966. Inicia-se o boom dos cursinhos preparatórios para o vestibular. Levado por estes bons ventos eu já era requerido por alguns dos emergentes e me dei ao luxo de ser um especialista. Era professor de física e só de mecânica. E se quisessem era assim!

Quando no CEU o almoço era “sonho de noiva” (lingüiça com ovos) eu ia pegar uma peixada no Alfredo, na Beira Mar, com uma geladinha. Ia de Sinca Chambord, no banco traseiro, diagonal com o motorista - em grande estilo.

Estava rico e feliz!

A ESTRELA DO ERNESTO

Contado pelo Toni

Penso que foi no ano de 1985, quando estava na casa de meu sogro, de férias na terrinha. O Ernesto me contactou pelo telefone. Não lembro como ele me localizou. Queria me convidar para um churrasco em sua casa para recordarmos dos tempos de escola e também como uma oportunidade para que as mulheres respectivas se conhecessem. Aceitamos de bom grado o convite.

O Ernesto me ensinou como chegar lá: vai por aqui, dobra ali etc e tal. Como a pedir ajuda disse: - Como você é conservador o carro parado em frente de sua casa deve ser um Studebaker!

O Ernesto respondeu:

- É não. Mas, é um Opala 73.

Por via das dúvidas pedi para que ele deixasse aquele seu guarda chuva aberto, junto á porta da frente. Chegamos lá sem dificuldades.

Desnecessário dizer que foi um dia maravilhoso. Rimos a valer, bebemos todas - de sorte que não lembro do churrasco propriamente dito. Falei sobre minhas atividades na Petrobras e da cidade onde morávamos. O Ernesto, por seu turno nos contou, entre outras coisas, de seu doutorado, namoro e casamento em Porto Alegre.

Lá pelas tantas nos contou, com certo ar de aborrecimento, um fato recente ocorrido em uma de suas aulas. Um tenente do exército, seu aluno, insistia em assistir à uma de suas aulas com um revólver em seu cinto de guarnição. E olha que diálogo legal:

- O senhor pode sair da sala. Não lhe dou permissão para assistir minha aula armado!

- E daí, eu sou tenente do exército!

- Pois enfie a merda dessa sua estrela no cu!

Senti um clima nebuloso entre as mulheres e procurei amenizar:

- Quer dizer Pitombeira, que você teve a coragem de mandar o oficial enfiar a estrela no rabo?!

- Não, Castro. Foi no cu mesmo!

ERNESTO E O TELEFONE

Contado pelo Toni

Fui assistir a aula inaugural da Engenharia Civil no Campus da UFC no início do ano letivo de 1999, acompanhado de meu filho Matheus, então calouro. Chefe do cerimonial: Professor Ernesto da Silva Pitombeira, Diretor do Centro Tecnológico. Convidado especial: Secretário de Estado Hypérides Pereira de Macedo que falou, em boa palestra, sobre o nosso “pródigo” solo cearense - quase em sua totalidade composto por cristalino.
Concluída a solenidade, me encontrei com o Ernesto na saída do auditório. Depois de muitos abraços, conversamos um pouco apressados, mas alegres pelo encontro, de certa forma inesperado. Ernesto pediu meu telefone para contato para pôr o papo em dia. Foi difícil achar onde anotar, mas, caneta ele tinha. Por fim, encontrou uma bula de remédio em um dos bolsos e lá escreveu, usando a parede como apoio. E nos despedimos.
Uns dois anos depois, num dos aniversários do Cleto, tivemos o seguinte diálogo:
- Ernesto, você ficou de me ligar e nada, porra?!
- Castro, perdi o número de seu telefone.
Então, peguei um guardanapo e nele escrevi o número do telefone. Mas, antes de entregá-lo, fiz uma bolinha do guardanapo, como se fosse jogar fora e disse:
- Tome, Seu Ernesto, novamente o meu telefone, COM AS COISAS JÁ FACILITADAS!

ACERTO NO MARINAS

Contado pelo Toni

Finalizando um de nossos almoços de fim de ano, no Marinas, o Cleto senta para fazer a arrecadação da grana para fazer frente as despesas. Em cima da mesa diversos cheques, cartões de crédito e dinheiro. Em volta, todos nós (a maioria com as devotas respectivas). De repente o Zé Flávio, nosso “Pade Véi”, fala de longe:

- Cletim, quanto é?

- Quinze reais por cabeça.

E o Pade Véi:

- E se eu quiser botar toda?

Zé Flávio e o Zé Maria nesse dia, no Marinas

HOSPITALIDADE CARIOCA

Contado pelo Toni

Eu tinha um colega da Petrobras, carioca, que trabalhava na sede, no Rio. Era um cara alegre e muito bom de papo. Por conta disso sempre que ele ia a Aracaju era muito bem recebido por nós, pertencentes ao mesmo setor, em Sergipe. Éramos poucos, uns quatro, talvez. Tínhamos o maior prazer em pegá-lo no aeroporto e várias vezes jantava em nossas casas num sistema de rodízio. Essas coisas que, em geral, só o nordestino faz. Certa feita, eu estava no Rio, a serviço, quando casualmente o encontro:

- Castro, você por aqui? Hoje você vai jantar comigo lá em casa, prá gente tomar uns uisques!

Entrou no elevador, a porta fechou-se e, até hoje, não sei onde ele mora.

ATESTADO MÉDICO.

Contado pelo Toni

No Ideal eu estava sentado próximo a Dedé, quando chega o Fechine, sempre muito atencioso. Após os cumprimentos eu falei
- Fechine você não foi aos eventos anteriores. Levou falta. Possivelmente, está no pau por falta.
Logo respondeu:
-É mesmo, vou atrás de um atestado médico.
Aí Dedé entrou na conversa:
-Procure um veterinário!

BRONCA DO PROFESSOR RAIMUNDO

Contado pelo Neudete


Quando das aulas práticas de Topografia, nós éramos distribuídos em equipes, onde uma delas tinha a seguinte composição: eu, José Maria, Joaquim, Abner e (se não me falha a memória) Ediberto.
Como auxiliar da Cadeira, contávamos com o Professor Raimundo, também conhecido como Raimundinho e que sempre nos levava à praça da Gentilândia, para os devidos estudos e levantamentos topográficos.
Considerando que tais aulas eram pela manhã, quando tínhamos que enfrentar, quase sempre, um sol causticante, nem todos os “discípulos” se davam ao luxo de “auscultar” o teodolito, proceder às leituras conforme os balizamentos devidos, anotar os valores observados e lançá-los nas correspondentes cadernetas (é o novo!).
Dada a minha postura de sempre anotar tudo (longe de mim em querer competir com o Ernesto Pitombeira), independentemente das condições climáticas, certo dia, após o Professor Raimundo orientar nossa equipe de como proceder, o mesmo foi “assistir” às outras equipes. Nesse ínterim, os componentes de nossa equipe - menos eu -, saíram em busca, talvez, de uma sombra de árvore ou outra coisa que o valha, quem sabe, matar a sede. Quanto a mim, fiquei junto ao teodolito, observando-o, anotando alguma coisa, preparando a caderneta e esperando o retorno do mestre.
De repente e com espanto, foi surpreendido com severas observações e advertências que me foram dirigidas pelo Professor, como:
- Seu pai mora no interior?
Eu disse que sim.
- Será que você não está sendo injusto com ele, frente ao sacrifício que o mesmo faz para te manter aqui em Fortaleza?
Sem entender nada do que estava a ouvir, eu perguntei:
- Professor, do que se trata?
Aí ele respondeu:
- Você pensa que me engana? Você só veio agora, para este local, porque percebeu que eu estava caminhando para cá!
Não concordando com a acusação que me estava sendo imputada e, cada vez mais sem entender, pensei em procurar ajuda e o testemunho dos “prestimosos” colegas da equipe, ocasião em que tentei localizá-los e os vi no outro lado da praça, na calçada de uma residência, todos rindo às gargalhadas e olhando para nós (eu e o Professor). A partir daí, passei a entender o comportamento do querido Raimundinho para comigo. Tentei demovê-lo da sua opinião sobre minha pessoa, mas tudo foi em vão. Ele continuou irredutível.
Ao retornarmos à sala de aula, contei o episódio ao José Maria e este me relatou que, ao perceberem que o professor se dirigia à nossa equipe e eles não estavam no local, fizeram média com o mesmo, afirmando:
- Professor, todos nós já concluímos o trabalho, menos aquele que está ali no teodelito, pois o mesmo não quer “ovo” e, só foi para lá, depois que pressentiu que o Senhor ia chegar.
O importante de tudo isto, é que, por um bom período, o Professor Raimundo, sempre que se encontrava comigo, perguntava como eu estava, me dava conselhos no sentido de ter mais cuidados com meus estudos e mais consideração para com meus pais, já que, os mesmos,possivelmente com sacrifício, me mantinham em Fortaleza. Uma vez me disse: tenha cuidado, eu estou de olho em você.
Com o “andar da carruagem”, fui conquistando a confiança do ilustre mestre ou o mesmo caiu na real, pois, antes de terminar nosso curso, ele disse-me que tinha mudado seu conceito sobre minha pessoa.
Ressalto que, até bem próximo de seu falecimento, vez por outra nos encontrávamos na agência do BEC (hoje Bradesco) da praça Portugal e sempre conversávamos cordial e amigavelmente.


“CUSPARADA” DO LUCIANINHO EM CLÁUDIO NOGUEIRA.

Contado pelo Neudete

Certo dia, num intervalo de aula, uma parte da T-68 estava sentada em um dos bancos localizados ao lado do laboratório de hidráulica.
Conversa vai, conversa vem, em dado momento o Lucianinho, com aquele jeito de menino traquino e peralta, se aproxima do Cláudio Nogueira e, num gesto rápido e eficiente, age como se estivesse a cuspir sobre o mesmo, mas que, na realidade não aconteceu.
Com a habilidade e destreza com que tal fato se deu, a todos os que o presenciara, ficou a nítida impressão de que a cusparada fora consumada, e, nesse rol, se incluiu o próprio Cláudio.
Portador de uma postura sempre séria e respeitada, daí porque ninguém tinha coragem de tirar um “dedo” de brincadeira com o mesmo, Cláudio ficou furioso e, correndo pelos corredores da Escola, tentava pegar o seu “desafeto”, até que este, se vendo em situação de perigo, refugiou-se no gabinete do Professor Hugo Alcântara, fechando a porta correspondente.
Enfurecido e talvez se sentindo frustrado, o Cláudio montou “guarda” na aludida porta.
Sentindo que a sua “vítima” não arredava pé da escadaria do laboratório, Lucianinho tentou escapar através de uma árvore (seria goiabeira?) cujos galhos (alguns) findavam na janela do seu asilo. Nesta hora, os “atiçadores” da T-68, presentes na refrega, acionaram o Cláudio e este passou a vigiar também a árvore.
Com o desenlace custando a acontecer e terminado o intervalo de aula, me dirigi à sala, motivo porque, sugiro que alguém conclua o relato do desfecho deste “episódio” da T-68.


Esclarecimento do Cláudio Nogueira:

O Neudete apenas "ouviu o galo cantar ..."

Realmente aconteceu um fato em que fui uma das vítimas e o principal mentor era o Duartinho (parece-me que o Lucianinho também participava), e estava(m) no andar superior do laboratório de hidráulica jogando saquinhos plásticos cheios de água, como se fora urina, nas pessoas que passavam na calçada pelo lado de fora do laboratório. Realmente fui "premiado" e na hora fiquei muito "puto". Confesso que não lembro de maiores detalhes, mas realmente a minha reação foi "forte", mas não corri atrás de ninguém ...

Na versão do Neudete tem muito "folclore"! Creio que o Duartinho ainda está lembrado de tudo, mas ele não gosta de falar sobre o assunto.

Tenho certeza que logo tudo foi esclarecido e não ficou qualquer resquício de animosidade entre nós. Pelo contrário, sempre gostei muito do Duartinho e do Lucianinho.


FRUSTRAÇÃO E ALEGRIA DE MEU PAI

Contado pelo Neudete

Sendo meus pais naturais de Sobral, e eu, o único filho, de um total de oito, que conseguiu se formar, a minha colação de grau em Engenharia Civil, no ano de 1968, foi de uma alegria incomensurável para os mesmos.
Por conta de tal fato, meus familiares se deslocaram até Fortaleza, para assistirem e participarem das solenidades de minha colação de grau. Era alegria o dia todo e todos os dias, ou melhor, até o dia do AI-5, data fatídica e que proporcionou principalmente a meu pai, a frustração de não apadrinhar um filho com o grau de nível superior, já que sempre foi um sonho seu. Imaginem a desolação que passou a reinar nele e na família.
Como, porém, Deus é de uma justeza a toda prova, dez anos depois, em 1978, concluí o curso de Engenharia Elétrica na Unifor e nessa ocasião, a tal frustração foi banida, pois, o autêntico sertanejo que era meu pai, teve participação ativa e orgulhosa nas comemorações da colação de grau de um seu filho, que, para gáudio meu, era eu.
Considerando que no passado, o anel de formatura era um utensílio intrínseco a todas as profissões e funcionava como o indicativo máximo de um DOUTOR, meu pai não fugiria da regra em me proporcionar tal troféu, e, assim sendo, nos idos de novembro de 1968 fui convidado por ele para irmos a um ourives tirar a medida para o meu anel.
Avaliando o sacrifício de meu pai por tal empreendimento, associado ao meu entendimento de ser desnecessário tal anel, questionei a sua aquisição. De pronto, meu pai, com a franqueza que lhe era peculiar, argumentou que, além de ser uma obrigação dele, aquele ato traduzia a alegria e o orgulho de ser pai de um filho DOUTOR. Percebendo aflorar de seu semblante a sinceridade do que estava a anunciar-me, de imediato mudei de opinião, acatei o convite de meu pai e posteriormente recebi o presente.

GUIDO DUVIDA DE MINHA FORMAÇÃO COMO ENG. ELETRICISTA

Contado pelo Neudete

Tão logo concluí meu curso de Engenharia Civil, foi trabalhar na Conefor (hoje, parte da Coelce).
Visando me enquadrar profissional e legalmente no meu emprego, logo que surgiu em Fortaleza o curso de Engenharia Elétrica, o cursei e me formei com a primeira turma da Unifor.
Entre as atividades que exerci na Coelce, trabalhei no setor de Projeto e Construção de Redes Elétricas e, por conta disso, as obras elétricas nas vias públicas de Fortaleza originavam-se desse setor, e foi o que aconteceu quando da construção da rede elétrica para atender a um canal de televisão que se instalaria na Avenida Antônio Sales, esquina com a Rua Silva Paulet.
O projeto para tal canal televisivo previa a implantação de um poste na calçada do imóvel seu vizinho. Ao iniciar tal implantação, os operários da Coelce foram interpelados pelo proprietário vizinho, ao ponto de proibi-los a continuar os serviços e exigir a presença de um engenheiro eletricista da Coelce para o devido diálogo.
Retornando da missão não cumprida, os operários relataram o ocorrido e fui designado para representar a empresa em tal diálogo.
Chegando ao local, dirigi-me à residência do vizinho e, para surpresa minha, constatei que o mesmo tratava-se do Professor Guido Fontgland. Cumprimentei-o, chamando-o de Professor, para, em seguida, me apresentar como um engenheiro da Coelce. Isto proporcionou a que ele me perguntasse:
- Por que você me chama de professor? Você já foi meu aluno?
Como resposta, afirmei que sim e salientei que fora do curso de Engenharia Civil da UFC.
Isto foi o suficiente para que o mesmo me interpelasse:
- Como Engenheiro Civil, você vem tratar comigo de assunto da Engenharia Elétrica?
Entendendo que o mesmo queria me gozar ou pôr empecilho nos serviços da Coelce, lhe respondi:
- Professor, além de Engenheiro Civil, sou também Engenheiro Eletricista.
Aí, ele retrucou:
- Eu é que sou Engenheiro Civil e Eletricista. Você é só Engenheiro Civil.
Sentindo-me a vontade, após presenciar um ar de gozação do interlocutor, lhe expus a seguinte afirmativa:
- O Professor deve ter feito um só curso que lhe deu atribuições nas duas modalidades de Engenharia. Quanto a mim, eu fiz um curso de Engenharia Civil na UFC e outro de Engenharia Elétrica na Unifor.
Sem mais argumentação e não querendo dar o braço a torcer, o professor mudou de assunto e propôs que eu lhe expusesse o projeto elétrico que iria atender ao seu vizinho (canal de Televisão). A partir de então, passamos a ter um diálogo mais ameno.
Pouco tempo depois, quis o destino que nos encontrássemos novamente, desta vez, no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Ceará (Crea-CE), onde atuamos como Conselheiros. Eu como Engenheiro Eletricista e ele como Engenheiro Civil. Agora bem mais cordial.
No Crea-CE, nos documentos em que ele era citado, exigia que fosse tratado como Engenheiro Civil e Eletricista. Quanto a mim, eu só usava a designação de Engenheiro Eletricista, já que, ali, eu estava como tal. Pois não é que, certa vez, ele chegou para mim e recomendou que eu usasse também a titulação igual à dele, no que eu discordei argumentado que no Crea-CE eu estava exercendo a função de um Engenheiro Eletricista. Quanto a ele, sugeri que, por estar exercendo a função de um Engenheiro Civil, assim ele deveria ser considerado. Não preciso dizer que ele discordou.

MAIS “LASCADO” SERÁ IMPOSSIVEL!

Contado pelo Neudete

Esse “causo” que descreverei a seguir, não foi presenciado por mim, mas ouvi de um colega Civil da T-68 e que não mais me lembro quem foi. Sei apenas que foi narrado numa roda de colegas da Escola de Engenharia.
Um colega nosso, antes de dar aula em Cursinho preparatório ao vestibular, enfrentava dificuldades econômicas e financeiras para se manter.
Com o passar do tempo, foi convidado para ministrar aulas em Cursinho, sobre matéria do vestibular de Engenharia. Esse fato, como é óbvio, lhe propiciou a receber uns “trocados”.
De trocado em trocado, o colega passou a mudar o seu visual, indumentariamente falando, o que se justificava pelas suas assíduas incursões e constantes negociações a uma conceituada loja de moda masculina, localizada na Praça do Ferreira e vizinha à farmácia Osvaldo Cruz. Se não me falha a memória, esse estabelecimento era a Milano (é o novo!).
Esse colega que narrou o que agora estou denominando de “causo”, era muito amigo do “ator” e, por conta dessa amizade, fez a seguinte interpelação ao mesmo:
- Amigo, tu não estás gastando muito? Cuidado, porque amanhã tu podes te arrepender.
A resposta foi:
- Mais lascado do que eu era, será impossível!

PIPETA FURADA

Contado pelo Neudete


No segundo ano tínhamos uma Cadeira de Química, que, se não me engano, foi a única com o período de seis meses. Seu Professor chamava-se Duílio.

Certo dia, ao participarmos de uma aula prática no laboratório, estávamos no entorno de uma bancada e foi necessário o manuseio de uma pipeta. Como o armário de tal peça estava distante da bancada, o Professor, apontando para o aludido móvel, solicitou que um dos nossos colegas fosse apanhar uma “pipeta”, no que o ilustre colega Macedo não se fez de rogado.

Passando o tempo e o Macedo não conseguindo cumprir com sua missão, o Professor virou-se para o mesmo e disse:

- É isto aí mesmo, pode trazer uma delas!

Tentando justificar a demora no atendimento ao Professor, o Macedo respondeu;

- Professor, estou procurando uma boa, mas não encontro, já que todas as existentes aqui, estão furadas!

O Professor então, sem titubear, proclamou:

- Traga assim mesmo, que aqui tentaremos consertá-la.

PROVA FINAL (NTI) DE TERMODINÂMICA

Contado pelo Neudete

Convicto de que todos os colegas Civis da T-68, jamais esquecerão os acontecimentos ocorridos no dia previsto para a realização da prova (1ª) final de Termodinâmica e, decorrido 41 anos, aproveito a oportunidade para informá-los de que, em parte, não cumpri com o que, unanimemente, fora acordado por todos nós naquela ocasião, o qual seja: rasgar a aludida prova.

No momento solene do rasgamento, eu só participei com a segunda metade da folha do papel da prova, já que, a primeira metade – onde estava o enunciado da prova – eu guardei.

Não me perguntem a intenção de tal gesto, porque, até hoje não sei. Talvez fosse para, ao comemorarmos os 40 anos de nossa formatura, fizéssemos constar em nosso BLOG tal raridade. Em assim sendo, e, para que tal profecia se concretize, apresento em anexo cópia da mesma.

A prova que não media conhecimento de ninguém. A nova prova, sim, tinha questões sobre toda a matéria vista.
Considerando que o nosso BLOG, com certeza (previsão profética?), se constituirá em uma peça de pesquisa, principalmente por parte de colegas, filhos, netos, familiares e amigos nossos e, a fim de que os mesmos entendam o porquê da decisão de rasgarmos a citada prova, relato a seguir os reais motivos:

Momentos antes da realização da aludida prova, fomos orientados pelo titular da Cadeira, Professor Guido Fontgland, no sentido de não adentrarmos a sala de aula, conduzindo qualquer livro e/ou anotações que estivessem em nosso poder.

Apesar da perplexidade que tal orientação nos proporcionou, silentes, entrarmos na sala de aula, porém, com um sentimento de revolta, conforme traduzia o semblante de cada um. (Pessoalmente, reputo como, por demais coerente e justo tal sentimento, pois, a atitude do Professor tinha, no meu entender, dois significados - por demais graves -, quais sejam: não confiava em nós e, o que é mais chocante, não dava crédito ao nosso CÓDIGO DE HONRA, instrumento de orgulho de todos os que faziam a Escola de Engenharia, aqui incluído seu corpo docente e discente).

Dadas as características da nossa turma, de não temer adversidades, como por exemplo, todos ficarem em recuperação, eis que o nosso representante junto ao CÓDIGO DE HONRA (se não me falha a memória era o Ediberto) se levanta e registra seu protesto.

Isto foi o suficiente para que todos se retirassem de sala e, em conjunto, decidirmos pelo rasgamento da prova.

Tomando conhecimento deste inusitado fato e corajosa atitude nossa, a direção da Escola procurou se inteirar dos mesmos e das suas razões, ocasião em que passou a se reunir com representantes da turma.

Resumindo as discussões travadas e decisões tomadas, tivemos:

O professor titular se comprometeu em elaborar nova prova, no que não foi aceito por nós, e que, por conta disso, estávamos dispostos a ficarmos em recuperação no ano seguinte;

Nós concordávamos em fazer nova prova, desde que fosse elaborada pelo Assistente da Cadeira, Eng. Emanuel Flávio Campos Costa e sem qualquer palpite do professor titular;

Diante da alternativa de não poder participar da elaboração da prova, o professor titular solicitou que pudesse, juntamente com o seu Assistente, corrigir as nossas provas. Este pleito foi negado por nós;

Conclusão: elaboração e correção de uma nova (2ª) prova somente pelo Assistente Professor Emanuel Costa.

RIGIDEZ DA SUDENE?

Contado pelo Neudete

No final de 1963, me submeti aos exames com vistas a participar do curso da Sudene, preparatório ao vestibular de Engenharia. Para alegria minha e de meus pais, eu lograra a devida aprovação.

No começo de 1964, fui chamado para me apresentar aos responsáveis pela organização do aludido curso.

Como eu acabara de passar no vestibular da Escola de Engenharia, comuniquei tal fato aos citados responsáveis, os quais, para minha decepção, me informaram que, por conta da minha aprovação no vestibular, eu estava excluído para o curso, a menos que: eu desprezasse o vestibular em que fora aprovado, freqüentasse o curso da Sudene e, no ano seguinte, me submetesse a um novo vestibular.

Na tentativa de inverter tal orientação, escrevi ao Superintendente da Sudene argumentando que, na minha situação, a Sudene teria um ano a menos de despesa para com um aluno e este aluno concluiria o curso de Engenharia em 5 anos, ao invés de 6 anos.

Não conseguindo êxito com minha tese, que classificava, e ainda classifico, como coerente e justa, me resignei e me matriculei para o 1º ano da Escola de Engenharia, fato que me proporcionou o salutar conhecer e conviver com os que constituíram e constituem a T-68 da EEUFC.

Ah! Se não me falha a memória, o Costinha também experimentou a mesma rigidez. Ou não houve rigidez por parte da Sudene?


“RECOLHIMENTO” DO AGAMENON


Contado pelo Neudete


Promovido pelo Clube dos Estudantes Universitários (CEU), todos os sábados, à noite, havia tertúlia no prédio de tal entidade, localizado na Avenida da Universidade, vizinho à Escola de Engenharia e onde também funcionava o Restaurante Universitário e uma residência Universitária masculina.
Em tais eventos era maciça a presença de estudantes dos diversos cursos universitários de Fortaleza.
Com o advento de a revolta militar de 1964, os ambientes Universitários eram bastante visados para incursões policiais e o CEU, não ficava livre de tais “visitas”, por sinal, com bastante assiduidade.
No começo do primeiro semestre de nosso primeiro ano (1964), houve uma de tais tertúlias e lá compareceu o nosso colega Agamenon Nogueira Nobre, com quem eu estive até o momento em que um “camburão” do Exército estacionou sobre a calçada do CEU e, a partir daí, alguns militares cruzaram o portão de acesso ao recinto e se posicionaram no lado interno de toda a extensão da grade que circundava o prédio.
Discordando de tal invasão, o Agamenon, com certa veemência, passou a protestar e sempre se dirigindo aos indesejáveis visitantes. Não demorou, e dois deles se aproximaram de nosso colega, levando-o para o “camburão” onde o trancafiaram. Ato contínuo, a viatura se retirou deixando, porém, alguns policiais nos postos antes ocupados. Até o término da festa, o “seqüestrado” não retornou.
Na 2ª feira seguinte, o Agamenon compareceu às aulas e se comportou como se nada tivesse ocorrido. Em dado momento e estando a sós com ele, lhe perguntei o que aconteceu após ter sido arrebatado pelos militares. Como resposta, foi lacônico:
- Não converso sobre este assunto!
Com esta afirmativa, pedi desculpas e passei a respeitar sua decisão. Até hoje nunca ouvi nenhum comentário sobre esse episódio.
No período de 1995 a 1997, fui Conselheiro Federal do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) em Brasília, enquanto que o Agamenon foi Presidente do Crea-AM. Vez por outra nos encontrávamos quando de reuniões do sistema Confea/Crea’s.
Certa feita, no intervalo de uma dessas reuniões, estávamos a relembrar alguns acontecimentos envolvendo Fortaleza, nossa turma e a nossa Escola de Engenharia.
Não resistindo à tentação e guardando certa cautela, de leve, falei sobre o incidente registrado no CEU. De pronto, ele me interrompeu e disse:
- Vamos mudar de assunto?
Mudando realmente de assunto, informo que o Agamenon, em Manaus, gozava de ótimo conceito (chegou a ser Presidente do Crea-AM) e era um profissional bastante procurado para serviços de cálculo estrutural, a ponto de ser considerado o melhor calculista de Manaus, isto sem se falar de que ele relutava em aderir ao computador.
Um Engenheiro Cearense que também morava naquela capital, disse-me, certa vez, que, “calculìsticamente” falando, o Agamenon era o “Hugo Alcântara” de Manaus.

HINO DA ESCOLA DE ENGENHARIA

Contribuição do Engº Civil Antônio de Miranda, da T69

No livro “MEMÓRIAS – Cinqüentenário da Escola de Engenharia” o Professor Vicente Vieira recorda as festas que se realizavam na antiga Escola de Engenharia da UFC:

“É oportuno lembrar que sempre se cantava, por ocasião das festas, uma paródia da “AMÉLIA” , de autoria de Ataulfo Alves e Mario Lago, onde o estribilho dizia: Engenharia sem a menor vaidade, Engenharia é a melhor faculdade! Eram os arroubos da juventude, numa demonstração, a um só tempo, de amor à Escola e de salutar orgulho profissional.”

A letra desta paródia do samba “Ai, que saudades da Amélia”,de Ataulfo Alves e Mário Lago foi resgatada graças à memória prodigiosa do Engenheiro Manuel Fradique e revista pelos Professores Vicente Vieira e Horácio Dídimo.

Contamos agora com mais um pedacinho da história da nossa Escola de Engenharia, para guardar junto com tantas outras lembranças que nos enchem de saudade e orgulho.

(Paródia do samba “Ai, que saudades da Amélia”,
de Ataulfo Alves e Mário Lago)

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um simples rapaz

Você só pensa em estudo e dureza
O tempo que a gente tem você quer
Ai, meu Deus, que saudade do colégio
Aquilo sim é que era comer de colher.

Às vezes passavam cola ao meu lado
E eu achava bonito não ter que estudar
Mas quando me via aperreado
Dizia, meu Deus, como é que eu vou me safar?

Engenharia, sem a menor vaidade
Engenharia é a melhor faculdade (Bis)

IX - JORNAL "O CONCRETO"

O jornal "O Concreto" foi idealizado pelo Hypérides, que era o seu principal redator. Alguns colegas contribuiam com artigos. A seguir, reproduzimos uma das edições. Enquanto não digitamos os textos, sugerimos baixar o arquivo para a leitura. Nos possibilita ter uma boa idéia dos ideais e das dificuldades da época.











X - Galeria de Fotos

Fotos Antes da Escola

Foto muito bem pousada do Chritus, em 1960. Mostra organização e disciplina. Estão quatro alunos da T68. Na segunda fila (a primeira em pé) está o Nelson Simas. Ele é o segundo da esquerda para a direita. Na terceira fila estão o Hypérides e o Aurélio. Da esquerda para a direita eles são, respectivamente, o quinto e o sexto. Imediatamente atrás deles, na quarta fila, está o Tadeu. Ele é o quinto da esquerda para a direita.

Turma do 3º Científico do Liceu em excursão ao Crato. São da T68: Ernesto (no primeiro plano, o primeiro da esquerda para a direita); Tarcizo Pinheiro, atrás do Ernesto; Emanuel (no terceiro plano, o segundo da esquerda para a direita) e o Ivens (no segundo plano, o segundo da direita para a esquerda). O segundo da esquerda para a direita, no grupo da frente, é o Ítalo um dos 24 aprovados em 1963.
Vejam o Cadete Carlos Augusto (ainda não era Patinhas) como MILICO, tendo ao lado o Benedito.
O Benedito e o Cunto na EPC - Escola Preparatória de Cadetes, em Campinas/SP.

Nesta foto, são da T68, contando da esquerda para a direita. No terceiro plano: Guaracy (2), Wanderley (9) e Lauro (11). No segundo plano: Macedo (2), José Flávio (3), Túlio (5) e Cid (10). No primeiro plano: Muniz (2), Ivens (5), Luciano Maia (6), Ricardo (7) e Alcimar (11).
Outro flagrante dos alunos do Cursinho da Sudene. São da nossa turma: o José Flávio é o sexto, no segundo plano, contando da esquerda para a direita. Neste mesmo plano, contando da direita para a esquerda: Alcimar (1), Ivens (2), Luciano Maia (5) e Lauro (6).

Resolvendo um problema de eletricidade. Aparecem, entre outros alunos do Cursinho da Sudene, Ricardo e Benedito.

Grupo de alunos do Cursinho da Sudene. Aparecem, entre outros: Luciano Maia, Ricardo. Macedo e Cid (?)

Conselho de Líderes do Cursinho da Sudene. São da T-68, contando da esquerda para a direita: Hypérides (1), Benedito (6) e Marcos Antônio (7).
Mesmo grupo da foto anterior: Hypérides (1), Marcos Antônio (5) e Benedito (6).

Nas duas fotos acima o Benedito e o Emanuel estão com as meninas da Sudene



Vestibular simulado na Sudene. Foi mais difícil do que o próprio vestibular. Conseguimos identificar: Muniz, Marcos Antônio, Macedo, Jair e Ricardo.

Professores do Curso da Sudene, Diretores da Escola de Engenharia e representantes da Universidade que compareceram ao encerramento do Curso. Observamos o Professor Milton Ferreira de Sousa (Miltoff) que veio a ser um dos homenageados pela T-68 e impedido de comparecer à formatura. Foi impedido, pela Ditadura, no embarque em São Paulo.



Reunião dos alunos do Curso da Sudene com os professores no auditório, ao ar livre. Devido as inúmeras reuniões políticas, esse auditório era conhecido como “Kremlin”. Foi uma reunião de encerramento do curso. Alguns familiares dos alunos estiveram presentes.
Hypérides já se destacando. Falando em nome dos alunos do Cursinho da Sudene na solenidade de encerramento do Curso, pouco antes do Vestibular. Na mesa, entre outros, estão o Dr. Genésio Martins, Diretor da Escola de Engenharia, o representante da Reitoria e o Dr. Alexandrer Diógenes, Coordenador do Curso

1964 - PRIMEIRO ANO DA ESCOLA

Da esquerda para a direita: Elpídio, (?), Agamenon, Hamilton, Rezende, Gil, Jair, Ivens e Paulo Limaverde. Iran, com o pé no banco, e Hugo sentado.

Segundo plano, da esquerda para a direita: Emanuel, Eliardo, Muniz, Ivens e Elpídio. No primeiro plano:Ernesto, Aloizio, José Maria e Augusto.
Macedo, Tadeu e (?).
Abner (o Boina), José Maria, Cunto e Dedé.
Ricardo no trampolim do Náutico (?).
Ernesto e Hypérides os pensadores, em posições iguais. Estão planejando o que fazer quando um chegar à Diretoria da Escola e o outro à Secretaria de Recursos Hídricos.

Hugo, Paulo Limaverde (goleiro de óculos), Emanuel, Róseo e Carmelo
Cid, Joaquim, Paiva, Róseo, Florêncio, Carmelo e Castro, o dono da bola.
Da esquerda para a direita. Em pé: Ronaldo, Augusto, Joaquim, José Maria e Florêncio. Sentados: Marcos Antônio e Paulo Limaverde.



Da esquerda para a direita: Joaquim, Florêncio, Marcos Antônio, José Maria, Augusto e Tadeu.
José Maria, Samir, Toni e Ediberto estudando (!!???) na garagem da casa do Samir. Pela cara do Toni a inocente garrafa de cerveja devia ser a última de uma caixa. O fotógrafo, que niguém recorda quem foi (também...), devia estar com muitos copos na cabeça, pois nem conseguiu enquadrar o pequeno grupo...

1964 - PASSEIO A MARANGUAPE



São da T68: Em primeiro plano, Ivens e Marcos Antônio. No segundo plano: Toni e Lauro. Em terceiro plano, em pé: Aloizio, Ernesto,José Maria e Ediberto. Todos com muita bebida na cabeça...
São da T68: Aloizio, Lauro, Toni, Marcos, Ernesto, Ediberto e Ivens.
Saltos Ornamentais. Um deles é o Toni.
Tadeu, (?) e o Miguel

Grupo da Engenharia
Engenharia e Filosofia

1964 - DESFILE DOS JOGOS UNIVERSITÁRIOS


A irreverência da T68 no desfile dos Jogos Universitários. O meio de propulsão do veículo lançador é uma grande baladeira. O "Astronauta", montado numa sela, "cavalga" o foguete.
O foguete era lançado do Cabo Canavial.

O Tadeu, portando o cartaz da Associação Atlética, montado na Rural do Argos, a única no mundo que não tinha "grilo".

A Flâmula do Profesor Pardal, sendo levada por dois atletas. Percebam a afluência do público, em frente ao Cine São Luís, prestigiando o desfile.
As iniciais da Escola, ainda sem o "F", desfilando na Praça do Ferreira.


Tadeu, Oto e Guedes e a Rural do Argos.

Outro aspecto do desfile.

O desfile nas estreitas ruas do centro e com a população parando para apreciar.

O Jeep dos Pontes, na foto acima e nas três seguintes, sendo conduzido pelo Ronaldo e o Tadeu como escolta da Miss Engenharia.




Essas meninas mereciam um carro melhor ou não? Ele já era o máximo?

Ricardo desfilando pela Equipe de Tenis.
Atletas desfilando e conduzindo a bandeira brasileira. Ao fundo, o Jeep do Ronaldo.
As misses das diversas faculdades. Por onde andam elas, agora? Vemos o Magnífico Reitor Martins Filho.
Reunião das diversas Equipes. Percebam que o "F" apareceu... Será o Bartolomeu que o está conduzindo?



1965 - SEGUNDO ANO DA ESCOLA

EXPOSIÇÃO CIENTÍFICA

A seguir, vemos fotos da exposição sobre Engenharia que foi promovida pela T68. Deu-se durante uma semana. As fotos são de 15/06/1965.Conseguimos de vários laboratórios da Escola, de Física e Química principalmente, e de entidades externas material para compor os painéis e experiências. Uma que fez muito sucesso era a da lâmpada fluorescente que acendia sem que houvesse ligação alguma com a instalação elétrica. Formavam-se filas de estudantes secundaristas para visitá-la, bem como de outras faculdades.Muito "bixo" se deu bem cantando as "meninas" que ali estiveram a custa da T68, que ja era segundo ano.Mas não foram só os “bixos” que se deram bem; vê-se nas fotos que de todas as turmas, até do quinto ano, da T65, apareceram “professores”: Luiz Raimundo C. Azevedo, é um deles.

Hypérides, um dos coordenadores da feira, explicando para alunas secundaristas detalhes da construção civil com uma maquete.
Hypérides, Paulo Limaverde, (?) e Muniz.
Maquete de uma estação ferroviária.
Maquete de um trecho de estrada em construção.
Maquete de um porto. Percebam que alguma mãe ficou sem a colcha de chenile por algum tempo...

Hypérides e o Professor Afrodísio Pamplona. Ele anotava toda despesa que fazia, até um cafezinho, em um pequeno pedaço de papel para depois registrar em um caderno. Hoje esses dados teriam valor estatístico para estudos diversos, além de ser uma pesquisa histórica.

1965 - SEGUNDO ANO -

EXCURSÃO A RECIFE, PAULO AFONSO E SALVADOR

A excursão para Recife, Paulo Afonso e Salvador ocorreu entre 10 e 19/09/1965.

FOTOS EM RECIFE


Benedito, Hugo, Muniz, Augusto, Gil, Lauro e Rezende na ponte sobre o Jaguarib, a caminho de Recife
Omar, Ronaldo e Wanderley. Ao fundo o prédio, em forma curva que nos impressionou.
Macedo, Florêncio e Rezende no centro do Recife.
Augusto, Ivens e... uma Rural. Ao fundo o prédio curvo...
Luciano Maia, Augusto e Tadeu visitando as igrejas de Olinda.

FOTOS EM PAULO AFONSO

São da T-68, da esquerda para a direita: Wanderley, Luciano, Gil, Omar, Alberto, Ronaldo, Hugo, José Maria,Aloizio, Cavalcanti, Benedito e Augusto. Agachados: Muniz, Luciano Maia, Marcos Antônio, Oto, Rezende, Tadeu, Eliardo e Lauro.
São da T-68, da esquerda para a direita: Luciano, Gil, Omar, Muniz, Cavalcanti, Alberto, Hugo, Eliardo, José Maria, Aloizio, Marcos Antônio, Benedito e Augusto. Agachados: Luciano Maia, Oto, Rezende, Tadeu e Lauro.
São da T-68, da esquerda para a direita. Em pé: Omar(1), Augusto (2), Aloizio (3), Muniz (4), Alberto (6), Luciano Maia (7), Cavalcanti (8) e Tadeu (9). Agachados: Oto (1), Hugo (2), Luciano (3), Ivens (4), Benedito (5), Rezende (6) e Marcos Antônio (7). À parte, o Ronaldo.
Tadeu, Alcimar, Ivens, Luciano Maia e Aloizio.
São da T68, da esquerda para a direita, em pé: Alcimar (1), Marcos Antônio (2), José Maria (3), Aloizio (4), Tadeu (5), Ivens (6), Luciano Maia (7) e Alberto (9). Sentados, na mesma ordem: Lauro (1), Luciano Pamplona (2), Benedito (5), Hugo (6), Augusto (7) e Muniz (8).

Canyon do Rio São Francisco, a jusante da barragem.

Detalhe da ponte metálica que vence o canyon do rio. A ponte localiza-se na junção de três estados: Pernambuco, Alagoas e Bahia.
Wanderley, Lauro e Ronaldo.

São da T-68. Da esquerda para a direita: Alcimar(1), Benedito (3), Augusto (4), Hugo (5), Alberto (6), Tadeu (7), Gil (8) e Aloizio (9)
São da T-68, da esquerda para a direita: Cavalcanti, Alberto, Benedito, Muniz, Ivens, Tadeu, Rezende, Gil, Augusto, Lauro, Oto, Hugo, Eliardo e José Maria
São da T68, da esquerda para a direita: José Maria, Eliardo, Hugo, Oto, Lauro, Gil, Rezende, Ivens, Benedito e Cavalcanti.

Ivens e Tadeu... pensando na transposição.
São da T-68, da esquerda para a direita: Luciano Maia (1), Tadeu (3), José Maria (5) e Ivens (6).
Observando as comportas. Destaca-se o José Maria, pela altura...
Monumento ao Concreto Armado, entrada para a casa de máquinas. As turbinas foram implantadas em espaços cavados na própria rocha.
São da T-68: Cavalcanti, Alcimar, Muniz, Ivens, Augusto e Aloizio
São da T-68, da esquerda para a direita: Alberto, Omar, Lauro, Muniz, Oto, Aloizio, Tadeu e Benedito. Agachados: Luciano (3) e Alcimar (4).
As quedas d'água, o arco-iris e o frágil bondinho que, temerariamente, andamos nele..

As duas fotos acima são das quedas d'água de Paulo Afonso.
São da T-68, da esquerda para a direita: Alberto (1), Cavalcanti (2), Alcimar (3), Benedito (4) e Lauro (7). Agachados: Ivens (1) e Oto (2). Ao fundo as quedas d'água de Paulo Afonso.
Grupo da T-68 tendo ao fundo, incrustada na rocha, a casa de força construída pelo cearense Delmiro Gouveia, pioneiro na exploração da energia hidráulica de Paulo Afonso.

FOTOS EM SALVADOR

Da T-68, da esquerda para a direita: Rezende (1), Ivens (2) e Alcimar (4)
Da esquerda para a direita: Marcos Antônio, Oto, Omar, Luciano Maia, Ivens, Tadeu, Alberto, Wanderley e Alcimar.
Chegando na Refinaria de Mataripe.
Da T-68, da esquerda para a direita: Alcimar (1), Cavalcanti (3), Muniz (4). Aloizio (5), Rezende (6). Em primeiro plano, Gil. Ao fundo: Hugo, Eliardo, Lauro e Alberto.
Omar, Alcimar, Ronaldo e Wanderley.
Em pé, da esquerda para a direita: Oto, Aloizio, Alberto, Ivens, Luciano Maia, Wanderley e Omar. Sentados, na mesma ordem: (?), Cavalcante, Tadeu, Eliardo, Augusto, Alcimar e Marcos Antônio.
Lauro, Wanderley e Luciano.
Augusto, Muniz e Tadeu.
Tadeu, Cavalcante, Marcos Antônio, Oto, Muniz, Augusto, Lucaino Maia e Luciano Pamplona.
Marcos Antônio, Muniz e Augusto

Muniz, Tadeu e Augusto.
Augusto, Muniz e Marcos Antônio

TRAVESSIA DO RIO SÃO FRANCISCO

Foto colhida no pontão, utilizado para a travessia do Rio São Francisco na altura de Cabrobó, Pernambuco. Aparecem Ronaldo, Tadeu, Luciano Maia, Hugo, Alberto, Augusto, Abner, Gil, Omar, Alcimar, Oto e Marcos Antônio. Em segundo plano: José Maria, Rezende, Ivens, Muniz, Eliardo e Wanderley. Todos sobreviventes da ameaça de morte de um caminhoneiro revoltado com os "elogios" recebidos, pouco antes na estrada.
Outra foto colhida no pontão, durante a tentativa de jogar no rio os sapatos do Elpídio.
Nesta foto o Elpídio já tinha salvo os seus sapatos.

1966 - TERCEIRO ANO

ESTÁGIO NO CARIRI

As fotos da ida ao Cariri são de 08 a 11/07/1966. Por conta do projeto Asimov a turma da Mecânica visitou algumas das pequenas indústrias que estavam se estabelecendo entre Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. Este projeto era tocado por professores da Mecânica que haviam feito cursos nos EEUU. Foram visitadas indústrias de fubá, de rádio, de cerâmica...


São da T-68, da esquerda para a direita: Helder (1), Marcos Antônio (3), Jair (4), Alberto (5), Tarcizo (6), Gil (7), Vianney (8) e Eliardo (9)
Gil, Eliardo e Marcos Antônio.
São da T-68, da esquerda para a direiita: Aloizio (3), Eliardo (4), Guaracy (5), Gil (6), Marcos Antônio (7), Tarcizo (8) e Alberto (10). Agachados: Helder (2) e Muniz (3)
Aloizio, Muniz, Vianney e Marcos Antônio empurrando a Kombi para chegar no Clube Grangeiro, no Crato.
A turma da Mecânica não conseguiu reparar a mecânica da Kombi e a única solução foi empurrar. Aloizio, Muniz, Vianney e Marcos Antônio

1967 - QUARTO ANO

VISITA DA TURMA DA MECÂNICA A NATAL E À BARREIRA DO INFERNO

As fotos seguintes foram da ida da Mecânica a Natal, entre 29/10/1967 e 02/11/1967. A turma ficou hospedada na Base Naval e visitou uma draga (Paraná) que desobstruía a entrada da foz do Rio Potengi. Também foi visitada a Barreira do Inferno, de lançamento de foguetes.

São da T68: Vianney (1), Eliardo (5), Alberto (6), Gil (7), Marcos Antônio (9) e Guaracy (10). Prof. Picanço é o terceiro.


São da T-68, da esquerda para a direita: Gil (1), Guaracy (2), Alberto (4), Tarcizo (5), Vianney (6), Muniz (7) e Eliardo (8). Agachados: Marcos Antônio (1) e Aloizio (4).
Gil, Alberto, Eliardo, Guaracy e Marcos Antônio.
Marcos Antônio
Eliardo e Marcos Antônio. O Alberto está de costas.


Marcos Antônio, Gil e Alberto na Corveta
Guaracy, Aloizio, Tarcizo, entre outros, na corveta.
Eliardo, na Barreira do Inferno

Vianney e Marcos Antônio.

Na praia em Natal: Prof. Picanço, Eliardo, Marcos Antônio, Gil e Tarcizo, entre outros

EXCURSÃO AO CRATO DA TURMA DE ENGENHARIA CIVIL

AULA PRÁTICA DE ESTRADAS

Tadeu e Ernesto na Praça Francisco Sá, em Crato.
Dante, Róseo, Tadeu, Lauro, Guedes e Cavalcante
Dante, Tadeu, Ernesto e Guedes
Professor Limaverde, Róseo, Macedo, Cavalcanti, Ediberto e Ernesto
Macedo, Róseo, Guedes. Tadeu, Cavalcanti e Neudete.
Neudete, Macedo, Róseo e Lauro posando junto de um "motor scraper".
Ernesto, Lauro, Hypérides, Róseo, Ediberto, Neudete, José Maria, Macedo e Tadeu. Ao fundo, o Vale do Cariri.


Tadeu, Hypérides, Macedo, Lauro, Professor Limaverde, Guedes, (?), Róseo, Cavalcanti e Ernesto.
(?), Macedo, Róseo, Guedes, Tadeu, Cavalcanti e Neudete
Neudete, José Maria, Ediberto, Macedo, Ernesto, Cavalcanti, Dante, Guedes, Tadeu, Róseo e Hypérides.
Lauro, Ernesto, José Maria, Róseo, Tadeu, Ediberto, Guedes, Neudete e Cavalcanti.
Tadeu e Cavalcanti.
Róseo, Professor Limaverde, Hypérides, Ediberto, José Maria e Tadeu e ao fundo o Vale do Cariri.
Cavalcanti, Dante, Ernesto, Hypérides, Róseo e José Maria.
Dante, Lauro, Hypérides, Ediberto, Róseo, Tadeu, José Maria e Macedo.
Dante, Hypérides, Tadeu, Neudete, José Maria, (?), Ernesto, Guedes, Lauro, Macedo e Róseo.
Lauro, Róseo, Macedo, Ernesto e Neudete.
Macedo, (?), Florêncio e Rezende
Florêncio, Macedo, (?) e Lauro.
Tadeu, Róseo, Dante, Hypérides, Ediberto , Cavalcanti e José Maria.
Florêncio, Lauro e Macedo.
Lauro, (?), Rezende e Macedo.
Róseo, Lauro, José Maria, Cavalcanti, Dante, Macedo, Guedes e Ediberto. Agachados: Hypérides, Neudete e Ernesto.
Guedes, José Maria, Macedo, Dante, Prof. Limaverde, Lauro, Róseo, Ernesto e Ediberto.
Lauro, (?), Macedo, Samir, Rezende e Florêncio.
Hypérides, Cavalcanti, Professor Limaverde e Ernesto.


Parte da turma ouvindo as explicações sobre a fundação de uma ponte, talvez em tubulão

Lauro, (?), Macedo e Florêncio.

Ricardo em aula prática de estradas, medindo o teor de umidade do aterro.
Hugo, José Maria, Cavalcanti, Cid, Emanuel, Omar e Róseo. Agachados: Carmelo, Rezende e Alcimar. Percebam o Cavalcanti mostrando, orgulhosamente, um dos livros de Cálculo do Professor Aderson Moreira da Rocha.




1968 - QUINTO ANO

ESTÁGIOS

ESTÁGIO NO ESCRITÓRIO DE CÁLCULO DO DR. AUGUSTO CARLOS VASCONCELOS, EM SÃO PAULO

Estagiários:
Janeiro de 1968: Ivens e José Maria
Julho de 1968: Ivens e Ediberto

As fotos seguintes são do estágio que o Ediberto e o Ivens fizeram, em julho de 1968, no Escritório de Cálculo do Dr. Augusto Carlos Vasconcelos. As fotos são de uma fábrica de peças de concreto protendido que usava o concreto leve (1.600 kg/m³), utilizando argila expandida em substituição à brita convencional. A cura do concreto era a vapor, possibilitando o transporte das peças com 24 horas. As formas eram metálicas para viabilizar o reaproveitamento.
Ivens e Ediberto ladeando o Dr. Augusto Carlos Vasconcelos. Ao fundo a viga de cobertura Y projeto e cálculo do Dr. Vasconcelos.

Pista de protensão. Eram concretadas e protendidas diversas peças de um só vez. As formas metálicas e a cura por vapor.

Conjunto de paredes pré-moldadas e prontas para o transporte.
Pilares protendidos prontos para o transporte. Ao fundo, paredes pré-moldadas para construção de casas. Percebemos um escada acoplada à parede.

Paredes prontas, inclusive com as esquadrias.
Ediberto e Ivens e, ao fundo, as vigas protendidas Y de cobertura, projeto e cálculo do Dr. Augosto Vasconcelos.
Detalhe da viga Y já na carreta para o transporte até o canteiro de obras.
Detalhe das formas metálicas, reaproveitáveis.
Conjunto de peças prontas: blocos de fundação, vigas Y e pilares.

Detalhe da pista de concretagem sendo curada a vapor.


Ivens e Ediberto junto de pilares prontos para uso.

Ivens e José Maria em frente ao Edificio do Ministério da Cultura, no Rio de Janeiro, marco da moderna arquitetura brasileira.

Estágio na Norberto Odebrecht, em Salvador, Bahia

Estagiários: Tadeu, Ernesto e Luciano Maia

Período: Janeiro de 1968


Tadeu e Ernesto
Tadeu no Escritório da Construtora Luciano Maia, Tadeu e Ernesto, em Salvador.

Tadeu, Luciano Maia e Ernesto.
Visita à Barragem de Boa Esperança

Coordenador: Professor Vieira

Florêncio, (?), Professor Vieira, Cid, Benedito, Samir, Hugo, Miguel, Cavalcanti, (?), Bartolomeu, Paiva, Neudete, Rezende, Guedes e Ronaldo.
Florêncio, Benedito, Neudete, Bartolomeu, Guedes, (?), Hugo, Rezende, Róseo e Carmelo. Cid está dentro do ônibus.

Samir, Benedito, Florêncio, (?), Ronaldo, Cavalcanti, Rezende, Paiva, Neudete, Cleto, Carmelo, Cid, Guedes, Hugo.
Ronaldo, Cleto, Cid, Carmelo, (?), Paiva.
Rezende, Neudete, Paiva, Cavalcanti. De costas: Hugo e Ronaldo.
Samir, Carmelo, Cid e Cleto.
Cavalcanti, Hugo, Ronaldo, Cleto, Cid, Carmelo, (?) , Paiva, Neudete, Rezende e Samir.

Florêncio, Cavalcanti e outros.

1968 - QUINTO ANO

ÚLTIMOS MOMENTOS NA ESCOLA

TURMA DA ENGENHARIA CIVIL


Escola de Samba Unidos da T68: Paiva, José Flávio, Guedes, José Maria, Castro, Ediberto e Ricardo.
Dedé, Duarte, Rezende e Ricardo

Tom, (?), José Maria, Paiva e Luciano Maia.
Macedo, Castro, José Flávio e Wanderley
Macedo. José Flávio e Wanderley
Augusto, Hugo, Carmelo, Róseo, Fechine, Miguel, Paiva, Duarte, Elmer e Cavalcanti.
Rezende, José Maria, Cunto, Wanderley, Tom e Cid.
Dante, Macedo, Túlio, Castro, Ernesto, Carlos Augusto, Emanuel, Cláudio, Agamenon e Samir.
Dedé, Hypérides, Hugo e Fechine.
Guedes, Miguel, Cid, Cleto e Ronaldo.
Bartolomeu, Rezende, Neudete e Cleto.
Macedo, Róseo, Carmelo, Lauro e Rezende.
Oto, Miguel, Róseo, Costinha, Rezende, Ricardo, Ediberto, Túlio, Dante, José Flávio, Dedé e Agamenon.
Nelson, Tom, Augusto, Miguel, Iran, Duarte, Alcimar, Dedé, Agamenon, Florêncio e Túlio. Agachados, Ivens, Macedo, Cunto. Ricardo, encoberto.
Luciano X Luciano. O exato momento em que o Luciano Maia percebe que sentou num ovo, colocado, na sua carteira, pelo Luciano Pamplona. Observam: Oto, Hugo, Elmer, Ivens, Castro e Neudete.
Ivens, Hypérides, Dedé, Cunto, Macedo e Alcimar.
Florêncio, Augusto, Ivens e Omar.
José Maria, Carmelo, Lauro, Augusto, Iran, Alcimar, Cavalcanti e Castro. Agachados: Ivens, Róseo, Cunto e Benedito.
Róseo, Augusto, Florêncio, Ediberto, Ivens, Iran, Castro, Cavalcanti e Alcimar. Por onde andam as réguas de cálculo?
Túlio, Patinhas, Lauro, José Flávio, Duarte, Ernesto, Florêncio, Miguel, Costinha e Cunto. No primeiro plano: Ivens, Omar, Ediberto, Augusto e Alcimar. Castro está de costas
Macedo, Miguel, Alcimar, Patinhas e Ivens
No quinto ano tudo era motivo de festa...
Ivens sugerindo ao Ediberto ir para a IBM.
Costinha, Miguel e Macedo.
O maior e o menor: José Maria e Luciano. Cavalcanti aplaudindo.
Lauro, Róseo, Ronaldo, Omar, Wanderley, Rezende, Ernesto, Luciano Maia, Guedes, Macedo, Túlio, Cid, José Maria, Samir, garoto do bombom, Aurélio, Benedito, Professor Pamplona, Hypérides (parcial). Sentados: Dante, Agamenon e Ivens. Agachados ou sentados: Iran, Hugo, Castro, Ricardo, Costinha, Carmelo, Neudete, Oto, José Flávio e Miguel.


Foto histórica da placa, pouco antes de ser "sequestrada" pelo Exército. Estão na foto: José Maria, Bartolomeu, Samir, Neudete, Ediberto, Rezende e Carmelo. Percebam a maneira respeitosa de todos perante a placa. Estavam prevendo que ela ficaria 40 anos desaparecida.
TURMA DA ENGENHARIA MECÂNICA

As fotos seguintes comprovam que os formandos tinham um dinheirinho até para, de vez em quando, ir almoçar no restaurante da ACI (Associação Cearense de Imprensa), na Beira-Mar, em outros pontos...Nesta altura todos percebiam a bolsa da Sudene e/ou remuneração dos estágios.
Marcos Antônio, Iran, Aloizio e Jair.
Vianney, Gil, Marcos Antônio, Aloizio e Muniz.
Marcos Antônio, Aloizio, Muniz e Jair.
Aloizio, Muniz, Jair e Marcos Antônio.
Aloizio, Muniz, Jair e Marcos Antônio.
Da esquerda para a direita: Guaracy, Eliardo, Muniz, Jair, Joaquim, Antônio José, Sérgio, Alberto, Aloizio, Helder e Marcos Antônio.

Turma da Mecânica. Em pé, da esquerda para a direita: Tarcizo, Alberto, Eliardo, Marcos, Sérgio, Joaquim e Muniz. Agachados: Guaracy, Helder, Jair, Aloizio e Antônio José

1968 - CONVITES DE FORMATURA






1968 - CERIMÔNIAS RELIGIOSAS DA FORMATURA


Cleto, Benedito, Agamenon, Ivens, Cláudio, Tadeu, Carmelo, Eliardo, Rezende, Guedes, Muniz, José Flávio, Aurélio, entre outros
Luciano Maia, Fechine, Miguel, Róseo e Paiva.
Carmelo, Tadeu, Cláudio, Ivens, Muniz, Guedes, Rezende e Tom.
Cleto, Benedito, Agamenon, Ivens, Cláudio, Carmelo e Guedes.
Ediberto, Dedé, Duarte, Ricardo, Lauro, Neudete, Paiva, Róseo, Luciano Maia entre outros.
Cláudio e Emanuel na benção dos anéis


Nas duas fotos acima, Alcimar, Ronaldo e Ivens no Culto da Igreja Batista.

1968 - O GAROTO DO BOMBOM








Quem lembra do garoto do bombom? Ele vendia balas na Escola. Aproximou-se mais da nossa turma. Na foto acima ele está entre nós. O levamos para a festa do Líbano. Para tanto, compramos um terno especial para ele. Na foto seguinte está ao lado do Ivens, da sua futura esposa, Edméia, e de uma sua sobrinha, Irismara. Quem sabe do paradeiro dele?


1968 - FESTAS PARTICULARES E DO LÍBANO


Foram promovidas diversas festas pelas nossas famílias. A foto acima é de uma delas. Ivens e José Maria com as suas respectivas futuras esposas, Edméia e Filó.



Róseo, Cleto e Florêncio, dançando a valsa.

1998 - 30 ANOS DA FORMATURA

COLOÇÃO DE GRAU SIMBÓLICA


Réplica da placa comemorativa dos 30 anos da formatura e que foi afixada no mural da Escola.



Convite da Universidade Federal do Ceará para a solenidade de colação de grau simbólica dos formandos de 1968, impedidos de colar grau pela Ditadura Militar.

1998 - CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DE AÇÃO DE GRAÇAS

Livro da Celebração Eucarística em Ação de Graças pelos 30 anos de formados.


Eliardo, Róseo, Cláudio e Ronaldo na missa de ação de graças pelos 30 anos de formatura.
ENCONTRO NA ESCOLA

PARA AFIXAÇÃO DA PLACA

COMEMORATIVA DOS 30 ANOS

Professor Hugo Alcântara.
Hypérides e Benedito.
Benedito conversando com os professores homenageados: Hugo Alcântara, Sílvio Duque e Paulo Morais.
Ernesto, de aluno a Diretor da Escola, com os professores homenageados: Silvio Duque, Milton Ferreira, Hugo Alcântara e Paulo Morais. Ao fundo a placa da T-68 que substituiu a que foi sequestrada pela Ditadura. Tinha Celso Furtado como Patrono.
Benedito, falando em nome dos colegas.

Sílvio Duque entregando uma réplica da placa ao Ivens.
SOLENIDADE NA CONCHA ACÚSTICA

COLAÇÃO SIMBÓLICA DE GRAU 30 ANOS DEPOIS
Durante o seu pronunciamento, o Reitor Martins Filho, com quase cem anos, disse: "Deus me deu a oportunidade de continuar na dança da vida para viver este grande momento que tinha ficado no ar."
Professor Milton, Cleto, Ediberto, Cavalcanti, José Maria, Ivens e Neudete.

Professores Haroldo e Milton, Benedito, Ivens, Ricardo e José Maria
Ivens, Ricardo, José Maria, Filomena, Ronaldo, Emanuel e Ivanilda
Professor Milton, Benedito, Ivens e Ricardo.

José Maria, Filomena, Ronaldo e Emanuel
Cavalcanti, José Maria e Ivens
Cleto, Patinhas, Costinha, Benedito, Ivens, Ediberto e Augusto.
Gil, de beca, representando a turma da Mecânica. Aparecem, entre outros: Ediberto, Duarte, Cavalcanti, José Maria, Ronaldo, Ricardo.

Professor Milton Ferreira, especialmente convidado para a festa dos 30 anos. Em 1968 ele foi proibido de embarcar em São Paulo, pela Ditadura.


Róseo, Costinha, Professor Milton, Cleto, Ediberto e Cavalcanti


Ricardo, Professor Milton, Ivens e Cleto.


1998 - FESTA NO NÁUTICO


Convite para a festa no Náutico com Ivanido e seu conjunto.

Da esquerda para a direita. No primeiro plano: Cavalcanti, Benedito, Ediberto, Róseo, Guaracy, Dedé, Ronaldo e Omar. No segundo plano: Ernesto, Ricardo, Ivens, Tarciso, Patinhas, Neudete e Cleto. No terceiro plano: Carmelo, Luciano Maia, Prof. Milton, Marcos Antônio, Augusto, José Maria, Duarte, Costinha e Tom.

Ricardo, Costinha, (?), José Maria, Carmelo, Argos e Tom (de costas).
Duarte, Róseo, Marcos Antônio, Benedito, Ediberto e Ricardo.
Cleto, Ivens e Tom
Róseo, Duarte, Ricardo, Dedé e Carmelo

Luciano Maia, José Maria, Benedito, Carmelo, Ediberto, Ivens e Róseo.
2003 - ANIVERSÁRIO DO CLETO

Da esquerda para a direita, do terceiro plano para o primeiro:
Oto, Cleto, José Flávio, Emanuel, Ivens e Neudete.
Duarte, Hypérides, Cavalcanti, Nelson, Túlio e Ediberto.Ronaldo, Roberto Guedes, Costinha, Benedito e Gil
Guedes, Cavalcanti, Neudete e Túlio.
Túlio, José Flávio, Emanuel, Neudete, Ediberto, Ronaldo e Ivens
Em torno da mesa: Benedito, Oto, Costinha, Hypérides, José Flávio, Emanuel, Ronaldo e Gil. Ao fundo: Cavalcanti, Neudete, Túlio, Nelson e Cleto
Ediberto, Ronaldo, Benedito, Oto e Costinha. Ao fundo: José Flávio e Emanuel.
Da direita para a esquerda: Ediberto, Ivens, Cavalcanti, Rezende, José Maria e o filho. Ernesto, de costas
Cleto, Ivens e Argos.
Comer ou não comer. Eis a questão... do Duarte.
Cavalcanti, Ivens, Ediberto, Ernesto e José Flávio.
Ivens, Ricardo, (?), Duarte e Argos.
Castro, Ernesto, Argos, Túlio, Rezende, Ricardo, Ivens, José Flávio, Cleto, Costinha, Neudete, Ediberto, Cavalcanti, Duarte e Guedes. Castro, Ernesto, Argos, Túlio, Rezende, Ivens, Cleto, José Flávio, Neudete, Ricardo, Cavalcanti e Costinha.
Castro, Ernesto, Argos, Túlio, Rezende, Ivens, Cleto, José Flávio, Ricardo, Neudete, Cavalcanti e Ediberto.
Castro, Ernesto, Argos, Túlio, Ivens, Ricardo, Rezende, Cleto, José Flávio, Costinha, Ronaldo, Neudete, Ediberto e Duarte.

Rezende, Cavalcanti, Ivens, Ediberto, Ernesto e José Flávio.

2003 - 35 ANOS DE FORMATURA
ENCONTRO NO MARINAS

Nelson, Cleto, Emanuel, Neudete, Costinha, Cláudio, José Maria, Dedé. José Flávio. Ricardo e Luciano Pamplona.


2004 - SESSENTA ANOS DO CLETO

DE BEM COM A VIDA

José Maria, Túlio, Neudete, Ivens, Duarte, Cleto, Ronaldo, Ricardo, Castro, Ernesto e Cláudio.
Cleto e Ivens
Ronaldo, Cleto, Ivens e Emanuel.
José Maria, Túlio, Neudete, Ivens, Ronaldo, Cleto, Ricardo, Castro, Ernesto e Cláudio.
Ivens, Ronaldo, Cleto, Ricardo e Castro.

Túlio, Neudete, Ivens, Duarte, Ronaldo, Cleto e Ricardo.
2004 - ENCONTRO NO MARINAS
Ronaldo, José Maria e Neudete. Fechine, Tarcísio e Guedes.
Ediberto, Ricardo, Ronaldo, José Maria e Fechine.
José Flávio e José Maria.
Neudete, Guedes e Ronaldo.
Neudete, José Maria e Ronaldo. Ricardo, José Maria, Ediberto, José Flávio, Fechine, Tarcísio e Duarte.
Tarcísio, Guedes e Fechine. José Maria, Neudete e Ronaldo. Duarte, ao fundo e Ricardo de costas.

Neudete, José Maria, Ricardo e Ediberto.
2005 - ENCONTRO NA ESCOLA
Cleto, Carlos Augusto e Benedito

A placa com o Código de Honra
2007 - ENCONTRO NO RICARDO

Ricardo, Aurélio, Guedes, Túlio, José Maria, José Flávio, Macedo, Benedito, Costinha e Patinhas
Ricardo, Cleto, José Maria, José Flávio e Castro
Ernesto, Benedito e José Maria, fazendo um tratamento de brilho na careca do Macedo.
Macedo, Duarte, Costinha, José Maria, Cleto. Guedes. Aurélio e Ricardo.
José Maria, Duarte e Cleto
Guedes, Túlio, Duarte, Cleto, José Maria, José Flávio e Castro.
Ernesto, José Maria, Emanuel e Castro. Macedo, ao lado.
Emanuel, Castro e Benedito.
Duarte, José Maria, Macedo, Aurélio, Cleto e Guedes.
Duarte. Guedes, Ernesto e Túlio.
Duarte e José Maria
Costinha, Ricardo, Patinhas e Hypérides.
Costinha, Patinhas, Duarte, Ricardo e Aurélio.

Aurélio, José Maria e Duarte
2008 - ENCONTRO NO OTO

Nelson, Emanuel, Oto, Ronaldo, Cláudio,Neudete, Gil, Túlio, Hugo, José Maria, José Flávio, Patinhas, Cleto, Rezende, Macedo, Augusto, Ricardo e Hypérides.
Oto e Cláudio
Gil, Patinhas, Cleto e Macedo.
Nelson, Emanuel, Oto, Cláudio, Ronaldo, Neudete, Gil, Túlio, Hugo, José Flávio, José Maria, Patinhas, Cleto, Rezende, Macedo, Augusto, Ricardo e Hypérides
Nelson, Emanuel, Oto, Cláudio, Ronaldo, Neudete, Gil, Túlio e Hugo
Cláudio, Ronaldo, Neudete, Gil, Túlio, Hugo, José Flávio, José Maria, Patinhas, Rezende, Cleto e Macedo.
Túlio, Hugo, José Maria, José Flávio, Ronaldo, Macedo, Cleto, Gil, Hypérides, Ricardo e Augusto. José Flávio, José Maria, Patinhas, Rezende, Cleto, Macedo, Augusto, Ricardo e Hypérides.
Nelson, Emanuel, Oto, Ronaldo, Cláudio, Neudete, Gil, Túlio, Hugo, José Maria, José Flávio, Patinhas, Rezende, Cleto, Macedo, Augusto, Ricardo e Hypérides.
José Flávio, Nelson, Cleto, Hypérides e Gil
Neudete, Ronaldo, José Maria e Patinhas.
Túlio, Hugo e Rezende.
Ricardo, Cleto, Costinha, José Flávio e Patinhas.
Hypérides, Oto, Cleto, Macedo e Ricardo Nelson, Hypérides, Oto, Macedo, Ricardo e Costinha.
Nelson, Hypérides, Macedo e Ricardo.
Nelson, Hypérides, Ricardo, José Maria, Costinha, José Flávio, Patinhas e Neudete.
Emanuel e José Flávio de costas, Hugo, Gil, José Maria e Ricardo.
Emanuel, Túlio e Gil
Cleto e Ricardo
Oto, Nelson e Hypérides
Emanuel, Túlio e Gil
Hypérides, Oto e Costinha
Hypérides, Oto, Costinha e Neudete.
Hugo, José Flávio, Emanuel, Túlio, Gil, Neudete, José Maria e Ricardo.
Macedo, Neudete, Costinha, Hypérides. De costas, Túlio e Emanuel.
Macedo, Oto, Neudete, Hypérides, José Maria, Ronaldo, Nelson, Hugo, Ricardo, José Flávio, Emanuel, Túlio, Costinha e Gil.
Neudete, Costinhas, José Maria, Hypérides, Ronaldo. De costas: Emanuel e José Flávio.
Macedo, Oto, Neudete, Hypérides, José Maria, Ronaldo e Hugo. De costas: Gil, José Flávio, Túlio e Emanuel.
Oto, Neudete, Hypérides, José Maria, Ronaldo, Nelson, Hugo. De costas: Gil, Costinha, Túlio, Emanuel e José Flávio.

Oto, Neudete, Hypérides e José Maria.
2008 - FESTIVIDADES DOS 40 ANOS DE FORMATURA
ENCONTRO NA REITORIA

Benedito, Emanuel, Róseo. Ivens, Castro, Costinha, Marcos, Cleto, Cavalcanti, Patinhas e Tadeu.


Rezende e os irmãos Brasil, Hugo e Gil.


ENCONTRO NA ESCOLA
Cleto fazendo os últimos preparativos para descerramento das placas de 1968 e 2008

A espera.

A réplica do convite, a placa dos 30 anos e as placas de 1968 e 2008 antes do descerramento
Benedito e Cleto fazendo os últimos ajustes

Cleto iniciando a solenidade
A Pastora e a sua mensagem de agradecimento e de fé.
A Pastora e o Padre numa palavra ecumênica.
O Padre levando a palavra de Deus
Emanuel, José Maria, Aloizio, Jair, Cleto e professores,
Macedo, Dr. Alexandre Diógenes, Benedito, Neudete, Iran, Vianney, Hypérides, Patinha, José Maria, Gil, aloizio, Jair, Ivens, Ernesto, Róseo entre outros.
Macedo, Dr. Alexandre Diógenes, Benedito, Neudete, Iran, Vianney, Hypérides, Patinhas, Luciano, Augusto, Ivens, Ernesto, Róseo, entre outros.
Jair, Aloizio, José Maria e Emanuel, entre outros.
Augusto, Luciano, Dr. Hugo Alcântara, Neudete, Nelson, Róseo, Iran, Macedo, Hypérides, entre outros.
Emanuel, José Maria, Gil, Aloizio e professores.
Cleto e o atual Diretor da Escola descerrando a placa.
A Placa de 1968, voltando ao seu merecido lugar 40 anos depois. Abaixo, a placa comemorativa dos 40 anos.
Foto histórica da placa no antigo prédio da Escola, minutos antes de ser arrancada pelo Exército. Percebam a posição respeitosa dos colegas José Maria, Bartolomeu, Samir, Neudete, Ediberto, Rezende e Carmelo. Dois deles, Bartolomeu e Samir, não viveram para presenciar o retorno da Placa quarenta anos depois.
A Placa comemorativa dos 40 anos.
A Placa comemorativa dos 30 anos.
Benedito
Hypérides
Patinhas

Patinhas
Luciano
Professor Minton Ferreira proferindo sua aula.

José Maria, o guardião da placa, iniciando a sua limpeza.
Rezende reencontrando a placa 40 anos depois.
Macedo prestando a sua homenagem à placa

Ivens limpando a placa que pensava ter sido derretida pelo Exército.
Rezende, Ernesto, Patinhas, Róseo admirando a placa e todo o simbolismo.
A Turma da Mecânica orgulhosa diante das placas: Vianney, Marcos, Jair, Aloizio, Eliardo e Gil.
Luciano, Aloizio, Marcos, Eliardo, Rezende, Macedo, Jair, Gil, Vianney
Professor Alexandre Diógenes
Hypérides fazendo a entrega da placa ao Dr. Alexandre Diógenes.
Dr. Alexandre, Hypérides e a Placa.
A Placa do Dr. Alexandre.
Os professores que compareceram à Escola.



Augusto, Luciano,Nelson, Emanuel, MaCedo e IvensAugusto, Luciano, Nelson, Emanuel, rezende e Ivens.
Róseo, Patinhas, Gil e Benedito. Aparecem Luciano e Neudete.
Nelson, Ivens, Dr. Alexandre, Benedito, Gil e Ernesto.
Rezende, Emanuel, Róseo, Augusto, Nelson, Ivens, Dr. Alexandre e Benedito.
Macedo, Aloizio e Patinhas
Hypérides, Emanuel, Ernesto e Benedito.
Hypérides, Emanuel, Ernesto e Benedito.
Ernesto, Hypérides, Emanuel e Benedito.
Iran e Vianney
Róseo, Eliardo, Benedito, José Maria, Emanuel, Nelson, Patinhas, Ernesto, Marcos, Iran, Vianney, Neudete, Macedo, Ronaldo, Cleto, Aloizio, Jair, José Flávio, Gil, Ivens, Luciano, Augusto e Hypérides.
Róseo, Eliardo, Benedito, Rezende, José Maria, Emanuel, Nelson, Patinhas, Ernesto, Iran, Vianney, Marcos, Neudete, Macedo, Ronaldo, Cleto, Aloizio, Jair, José Flávio, Gil, Ivens, Luciano, Augusto e Hypérides.
Róseo, Eliardo, Benedito, José Maria, Emanuel, Nelson, Patinhas, Ernesto, Vianney, Iran, Neudete, Ronaldo, Cleto, Aloizio, Jair, José Flávio, Gil, Ivens, Rezende, Luciano, Augusto e Hypérides.

Róseo, Eliardo, Benedito, Rezende, José Maria, Emanuel, Nelson, Patinhas, Ernesto, Iran, Vianney, Macedo, Neudete, Macedo, Ronaldo, Cleto, Aloizio, Jair, José Flávio, Gil, Ivens, Luciano, Augusto e Hypérides.

Continua...